Escrevo esta carta para agradecer a gentileza da publicação do meu modesto comentário sobre o velório e o funeral do ex-governador de Pernambuco, a quem conheci de perto e fui várias vezes convidado por ele e seus assessores graduados para colaborar com o PSB e seu programa, tendo, inclusive,participado de evento (sobre a juventude) de campanha. Como você sabe (assim espero) sempre fui um duro crítico da família Arraes, do ex-governador Jarbas Vasconcelos (que me processou por duas vezes, por críticas a sua gestão) e do falecido.Acredito que o Estado de Pernambuco não é mais uma capitania hereditária governada por um Cavalcanti. A Constituição brasileira garante o direito de crítica, a liberdade de expressão e o direito ao contraditório, mais ainda quando se trata da administração republicana. A gestão pública não é um negócio particular, de família, de uma oligarquia familiar ou partidária que pode fazer o que quer da fazenda pública e não dá satisfação a ninguém. Existem tipos penais, no direito administrativo e eleitoral, sobre o mau uso dos recursos públicos, a intransparência da gestão pública, a renúncia fiscal, contratos e licitações lesivos ao interesse público, o nepotismo etc.
Lamento muito que a imprensa de Pernambuco não tenha (ou não tenha se dado) a liberdade de fiscalizar e denunciar os crimes contra a administração pública, por interesses ou por medo. Para o seu conhecimento, foram os correspondentes dos Jornais do Sul e Sudeste (Veja, Folha de São Paulo, Piauí, Globo e Estado de São Paulo), que tiveram a liberdade de ler o livro crítico sobre a obra administrativa do ex-governador e fazer perguntas e indagações sobre ele. Fora do aconchego jornalístico de Pernambuco, a mídia não sabe quem é o personagem, desconhece o seu perfil e sua ação político. Por isso que procuram os críticos independentes, que não recebem jetons ou contracheque, nem tem parentes e apaniguados no governo do Estado. Você não faz ideia do que os correspondentes dizem quanto a transparência e a liberdade de acesso e de crítica ao ex-governador. Ouvi coisas em que não acreditei!
A sua iniciativa de publicar, com erros - pois tinha lhe enviado outro texto corrigido- o meu modesto comentário sobre necrofilia política ou o banquete totêmico que terminou sendo um ato fúnebre - com o apoio do governo estadual - que é do mesmo partido- transformou o funeral em espetáculo, com carros de som na rua chamando o povo a participar da cerimônia, prometendo água mineral a quem fosse, toldos para proteger da chuva, a interdição de ruas e do próprio cemitério,de Sto. Amaro! Você há de convir que quem transforma sua dor e seu luto em "luta política" faz do funeral um ato político-eleitoral, aproveitando-se das circunstâncias, e está sujeito a críticas de todo tipo. Não há necessidade de pedir licença para publicar uma crítica ao despudor e a discrição.
Pergunto eu a você: por que a família de ex-governador não respeitou a minha dor, quando perdi o meu querido pai, e enviou insistentemente mensageiros a minha casa, para eu ajudá-lo na montagem de sua equipe e de seu programa. Não respeitou sequer a missa de sétimo dia do falecimento do meu genitor. Tive que dizer que não permaneceria com ele e seus assessores, pois tinha que prestar essa homenagem ao meu pai.
Pior ainda foi a morte do meu sogro, num hospital administrado pelo IMIP, que leva o nome de Miguel Arraes. Imperícia médica, negligência, falta de equipamentos adequados na UTI, foi isso que o coitado encontrou no hospital. E no entanto, nem sequer o Secretário de Saúde se dignou a procurar saber o que tinha havido.
De dor, perda e luto em família, eu entendo e respeito. Mas tem famílias que não sabem sentir essa dor, em silêncio, com discrição. Fazem da dor um trampolim para os interesses políticos do seu grupo ou da sua oligarquia. Como ateu e materialista, me solidarizo com a morte do ex-governador. Mas como ser humano, não posso aprovar essa necrofilia política, que espetaculariza a morte de parentes, com o objetivos de extrair vantagens para si e os seus.
Peço sua compreensão por esse desabafo, que não vai se encerrar aqui. Todos que me entrevistarem sobre o ex-governador ouvirão as minhas críticas e minha desaprovação: deslealdade e ambição, defeitos difícil de serem perdoados.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
Nota do Editor: Nossa integral e absoluta solidariedade, professor.
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