pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : A Casa-Grande vai às ruas. O que eles querem? O de sempre.
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quarta-feira, 18 de março de 2015

A Casa-Grande vai às ruas. O que eles querem? O de sempre.


A Casa-Grande vai às ruas. O que eles querem? O de sempre.

PUBLICADO EM 17/03/2015 ÀS 14:45 POR  EM NOTÍCIAS

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Por José Luiz Gomes
(Cientista Político)
Independentemente das controvérsias sobre o número real de participantes dos protestos contra o Governo Dilma, no dia de ontem, na Av. Paulista – principal reduto dos tucanos – o fato é que, para o bem ou para o mal, não se pode negligenciar o recado das urnas. Os protestos ocorreram praticamente em todo o país, principalmente nas grandes capitais, com um número expressivo de participantes. Aqui, pelas redes sociais, observo que alguns internautas estão tentando desqualificar as manifestações a partir de alguns fatos curiosos – como uma pauta difusa; carregada de preconceitos; algumas reivindicações bem particulares; outras ilegais, posto que fere a Constituição Federal- como o pedido de intervenção militar -; aparições mais ousadas, como aquela mulher que ficou nua ou a outra que mostrou os seios. Até o educador pernambucano, Paulo Freire, entrou nessa história. Um cartaz pedia seu impeachment do currículo de ensino básico, além da prisão de um certo Karl Marx de Garanhuns, uma cidade maravilhosa do Agreste pernambucano.
De fato, ocorreram algumas situações hilárias e folclóricas. Mas, como já advertíamos em postagens anteriores, o Planalto precisa ficar bastante atento às manifestações de ruas, seja contra ou a favor. Mesmo com todo o apoio da mídia golpista, não se pode desprezar uma manifestação desse porte. A cobertura da Rede Globo de Televisão ao evento foi de um esmero “impecável”, como já se imaginava que fosse. O canal aberto fez chamadas sistemáticas logo cedinho e o canal fechado, Globo News, dedicou horas de cobertura ao evento, transmitindo-o quase que simultaneamente. Quase que a totalidade do tempo do Programa Fantástico foi dedicado ao tema.
À noite, tratei de observar o termômetro das ruas e a estimativa de um milhão de pessoas na Av. Paulista já havia se consolidado no imaginário coletivo. Para o militante petista e apoiadores de Dilma essa desqualificação pode até servir para massagear o seu ego. Para o Governo Dilma, a encrenca é bem mais acentuada, exigindo-se uma ampla negociação política para “tocar” ou salvar o seu mandato, além dos cuidados com a retaguarda de comunicação, como sugere Miguel do Rosário, no seu Tijolaço. O Governo, no seu entendimento, apanha feio e oferece a outra face, além de estar cometendo erros sucessivos de avaliação.
O desgaste é inegável. Como afirmou o cientista político Michel Zaidan Filho, tudo que de ruim poderia acontecer está ocorrendo neste início de mandato. Dilma está acuada pela oposição e isolada dentro de sua própria base de apoio, diante de um verdadeiro travamento político. Sua articulação política é tão frágil que a presidente anda às turras com o PMDB e setores do PT. Outro dia, em depoimento à CPI da Petrobras, Eduardo Cunha arrancou aplausos de petistas. Consultado, seu padrinho político, o Lula, fez algumas recomendações, mas penso que ela as ignorou. Há quem informe que a personalidade de Dilma Rousseff passou a constituir-se num problema grave na atual conjuntura política. Além de não avançarmos na regulação econômica da mídia, o Governo Federal injeta milhões de recursos em mídias que o massacra diuturnamente, a exemplo do que ocorreu no dia de ontem, onde a emissora do plim plim, paralelo às imagens dos manifestantes, tecia análises política as mais tendenciosas possíveis sobre o seu Governo. Isso sem que a população tivesse acesso ao contraditório através dos canais oficiais do Governo na blogosfera ou nas redes sociais.
