Um dos grandes problemas de nossa democracia política diz respeito às profundas desigualdades sociais que o país ainda enfrenta, naquilo que os especialistas denominam de democracia substantiva ou econômica. Esta relação é tão orgânica que o cientista político polonês Adam Przeworski, em suas pesquisas, chega a concluir que a renda per capita é um fator determinante para a sobrevivência de um regime democrático. Ou seja, se há uma boa distribuição de renda para a população, as chances das aventuras golpistas ou retrocessos autoritários diminuem sensivelmente. Os governos petistas podem se orgulhar de ter dado uma grande contribuição à democracia do país neste sentido.
O programa de cotas, por exemplo, que permitiu o acesso ao ensino superior de expressivos contingentes da população pobre brasileira, ao longo desses 524 anos de Brasil, foi o único indicador onde se verificou mudanças significativas em relação à população negra. Na realidade, o único indicador onde esta população avançou foi no acesso ao ensino superior. Um feito gigantesco em termos de combate às desigualdades. Curioso que um grande jornal paulista, ao se debruçar sobre este indicador, para não dar os créditos à gestão petista, se refere genericamente à década. Em 2023, 8,7 milhões de pessoas deixaram a pobreza no país, conforme dados recentes do IBGE, como resultado concreto de melhoria dos níveis de emprego e igualmente decorrente dos programas redistributivos de renda.
O pacote de ajuste fiscal, conforme discutimos ontem por aqui, deixou 90% do mercado insatisfeito. Dissemina-se a falsa versão de que o Governo Lula3 tenha algo contra o setor produtivo. Por outro lado, é nítida a opção do PT em continuar com a sua política econômica histórica, independentemente do humor do mercado financeiro. Agora, é preciso dizer que há equívocos nessa linha de raciocínio, que pode conduzir o país a uma recessão. O plano é uma colcha de retalhos, uma vez que atinge cortes que, igualmente, desagradaram bastante a base de sustentação histórica do petismo, daí nossa conclusão de que tanto a Faria Lima quanto o Beco da Fome não ficaram plenamente satisfeito com as tesouradas.
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