Outro dia, nos comentários a um artigo publicado por mim no blog de Jamildo Melo, do JC, observei uma coisa curiosa. A tese de que estratos da classe média e a elite não desejavam as concessões que estavam sendo feitas nos últimos anos pelos governos Lula/Dilma ao andar de baixo da pirâmide social foi solenemente rejeitada, apesar de ser um dado apontado em pesquisas sérias, assim como constituir-se - na opinião de alguns analistas - como a principal motivação da rejeição desses estratos ao Governo Dilma Rousseff. Gosto muito do feedback ao que escrevo, mesmo que tenhamos de suportar, sobretudo aqui na província, muita agressividade. Nem assim perco a esportiva e, não raro, respondo a todos, embora algumas dessas respostas não sejam publicadas. Neste último caso, apenas em resposta ao cidadão que se identificou como Pedro, acabei escrevendo um outro artigo apenas nas respostas.
As pessoas que nos retrucaram informaram que eram sim favoráveis a uma sociedade mais justa, que facultasse ao andar de baixo uma educação de qualidade social, acesso a bens, tudo muito cheirozinho. Coisa para se estranhar. Muito curioso isso. O Brasil foi um país construído sob o signo da desigualdade. Erguer muros e demarcar as diferenças sempre esteve nas atitudes de nossas elites. Somos uma sociedade profundamente hierarquizada, durante séculos cindida entre senhores e escravos.Nossa classe média, como enfatiza a filósofa Marilena Chauí, é extremamente preconceituosa. Os casos de racismo e discriminação ocorrem com frequência incomum em nosso país.
É uma hipocrisia da gota serena. Quando um jornal local mostrou jovens de famílias humildes atolados no lixo no canal do Arruda, o caso teve ampla repercussão nas redes sociais, com famílias de classe média mostrando-se indignadas com aquelas cenas. Como afirmei à época, um discurso muito fácil - e cômodo - para quem, na segunda-feira, em seus carrões, deixam os filhos nos tradicionais colégios da elite recifense, localizados na Avenida Rui Barbosa. Essa gente conta até com seus intelectuais orgânicos, a exemplo do filósofo Luiz Felipe Pondé, que, no último domingo, publicou um artigo polêmico na Folha de São Paulo, onde informa que todas as nossas mazelas atuais podem ser atribuída ao PT, que saiu de onde nunca deveria ter saído, ou seja, das portas da fábrica. O partido, segundo ele, deveria voltar às suas origens.
Esse garoto é meio complicado. Outro dia sugeriu que tinha dificuldades de "pegar mulher" por ser de direita. Achava ele que, ser esquerda, facilitaria enormemente o enlace carnal. As feministas, naturalmente, ficaram uma arara com a expressão "pegar mulher". Este último artigo do filósofo foi duramente criticado pelas redes sociais, com todo tipo de ilação que ele pode suscitar nas entrelinhas, como a volta dos gays ao armário - de onde nunca deveriam ter saído; dos negros à senzala - de onde nunca deveriam ter saído; das mulheres aos aventais das cozinhas - de onde nunca deveriam ter saído etc.
http://blogs.ne10.uol.com.br/jamildo/2015/03/17/a-casa-grande-vai-as-ruas-o-que-eles-querem-o-de-sempre/
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