Marina pode atropelar os tucanos?
publicada sexta-feira, 15/08/2014 às 13:42 e atualizada sexta-feira, 15/08/2014 às 13:42
O sonho dos tucanos (leia aqui) é que Marina Silva apareça forte na próxima pesquisa, mas que depois seja desidratada para abrir passagem a Aécio Neves. Falta combinar com os eleitores.
por Rodrigo Vianna
Com o olhar compungido, Marina Silva surge numa sala apertada, para o primeiro pronunciamento depois da morte de Eduardo Campos. Não fala de temas eleitorais, oferece “apenas” conforto à família do candidato morto. Não tem pompa nem pose, não quer parecer uma “estadista”…
Assisto à cena na Redação. Uma colega, menos afeita aos temas da política, pergunta: “quando será que ela começa a campanha pra valer? Precisa esperar uns dias, né?”.
Outro jornalista, mais experiente, responde rápido: “a campanha dela já começou; isso aí que você tá assistindo é o primeiro pronunciamento de campanha”.
Poucas horas depois, converso com outro colega – raposa velha em coberturas eleitorais: “o que você achou da fala da Marina?”. E ele: “importa pouco o que ela disse; importa muito mais a maneira como aquilo foi dito”.
Marina Silva não precisa falar de política pra fazer política. Essa é a grande força da candidatura dela. Não sei se Marina surgirá na faixa dos 15%, ou acima dos 20% na próxima pesquisa DataFolha (que será divulgada entre domingo e segunda-feira). Mas sei que ela tem uma boa chance de encampar o discurso da “não-política”. Um discurso que é – claro – tudo menos “não-político”.
Eduardo Campos enfrentava enorme dificuldade para conquistar esse eleitor desesperado por algo “novo”. Aécio, então, nem se diga…
Esse era o grande nó da campanha em 2014. Um terço dos eleitores está fechado com Dilma; outra parcela (bastante barulhenta, mas que reúne pouco menos de um terço do total) se dispõe a votar em qualquer um contra o PT; só que há ainda 30% dos eleitores que não querem PT mas também não topam PSDB. Esse é o eleitor desiludido “com tudo que está aí”.
Em 1960, esse clima de “mar de lama” terminou em Janio. Em 1989, a desilusão terminou em Collor.
Em 2014, Eduardo achou que poderia ser a terceira via, com um discurso moderado, a meio caminho entre PT e PSDB. Não entendeu, talvez, que esse terço “desiludido” dos eleitores não quer meio-termo, não quer meio do caminho. Quer alguém que seja (ou pareça) outro caminho.
(Publicado originalmente no site O Escrevinhador, do Jornalista Rodrigo Vianna)
Nenhum comentário:
Postar um comentário