Admiramos bastante a inteligência do professor Roberto Mangabeira Unger que, mesmo distante do país, costuma ser certeiro em seus diagnósticos sobre o Brasil. Aliás, Mangabeira costuma ficar numa ponte aérea entre o país e os Estados Unidos, onde é professor da prestigiada universidade de Harvard, onde entrou com apenas 23 anos de idade, fato que costuma orgulhá-lo bastante. Já esteve aqui em Pernambuco, mais precisamente no Programa de Mestrado e Doutorado em Ciência Política da UFPE, onde proferiu uma palestra bastante prestigiada à época. Num dos governos Lula ocupou o Ministério de Assuntos Estratégicos, pasta bem ao seu estilo, condizente com sua inteligência.
Houve uma época em que esteve apoiando o ex-governador Leonel Brizola, apontando que ele seria o único que poderia sacudir as nossas estruturas, fato tão temido pelos militares, que, segundo dizem, encontraram em Lula esse cara com apoio popular, mas que não ameaçava os interesses do mainstream da Faria Lima. Segundo Mangabeira Unger, o país passa por um momento de apagão ou escuridão. Bolsonaro nos atirou nas trevas da ameaça autoritária e Lula não está fazendo um bom governo. Não está preparado, por exemplo, para lidar com a mentalidade pequeno burguesa que aflora entre segmentos dos trabalhadores. Bordões como A Luta Continua, Companheiro! ficaram no passado. A pregação evangélica da prosperidade, hoje, é bem mais atrativa para os pobres da periferia.
De fato ele tem razão. As últimas prisões e indiciamentos realizados pela Polícia Federal indicam o quanto havia de artefatos autoritários instalados no sistema político. Lula, por outro lado, perdeu completamente o timing neste terceiro mandato, enredado com dificuldades internas e externas, que corroem a sua gestão. Nesta questão do ajuste fiscal, por exemplo, apenas como referência, para não adentrarmos em outras questões, o que se sugere que vai ocorrer é uma provável desobediência do morubixaba às recomendações de sua equipe econômica, o que, aliás, já vem ocorrendo. Fazendo uma média ponderada com sua base mais renhida dentro e fora do governo, ele vai acabar desagradando aos dois lados. Aos puros-sangues petistas e ao mercado.
Acreditamos que as medidas e os cortes, que deverão seguir ao contingenciamento dos R$ 5 bilhões já anunciados - danado que Haddad falou em R$ 6 bilhões, mas a Casa Civil anunciou R$ 5 bilhões - não serão suficientes. Por outro lado, os cortes deverão atingir áreas nevrálgicas, como o sistema de aposentadoria dos militares, o que significa, necessariamente, mais desgaste político. É. Como afirma o oráculo de Harvard, está difícil encontrar um luz nesta escuridão. A entrevista do professor Mangabeira Unger foi concedida à CNN.
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