Por José Luiz Gomes
Adam Przeworski é um cientista político polonês muito respeitado na academia. Uma de suas preocupações de estudos foi o comportamento dos partidos socialistas europeus no contexto de um sistema político hegemonizado pela democracia representativa burguesa. Segundo seus estudos, essas partidos foram, gradativamente, institucionalizando-se, entrando nessas regras do jogo, isolando os radicais e, obviamente abdicando de algumas teses e incorporando outras. Do ponto de vista estritamente eleitoral, contingenciado pela competição imposta, logo perceberiam que o voto "politicamente orientado" não seria suficiente para conduzi-los ao poder. Isso os obrigou a acenar para novos segmentos sociais, negociar com o grande capital etc. Aqui no Brasil, um pouco orientado pelos estudos de Przeworski, o também cientista político do IUPERJ, Wanderley Guilherme dos Santos, criou a expressão a "Lei de Ferro da Competição Eleitoral", que tenta explicar esse fenômeno, afirmando que manter-se numa postura política identificada tão somente com aqueles estratos sociais que lhes dão suporte, em médio prazo, inviabilizaria eleitoralmente essas agremiações. Por esse raciocínio partidos como o PSOL e o PSTU, em algum momento, irão se deparar com essa dilema, como já ocorreu com o PT num passado recente. Outro estudo muito interessante de Przeworski é sobre a definição do voto do eleitor, consoante a escolha racional. Ele levanta várias hipóteses. Uma delas em partilhar vem a calhar com o momento político pelo qual estamos passando, com a ascensão da candidata Marina Silva nas pesquisas de intenção de voto. Pelo Datafolha, Marina já se encontra em empate técnico com Dilma Rousseff, ambas com 34%. Como seria, por exemplo, o voto do evangélico pobre, beneficiário dos programas de distribuição de renda do Governo Federal? O que pesaria mais na definição do seu voto. Não conheço estatística informando qual o montante de evangélicos beneficiários desse programa, mas, em todos os levantamentos realizados até agora, há o indicativos de que eles tendem a votar com a fé e não com a boca. A candidata Marina consegue abrir uma vantagem expressiva sobre Dilma no segmento evangélico. Como diria Michel Zaidan, até as nuvens se movem. Imagina as tendências de intenções de voto. Ainda é um pouco cedo para dizer o que vai ocorrer daqui para frente, mas, no momento, a acriana desponta como um tsunami nessas eleições. Não há como minimizar esse fenômeno. Ela preocupa - o que seria natural - os inquilinos do Palácio do Planalto. Mesmo inconsistente, eivada de contradições, matreiramente, a acriana acena para inúmeros segmentos sociais. Associou-se ao grande capital nacional; aparou as arestas com o capital internacional; foi adotada pelo elite e pelos estratos sociais de classe média anti-petista; galvanizou a comoção com a morte do ex-governador Eduardo Campos; sai forte junto aos segmentos evangélicos, sobretudo os pentecostais e neo-pentecostais; com a consequente inviabilidade de Aécio Neves, o conservadorismo brasileiro parece ter encontrado seu candidato, colocando seu aparato midiático (de)formador de opinião ao seu serviço, independentemente das consequências que poderão vir pela frente. Tudo é válido para quebrar a hegemonia de poder da coalizão petista. Mesmo com essa cobra de não sei quantas cabeças, capaz de ressuscitar a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber; mesmo evangélica, alardear que legalizará o casamento entre pessoas do mesmo sexo, acenando para um segmento com o qual ela poderia ter muitas arestas, o LGBT; incorporar uma espécie de "messianismo de corte ultra-liberal" etc. Que nos perdoem seus eleitores, mas essa aventura não nos levaria ao paraíso. Está mais próxima de um Jim Jones do que de Cristo.
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