Levaram para a doutora Dilma, e o comissário Alexandre Padilha discute
em Brasília, um pacote que, na marquetagem, destina-se a melhorar o
acesso do andar de baixo aos planos de saúde. Na prática, trata-se de um
estímulo à inépcia empresarial e à má-fé de quem vende serviços que não
pode entregar.
Os repórteres Natuza Nery, Johanna Nublat e Valdo Cruz revelaram que até agora ele tem dois pilares:
1) Deverá reduzir os impostos que incidem sobre o setor.
2) Deverá oferecer financiamentos públicos para a melhoria dos serviços hospitalares privados.
Com isso, os maganos prometem ampliar a rede dos planos, reduzir seus preços e melhorar o atendimento.
Será o samba do comissário doido. Uma coisa nada tem a ver com a outra,
mas todas embutem um objetivo: avançar sobre a bolsa da Viúva.
Os planos de saúde vão bem, obrigado. Têm 48,7 milhões de clientes e no
ano passado faturaram R$ 83 bilhões, ervanário equivalente à arrecadação
federal de novembro. Trata-se de um setor que cresceu 50,6% desde 2003.
A maior operadora desse mercado é a Amil. Seu dono, Edson Bueno, entrou
na lista dos bilionários da revista "Forbes" com um patrimônio de US$
2,2 bilhões (sua ex-mulher e sócia tem outros US$ 2 bilhões). A empresa
foi vendida em outubro passado para o grupo americano UnitedHealth por
US$ 3,2 bilhões.
A Viúva dá benefícios tributários aos gastos dos cidadãos com saúde.
Nada mais justo, mas isso significa uma renúncia fiscal estimada em R$
15 bilhões anuais. O problema dessa atividade comercial não está no
excesso de impostos, muito menos na falta de financiamentos. No ano
passado a ANS suspendeu temporariamente a venda de 396 planos de 56
operadoras porque elas simplesmente descumpriam os contratos. Descumprem
os contratos porque vendem o que não entregam. Existem planos de saúde
de R$ 56 mensais e, nos corredores da privataria, há um projeto de venda
maciça de planos a R$ 90. O truque é simples: a rede privada fatura e,
quando o freguês adoece, as linhas finas do contrato mandam-no para a
rede pública. Desde 1998 as operadoras de planos conseguiram esterilizar
as iniciativas destinadas a fazer com que o SUS seja ressarcido pelo
atendimento à clientela do setor privado. Para isso, usam poderosas
equipes de advogados, parlamentares e uma junta de médicos pessoais dos
mandarins do Planalto que, quando adoecem, fogem da rede pública como
Asmodeu da cruz.
Sem o SUS, não existe viabilidade financeira para um plano de R$ 90. Com
o SUS, pode-se vender até plano de R$ 10. Quem conhece o mercado
sustenta que não é possível manter um plano privado decente por menos de
R$ 500 mensais.
Se a doutora Dilma e o comissário Padilha quiserem melhorar a saúde
pública, podem baixar impostos e emprestar dinheiro da Viúva a juros
camaradas, mas devem começar a discussão do pacote com uma minuta de
medida provisória ordenando o ressarcimento do SUS. Numa conta
conservadora, com novas regras, poderão arrecadar até R$ 10 bilhões. Em
2011 a ANS conseguiu receber das operadoras apenas R$ 82,8 milhões.
(Dirigentes da agência foram multados individualmente em R$ 5.000 pela
preguiça constatada no trato dos processos de cobrança.)
Pelo andar da carruagem, o samba do comissário doido serviria para
piorar uma situação que é ruim, enriquecendo maganos e polindo o
prestígio de doutores amigos dos reis. Essa é uma espécie que se
degradou. Já não se fazem mais médicos da corte como o conde de Mota
Maia, que cuidava da família imperial. Quando d. Pedro 2º tinha suas
crises de diabetes, Mota Maia dormia num quartinho próximo. O conde
acompanhou o paciente para o exílio e assistiu-o até a morte, dois anos
depois, em Paris.
Jornalista Elio Gaspari, em sua coluna do Jornal Folha de São Paulo
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