Não é de hoje que o jornalismo impresso passa por uma grande crise. Isso não acontece apenas no Estado, mas, como nos atinge diretamente, talvez possamos fazer algumas considerações a esse respeito. Submetidos a uma forte injunção econômica e política, os jornais escritos perderam bastante credibilidade e os jornalistas já não exercem as suas funções com a dignidade, a seriedade e profissionalismo que a atividade requer. Publicam o que o poder econômico e os arranjos políticos determinam, comprometendo - apenas comprometendo? - as reais diretrizes que deveriam nortear essa atividade. Aliado a este problema, soma-se o avanço de outras mídias, que começam a comprometer, igualmente, o jornalismo televisivo. O tradicional Jornal Nacional, da Rede Globo, por exemplo, vem amargando perda de audiência sistematicamente nos últimos anos. O binômio jornalismo tendencioso e avanços de outras mídias, por certo, podem determinar o fim desses meios de comunicação.
Nas eleições passadas - para o Governo do Estado - um dos grandes jornais pernambucano transformou-se num panfleto de propaganda de um dos candidatos, com raras "brechas" concedidas ao exercício coerente e isento dos seus profissionais. Recentemente foi adquirido por um grupo empresarial que também administra planos de saúde, num negócio complicado de entender. Ontem foi anunciado a demissão de mais de 100 profissionais desse jornal, entre os quais vinte jornalistas. É o jornal mais antigo em circulação da América Latina. Penso que boa parte dessa história foi resgatada pela microfilmagem da Fundação Joaquim Nabuco. Tenho ótimas lembranças deste vespertino. Sempre aos sábados, saia de casa para a Igreja de Santa Elizabeth, em Paulista, para adquirir um exemplar. Nesse dia, o jornal publicava os artigos do sociólogo Gilberto Freyre. Quando terminei o mestrado, fui agraciado com uma página inteira do jornal, abordando a nossa dissertação. Na nota de rodapé, o jornalista que fez a matéria - hoje assessor de imprensa do Planalto - teve o cuidado de ouvir todas as lideranças petistas locais sobre o assunto.
O outro "grande" também não vai muito bem das pernas. Se nos permitem a licença poética, esse é de lascar mesmo. Como comentávamos nas eleições passadas, neste caso em particular, há um conluio que envolve empresários acionistas - que também são donos de instituto de pesquisa - e que possuem fortes ligações com o Palácio do Campo das Princesas. Isso, do ponto de vista do leitor, não pode dar muito certo. Dá certo para os políticos e empresários que se locupletam deste favorecimento explícito. Aqui pela província, há políticos blindados e uma engenharia de comunicação institucional das mais bem-sucedidas, onde os jornais, infelizmente, tornaram-se apenas uma correia de transmissão dessa engrenagem. A possibilidade, aqui na província, do surgimento de um jornalismo investigativo que desse como resultado o "Escândalo Watergate", que culminou com a renúncia do presidente Nixon, são inexistentes. São por outros canais que tomamos conhecimento das mazelas de corrupção aqui no Estado. Eles, então, perderam a importância. Dezenas de casos escabrosos de corrupção na província não mereceram uma linha dos jornais locais. As redes sociais denunciam isso todos os dias. O excepcional talento dos que fazem a editoria de capa de ambos os jornais, não raro, é suprimido pelo poder econômico ou pelas injunções políticas dos seus proprietários.
Por não sermos um profissional da área e não contarmos com nenhum suporte, não raro, cometemos algumas "barrigas" aqui no blog, induzidas, por vezes, por equívocos da imprensa escrita. Às vezes, são falhas nossa mesmo. Cheguei a postar, por exemplo, que Ciro Gomes seria o ministro da Educação indicado por Dilma quando, na realidade, o nome correto seria o do seu irmão, Cid Gomes. Naturalmente que bem antes dos últimos imbróglios. Outro dia, uma cidadã jornalista fez uma matéria sobre a Fundação Joaquim Nabuco e, além de não aprofundar o conteúdo - preferencialmente ouvindo as partes envolvidas e o que estava em "jogo" - ainda ilustrou a matéria com a foto de um gestor já falecido da Casa. Ele deve ter se revirado no túmulo. Mesmo à distância, ficou feliz com o afago.
Outro fato curioso, como já afirmamos, é a dinâmica de funcionamento dessa engrenagem de comunicação institucional do Estado, que envolve inúmeros elementos. Trata-se de um dispositivo estrategicamente acionado em ocasiões oportunas, com referências explícitas e subliminares a um ex-governador já falecido. Pouco antes das manifestações que ocorreram contra Dilma Rousseff na Praia de Boa Viagem, os muros do Recife voltaram a se pichados com a inscrição: " Foi o PT que matou Eduardo Campos". Os manifestantes, todos vestidos de verde e amarelo, ostentavam várias faixas com uma frase conhecida do ex-governador: "Não vamos desistir do Brasil". Trata-se de um dispositivo muito bem azeitado.
A formação acadêmica desses profissionais também passa por inúmeros questionamentos. O desenho curricular já não dá conta das vicissitudes da atividade profissional. Seria mais coerente se falássemos de um desenho curricular que não acompanhasse, tão somente, as mudanças tecnológicas, por exemplo, mas o problema não é apenas este. É um currículo que não acompanha ou mesmo antecipou-se à crise do jornal impresso. Há dificuldades de estágio; ocorreu esgotamento do mercado de trabalho; verifica-se uma erosão da credibilidade desses jornais; praticamente não existem espaços dignos para a aprendizagem cotidiana do jornalismo. Para que tenhamos uma ideia, há alguns anos atrás, existia um programa para "focas" ,da Editora Abril, que se constituía numa grande referência profissional para o futuro jornalista. Hoje eu não sei se conta muito registrar no currículo que passou pela redação de "Veja". Conta sim. Negativamente.
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