Não nego a afinidade com todo o universo que envolve o caranguejo-uçá. Parafraseando Josué de Castro, melhor seria dizê-lo o ciclo do caranguejo-uçá, numa alusão aos seus estudos sobre o tema. Costumeiramente, todos os semestres, levava meus alun@s à comunidade de São Lourenço, em Goiana, onde eles entravam em contato com as questões antropológicas, sociológicas e ambientais que envolve este universo, numa comunidade remanescente de quilombos, que sobrevive da captura desses crustáceos. Que saudades do pirão de caranguejo preparado por Dona Irene, na Praia de Pontas de Pedra. Com prestígio em alta, ainda conseguia umas carnes de patola acompanhadas de uma dose de cana Cobiçada.
Em Jacumã, levar a gurizada para observá-los no seu habitat natural, constitui-se numa das coisas mais prazerosas para mim. Nas últimas férias, aconteceram duas coisas curiosas quando já estava de volta de João Pessoa para o Recife. Uma matéria do Jornal Correio da Paraíba nos informavam que garotos capturavam o crustáceo nas águas poluídas do Rio Jaguaribe, já na divisa de João Pessoa com Cabedelo. A captura se dava de uma maneira pouco usual - confesso que até desconhecia. Quando eles avistam o crustáceo no Rio, mergulham e o captura à mão. Normalmente, a sua captura é realizada no lamaçal dos mangues, introduzindo as mãos - de preferência fechadas - nas suas tocas profundas.
Um outro fato que nos chamou a atenção foi a quantidade de carros parados, à noite, nas proximidades do Rio Gramamme. O rio é cortado pela BR-008, que liga João Pessoa à Jacumã, no litoral sul. Em ambos os lados da rodovia, imensos manguezais. Como a andada é um processo de acasalamento, eles não relutam em atravessar a estrada, correndo o risco de serem atropelados ou mesmo facilmente capturados, o que se constitui crime. Literalmente, perdem a cabeça à procura de um rabo de saia. A Lei Federal 9.605/98 proíbe a comercialização, transporte, armazenamento e consumo desse crustáceo nos meses de Janeiro, Fevereiro e Março. O período mais crítico, vai de 21 a 26 de março, quando as fêmeas colocam as ovas no mangue. No último dia 21, foram apreendidos nos mercados públicos e feiras livres de Jaboatão dos Guararapes, cinco mil caranguejos, numa prova evidente de que as pessoas não estão respeitando o período de defeso da espécie.
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