Não é muito comum
acompanharmos o programa Conexão Manhattan, transmitido pela Globo News, mas,
em razão da presença do cientista político José Álvaro Moisés, resolvi
acompanhar o programa de ontem, dia 18. A linha editorial do Programa todos
conhecem, embora algumas situações fujam ao controle, como entrevistados com um
grau de altivez e independência que costumam embaraçar os repórteres.
Atualmente, José Álvaro Moisés é professor da USP e foi, durante um período de
sua vida, muito ligado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Salvo algum
engano, participou de sua assessoria.
A grande questão posta era a última
pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, realizada antes mesmo do funeral do
ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência da República, Eduardo
Campos. Em analogia às pesquisas de boca de urna, essa pesquisa ficou
popularmente conhecida como pesquisa de boca de cova, merecedora de muitas
críticas por parte da imprensa. A pesquisa tentou aferir como o eleitorado
iria se comportar diante da morte do ex-governador. Quem herdaria o seu espólio
político, sobretudo com a sinalização clara de que Marina Silva(Rede) poderia
substituí-lo na cabeça de chapa? Como ficariam Aécio Neves e Dilma Rousseff
diante desse novo contexto? Apesar de Marina Silva aparecer bem na fita - com percentual que a coloca acima de Aécio Neves - o
cientista político Álvaro Moisés sugere algumas ponderações. Há, de fato, uma
grande comoção popular com a morte do ex-governador e isso, no Brasil, é um
dado que costuma interferir nas eleições. Lembra o professor que o Golpe Civil-Militar
no Brasil foi adiado por 10 anos, em razão da morte trágica do ex-presidente
Getúlio Vargas. Foram os mesmos militares que derrubaram o ex-presidente João
Goulart.
Outro aspecto é que o perfil de Marina Silva reúne as condições de
galvanizar essa comoção, sobretudo por sua figura aparentemente frágil, de olhos de ressaca,
mansa, franzina, franciscana, possivelmente à lá dona Sebastiana. Soma-se a isso
o caráter de religiosidade que sempre esteve afeito à sua figura. Por outro
lado, existem uma série de outras questões embaraçosas que a candidata precisa
enfrentar nessas eleições, o que pode determinar sua boa performance ou não.
Exige-se, portanto, ponderação sobre a sua situação aparentemente confortável
na pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha. Vamos aos fatos: a) Eduardo
Campos era o grande articulador político da aliança PSB/Rede. Em vários
momentos, nas quadras regionais, precisou aparar algumas arestas internas com a sua
companheira de chapa, sempre com o propósito de costurar alianças locais. Como ficariam essas divergências regionais – em colégios
eleitorais importantes – uma vez que ela assume a cabeça de chapa? b)A
ortodoxia religiosa de Marina Silva também se constitui num grande entrave com
segmentos sociais importantes, como os grupos LGBT e com grupos feministas; c)As posições ambientalistas de Marina Silva chocam-se frontalmente com setores
econômicos como o agronegócio, que vive de birra com a irmão desde a época em
que ela ocupava o Ministério do Meio-Ambiente, no Governo Lula. Marina,
portanto, tem uma série de arestas a serem aparadas daqui para frente. Por seu
temperamento, não costuma ceder em suas posições, o que, pragmaticamente,
constitui-se num entrave. Muita cautela, portanto, com essa “onde” que está
sendo inflada por setores sabidamente conservadores do eleitorado. Em artigo publicado aqui no blog, o professor Michel Zaidan observa que poderemos ter um embate eleitoral centrado na religiosidade, o que empobrece a discussão sobre as questões que realmente importam ao país.
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