A disposição do PSB de devolver a Dilma Rousseff os cargos que ocupa
no governo é inversamente proporcional à evolução da candidatura de
Eduardo Campos à sucessão de 2014. No comando de dois ministérios, o
partido do governador de Pernambuco decidiu que não vai abrir mão de
suas posições antes de setembro.
A relação de Eduardo com Dilma está crivada de ironias, além da
ironia maior de a presidente ter que tratar como aliado o adversário que
se arma contra ela refugiado na trincheira do governismo. Neste sábado,
ao formalizar a dança de cadeiras que vitaminou na Esplanada o PMDB e o
PDT, Dilma soou assim:
“Eu aprendi que, numa coalizão, você tem que valorizar as pessoas que
contigo estão, que são companheiros que acompanham a gente em uma
jornada diuturna e que, portanto, têm que estar com a gente nos bons e
nos maus momentos, e nós com eles”.
Aplicadas ao PSB, as palavras de Dilma fazem da lealdade política uma
caricatura da sinceridade. Eduardo afirma que ainda não decidiu se
disputará a cadeira de Dilma. E ela finge que acredita. Faz isso por
saber que, numa eleição em dois turnos, não convém converter aliados
implícitos em inimigos explícitos.
Um dos ministros do PSB, o pernambucano Fernando Bezerra, foi
acomodado na pasta da Integração Nacional por indicação do próprio
Eduardo. O outro, José Leônidas Cristino, foi alçado à pasta dos Portos
sob apadrinhamento do governador do Ceará, Cid Gomes, e do irmão Ciro
Gomes.
Ao debater internamente a hipótese do desembarque, Eduardo e seus
operadores concluíram que a saída da dupla de ministros teria o peso de
um lançamento formal da candidatura presidencial do PSB. No gogó,
alega-se que o partido é contra a antecipação do calendário eleitoral.
Na prática…
Pelo menos três dos seis governadores do PSB rogaram a Eduardo que
retarde a formalização da candidatura. Por quê? Um deles explicou ao
repórter: “Neste segundo ano da gestão Dilma, Brasília tem sido mais
generosa com os Estados. Falo de verbas. Não é prudente cruzar um
palanque no caminho dos convênios.”
Além de Pernambuco, o partido governa o Espírito Santo (Renato
Casagrande), o Ceará (Cid Gomes), o Amapá (Camilo Capiberibe), a Paraíba
(Ricardo Coutinho) e o Piauí (Wilson Martins). Para alguns desses
Estados, dependendo do volume, o dinheiro federal não traz prosperidade.
Mas leva.
Normalmente acomodatício, o estilo de Eduardo ferveu no final de
fevereiro. Juntaram-se no noticiário três faíscas: Lula lançou a
recandidatura de Dilma, Ciro Gomes disse que o PSB deveria apoiá-la, e o
petismo borrifou na atmosfera um veneno: Bezerra, o ministro de
Eduardo, se filiaria ao PT.
Numa reunião com seus operadores, em Recife, Eduardo ameaçou chutar o
balde. Foi contido. Um dos participantes da reunião jogou sobre a mesa
um chiste de Miguel Arraes, avô de Eduardo: quem engole um boi não pode
se engargar com uma mosca. Recordou-se a Eduardo que, no seu caso, o boi
já foi mastigado.
Para justificar a retenção dos ministérios e de todos os cargos
federais que vêm embutidos neles, o PSB construiu a tese segundo a qual
os postos foram obtidos não por conta do futuro, mas pelo suporte à
candidatura de Dilma em 2010. Assim, se estiver incomodada, a presidente
é quem deve acionar a caneta.
De resto, Eduardo costuma reproduzir conversa que teve com a própria
Dilma antes de Lula adiantar a folhinha. O governador conta ter dito à
presidente que, se tivesse que decidir hoje, a maioria do PSB aprovaria
sua candidatura presidencial. “Mas nós vamos esperar 2014”, disse
Eduardo a Dilma segundo seu próprio relato.
A conversa ocorreu no Alvorada. A anfitriã, teria reagido com
naturalidade. Renovou o “respeito” que nutre pelo interlocutor e
concordou em jogar a definição para mais adiante. Enquanto isso, Eduardo
percorre a cena política como um governista de dois gumes. Preserva
Lula e diz que é possível “fazer muito mais” do que Dilma foi capaz de
realizar.
(Publicado originalmente no blog do josias de Souza, portal UOL)
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