O problema da elite e de parte da classe média brasileira não é a corrupção. Para o doutor em Economia Róber Iturriet Avila, insatisfação tem mais a ver com ascensão social e aumento do poder aquisitivo das classes menos favorecidas. “Na história do Brasil, sempre que o salário mínimo e a renda média subiram, houve algum tipo de intento golpista”
Três intelectuais de relevo trataram recentemente acerca do ódio ao
PT: Leonardo Boff, Luis Fernando Veríssimo e Luiz Carlos Bresser
Pereira. Suas palavras têm a lucidez de quem enxerga além das aparências
e do senso comum. Embora o momento corrente não seja corriqueiro, um
olhar histórico traz ensinamentos.
Na Revolução Francesa, por exemplo, na aparência havia uma ruptura
lastreada em novos valores: Liberté, Egalité, Fraternité. O pano de
fundo real era, entretanto, a emergência de um novo grupo. Em meio a um
período econômico conturbado, a burguesia degolou o poder político e o
status social da aristocracia.
No Brasil, a constatação de que a escravidão foi excessivamente longa
já sinalizava que o arranjo da sociedade é deveras estamental.
Políticas progressistas sempre encontraram fortes barreiras
conservadoras.
Os conflitos de 1954, por exemplo, foram intensos. Na superfície, o
governo estava cercado diante dos “escândalos” de corrupção. A constante
oposição na imprensa desgastava Vargas. Em 1954, o então presidente
aumentou o salário mínimo em 100%. Quem não é ingênuo sabe que Vargas
estava contrariando interesses empresariais, tanto com a concessão de
direitos trabalhistas e civis, quanto com ampliações salariais. O
suicídio foi a saída honrosa ao cerco montado.
João Goulart foi presidente em um período de conflitos. Seu governo
concedia elevados aumentos salariais, prometia reforma urbana, voto de
analfabetos, elegibilidade de todos brasileiros, reforma agrária,
concessão de terras a trabalhadores rurais, justiça social, emancipação
dos brasileiros. Caiu! O receio do “golpe comunista” foi o discurso raso
que justificava.
Vargas e Goulart saíram do poder ao tempo em que concediam direitos
sociais, sobretudo aos menos favorecidos. Não é novidade que durante os
governos do PT, os trabalhadores ampliaram sua renda, o salário mínimo
cresceu de maneira contínua e houve uma série de programas sociais.
A CONFERIR:
(1) Brasil é o país que mais reduziu a fome no mundo, diz ONU
(2) Desemprego no Brasil em 2014 é o menor no índice histórico
(3) Brasil se aproxima de países desenvolvidos em Índice de Progresso Social
(1) Brasil é o país que mais reduziu a fome no mundo, diz ONU
(2) Desemprego no Brasil em 2014 é o menor no índice histórico
(3) Brasil se aproxima de países desenvolvidos em Índice de Progresso Social
Não surpreende que, mais uma vez, setores da sociedade brasileira se
ergam contra tais políticas, ainda que, escamoteadamente, o bordão seja
“contra a corrupção”.
Evidentemente, existem elementos factuais dos governos Lula e Dilma
que causaram desconforto e indignação a todos os cidadãos. Contudo, é
preciso muita inocência para imaginar que as manifestações contra o
governo são incentivadas pelo descontentamento com a corrupção, pela
elevação do preço do combustível ou da energia. Quem tem conhecimento
histórico e compreensão profunda da sociedade não ignora a ojeriza
existente a um programa que garante R$ 35,00 para os pobres. O ódio não é
ao PT.
Conhecendo um pouco mais dos dados do Brasil se observa que houve
dois momentos de crescimento relevante do nível dos salários: no período
Getúlio Vargas – João Goulart e nos governos do Partido dos
Trabalhadores. Os gráficos abaixo não apenas demonstram
esses movimentos como indicam que presentemente o excedente operacional
bruto caiu em relação ao produto total em detrimento do incremento nos
salários. Interesses poderosos estão sendo feridos. Não apenas segmentos
estão perdendo, em termos relativos, como também regiões. Será mesmo
preciso pintar de azul em um mapa qual região perde mais com a
solidariedade distributiva?
*Doutor em economia, pesquisador da Fundação de Economia e Estatística e professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.
(Publicado originalmente no site Pragmatismo Político)
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