Crédito da Foto: Revista Algo Mais. |
Fazia algum tempo que não publicávamos por aqui matéria de outros veículos de comunicação. No ano em que se comemora o centenário do escritor Franz Kafka, não resistimos, porém, em publicar uma matéria assinada por Leonardo Peterson Lamba, na edição deste mês de novembro do Le Monde Diplomatique Brasil. Trata-se de uma carta inédita do escritor tcheco à sua amada Milena, onde ele fala de desejo ou, precisamente, do medo do desejo. Kafka é um escritor sobre o qual há inúmeras controvérsias e este texto de Leonardo Peterson, na realidade, põe, como se diz em regiões interioranas, mas lenha na fogueira dessas polêmicas.
Outro dia, líamos uma nova biografia do autor de O Processo, onde o biógrafo desconstrói alguns eventuais mitos acerca do comportamento supostamente muito reservado de Kafka. Tinha amigos, que costumavam se reunir num clube literário, frequentado por ele com relativa regularidade, e padrões de relacionamentos normais na empresa de seguro onde trabalhava, uma vez que, necessariamente, precisava manter contatos regulares com os clientes da seguradora. As Cartas a Milena já mereceram inúmeros estudos, pois é um dos momentos em que Kafka talvez mais se revele, merecendo todo tipo de análise, inclusive as psicanalíticas, além, claro, das literárias.
Um fato que nos chama a atenção é o expressivo número ensaístas brasileiros de matriz marxista que se debruçaram sobre a obra de Kafka, inclusive aquele que é considerado o maior deles, Carlos Nelson Coutinho. Algumas abordagens dos textos do autor tcheco, sugere-se, poderiam ser vinculadas à teoria marxista. Kafka também não era uma unanimidade. Era endeusado pelo poeta argentino Jorge Luis Borges, mas mereceu observações ácidas de críticos literários. Um dos pontos observados é a dispersão e inconclusão dos seus textos, reunidos com enorme esforço pelo seu amigo e biógrafo Max Brod.
Lendo o texto de Leonardo, voltamos a lembrar dos velhos tempos da Livro 7, aqui no Recife, onde sentávamos para folhear os livros do autor, numa prosa com Gilvan Lemos, acompanhado de uma batida de maracujá preparada pelo próprio Tarcísio Pereira. Bons tempos. Nessas conversas, o escritor de São Bento do Una, que residia sozinho no centro da cidade, orgulhava-se de sua amizade com Osman Lins. Gilvan nunca deixou a província, embora tivesse sido aconselhado por Osman a fazê-lo, para que houvesse um reconhecimento do seu trabalho. Na Livro 7 havia uma estante apenas com os livros do autor tcheco, que líamos e colecionávamos com avidez. Em nossa biblioteca temos algumas obras raras, hoje difíceis de ser encontradas.
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