Somente mais recentemente a mãe de Fernando Santa Cruz, Elzita Santa Cruz, naquele que é tratado como um dos casos mais emblemáticos de desaparecidos durante a ditatura militar, depois de uma longa batalha, no curso das investigações da Comissão da Verdade, recebeu a informação de que seu filho havia sido sequestrado, torturado e morto. Fernando fora sequestrado aqui em Olinda, nas proximidades do Mercado Eufrásio Barbosa, submetido às torturas, morto e queimado nos fornos de usinas de açúcar desativados no Rio de Janeiro, que era uma prática comum da ditadura para dar sumiço aos corpos. Esta prática dos militares brasileiros durante o regime militar, dada a sua recorrência, como se presume pela fala do algoz, daria um documentário sobre tais estertores, como ocorre no Chile e na Argentina, onde várias produções já foram realizadas tratando dessa questão. Um dos últimos é "Translados", que trata dos famosos voos da morte, uma prática ritualística da ditadura argentina, que consistia em atirar em alto mar os opositores do regime.
Na República Dominicana, depois que o sujeito era submetido aos "cuidados" de Johnny Abbles Garcia, se sobrevivesse, o que era muito improvável, era atirado aos tubarões numa praia conhecida do país. Esses horrores mencionados acima talvez sejam suficientes para nos indignarmos com esses regimes de exceção e empreendermos todos os nossos esforços em defesa das instituições democráticas. Não se pode brincar com coisa muito séria e da maior gravidade. Uma pergunta que vem suscitando muitas polêmicas recentemente é a discussão sobre as razões que levaram ao fracasso a tentativa de golpe de estado que estava sendo urdida nos corredores de Brasília, um pouco antes da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que previa, entre outras coisas, até a sua morte.
Conforme antecipamos antes, talvez não tenhamos informações tão precisas sobre o assunto, dando-se o direito até às versões mirabolantes e folclóricas, como a de um Kid Preto, envolvido nas tramoias golpistas, que não conseguiu um taxi para concretizar a missão, tendo que abortá-la. Claro que isso fica no campo do folclore. Na realidade, há três razões principais para o fracasso daquelas tessituras: a) A armação não contou com o apoio de amplos setores da cúpula militar, oficiais de alta patente, em postos de comando, que se recusaram a disponibilizar suas tropas para moer a engrenagem golpista. Embora um desses comandantes tenham colocado seus fuzileiros à disposição dos golpistas. Os militares legalistas, segundo se sabe, não apenas se colocaram contra, mas moveram-se, igualmente, no sentido de evitar adesões da caserna ao intento golpista; b) Gato escaldado tem medo de água fria. Como o governo anterior contribuiu para criar um ambiente propício à sublevação da ordem, atores minimamente mais experientes do staff de Lula, temendo eventuais badernaços institucionais, trataram, de imediato, de legitimar o novo governo eleito, através do reconhecimento do Poder Legislativo. Não havia apoio parlamentar ao golpe, embora a oposição tenha feito a maioria congressual. Há, entre os informes vazados envolvendo os golpistas, a premissa de que faltou articulação neste sentido; O Tio Sam, de imediato, através do presidente Joe Baden, reconheceu o governo eleito do presidente Lula, o que teria desestimulado as tratativas em contrário. O sonho de todo militar brasileiro, como se sabe, é participar das chamadas manobras conjuntas com tropas americanas, ou participar de algum treinamento oferecido pelos militares dos Estados Unidos. É sempre de bom alvitre ditaduras latino-americanas de direita ou extrema direita contarem com o apoio do Tio Sam. É uma tradição. Já naqueles tempos sombrios de 60\70 havia até uma escola de formação de torturadores no Panamá, frequentada pelos algozes tupiniquins. Alguns deles partiram para o outro plano palitando os dentes e jogando dominó com os amigos, aos domingos. Em tais condições, ainda há quem proponha PL de Anistia.
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