Voltando à arena da articulação política, ela nunca foi muito feliz por aqui. Além de não gostar desse meio de campo, da micropolítica, também não foi feliz na escolha dos seus assessores. A “trinca” que hoje responde pela área não tem se saído melhor do que os seus anteriores. O resumo da ópera não é dos melhores. Um Governo que perdeu a guerra de comunicação; desarticulado politicamente; com uma economia que não vai bem das pernas; com gente do partido envolto num escândalo de dimensões gigantescas. Pouco provável que o ex-gerente da estatal, Pedro Barusco, estivesse mentido ao afirmar que repassou algo em torno de R$ 300 milhões ao tesoureiro do partido, João Vaccari Neto. Dilma tem as mãos limpas. Nunca compactuou com esses malfeitos. Juridicamente, não há razão nenhum para um pedido de impeachment. Estamos aqui, então, diante de um grande impasse. Como resolver, então, essa crise política? Só esperamos que, comprovada alguma irregularidade, depois de cumpridas todas as tramitações jurídicas necessárias, Vaccari não se transforme num novo Delúbio.
E aí temos que entrar no grande pleito dos manifestantes do dia 15: eles querem a cabeça da presidente Dilma Rousseff. Essa história de corrupção é apenas o pano de fundo que, pelo nível de alguns manifestantes, passa a ser cueca mesmo. Está aqui um fenômeno muito bem-sucedido de fomentação de ódio. Ódio contra um partido. Ódio contra uma presidenta da República. Ódio que se dissemina como um câncer em estado de metástase. Nem mesmo o acirramento de ânimos da campanha de 2014 externaram a dimensão do problema, mas o ovo da serpente já estava aquecido. Para setores poderosos, Aécio Neves, o candidato do PSDB, ter perdido aquelas eleições deve ter provocado uma grande frustração em segmentos da elite e da classe média. Essa classe média, definitivamente, como afirmou o chargista Renato Aroeira, não gosta de Dilma. Desde então, eles não permitem que Dilma governe. A presidente já fez várias concessões a esses grupos, mas, nem assim, eles parecem estar satisfeitos. Não aceitam as regras do jogo democrático. Desejam derrubá-la. Querem sua degola e estão ensandecidos, assim como piranhas na carne fresca e urubus na carniça.
Embora não se aplique, no caso, um pedido de impeachment, muito menos uma intervenção militar, se faz necessário que o Planalto encontre uma saída política para enfrentá-los. Talvez precisássemos aqui de um grande negociador, alguém com bom trânsito, um bombeiro para apagar esse incêndio. Não temos. Outra alternativa, como sugeriu Renato Aroeira, seria uma saída pela esquerda como último recurso. Mas, mesmo aqui, Dilma deve uma boa explicação para ter mexido em direitos trabalhistas, ter adotado um receituário neoliberal de ajuste fiscal; ter convidado um assessor do adversário para assumir a pasta da Fazenda. Já dizia um estudioso do assunto que um dos grandes problemas deste país são as conciliações. Tudo parece ser resolvido com uns tapinhas nas costas ou são eternamente protelado. A rigor, se o Planalto tivesse dado ouvido às reivindicações das “Jornadas de Junho”, possivelmente, no mínimo, já teríamos um arcabouço institucional melhor preparado para enfrentar esses solavancos.
Quando a rapaziada vai às ruas, o Governo se arvora em afirmar que adotará as medidas para atender ao pleito dos manifestantes. Foi assim em Junho de 2013. Está sendo assim em 2015. Nenhuma mudança significativa na agenda de políticas públicas. Pelo contrário, até cortes foram anunciados no MEC, até então um ministério estratégico para o PT. Nenhuma avanço na reforma política que pudesse permitir ao presidente ser menos refém das chantagens do Legislativo; nenhum avanço na regulação econômica da mídia – que combatesse os oligopólios – promotores de um massacre diário da presidente. Assim não dá, doutora. Estamos aqui pra emprestar-lhe total e irrestrito apoio e solidariedade, mas é necessário que se tenha a dimensão correta do problema.
Naturalmente, não se pode comparar essas duas manifestações. Há uma distância enorme entre ambas. As Jornadas de Junho foram de caráter cívico, legalistas, rigorosamente preocupadas com o rumos do país, propondo uma nova agenda de governança. Essas últimas podem ser traduzidas muito mais como arroubos de uma classe média e de uma elite insatisfeitas com as concessões ao andar de baixo. Perdeu-se ali, durante as Jornadas de Junho, uma grande oportunidade de se passar este país a limpo; de construir pontes entre os diversos segmentos sociais; de atender aos pleitos dos movimentos sociais; de montar um arcabouço de engenharia política capaz de resistir a essas intempéries. Esses urubus voando de costa, em nome de uma ressaca eleitoral, estão tentando parar o governo, atentar contra o Estado Democrático de Direito. Muito grave isso.
(Publicado ontem, dia 17, no blog de Jamildo, do Jornal do Commércio)

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