José Luiz Gomes escreve:
Ainda temos poucas informações sobre as negociações de bastidores que determinaram a escolha do nome do filósofo Renato Janine Ribeiro para o Ministério da Educação. Independentemente disso, no entanto, as repercussões estão sendo muito positivas, sobretudo quando se toma como referência o próprio PT, a academia e a base social que, tradicionalmente, sempre apoiou o projeto Dilma Rousseff. Dilma parece ter aproveitado a vacância do cargo para fazer uma minirreforma política, dizem, por orientação de Luiz Inácio Lula da Silva. Diante das circunstâncias adversas, observa-se uma reaproximação entre Lula e Dilma, que estavam um tanto quanto distanciados. O Palácio voltou a ter a presença de homens da estrita confiança de Lula, como é o caso de Edinho Silva, ex-tesoureiro de campanha de Dilma Rousseff, nas últimas eleições presidenciais, que assume a SECOM, uma área muito problemática neste início de segundo mandato de Dilma. Dizem que é o coringa do projeto Lula 2018.
Não era segredo para ninguém que o Governo Dilma vinha apanhando feio no quesito comunicação institucional. Aliás, para ser mais preciso, vinha pagando para apanhar, ao injetar milhões de recursos públicos em oligopólios de comunicação marcadamente refratários ao Governo, para não dizer "golpistas". Mas não era só isso. Em meio à turbulência política de Brasília, não raro, as mídias oficiais do Planalto ficaram literalmente paralisadas. A missão de defendê-la passou a ser assumida pelas ditos blogs "sujos" e uma militância desnorteadas, pelas redes sociais. Mal assessorada, Dilma também passou a fazer alguns pronunciamentos não necessariamente muito felizes, agravando ainda mais o quadro já cinzento.
Por outro lado, agora já falando sobre articulação política - outra área nevrálgica do Governo - depois de derrotas sucessivas, Mercadante - embora formalmente no cargo - já não exerce as funções de articulador político do Planalto. Seu papel agora é cobrar dos outros ministros resultados sobre as obras importantes do Governo. Este também era um desejo de Lula. As atitudes de Mercadante o tornaram uma pessoa que representava apenas a si mesmo. Tornou-se uma espécie de superministro. Um interlocutor privilegiado junto a Dilma. Pasmem os senhores, mas com uma ascendência maior do que o padrinho político da presidente. Realmente, essa situação - como diria uma colega de trabalho - não podia continuar. Penso que Mercadante não leu aquele livro sobre as regras do poder, - escrito por dois jornalistas americanos - que era o livro de cabeceira do babalorixá Antônio Carlos Magalhães. O caboclo gosta de ler, tem doutorado, mas, não surpreende que, por vezes chegue às suas mãos alguns livros "errados".
As circunstâncias políticas não nos permitem falar em "cota" pessoal da presidente Dilma Rousseff. Ainda insisto que a indicação de Renato Janine Ribeiro para aquela pasta envolveu alguns arranjos políticos e a montagem de uma xadrez intrincado, que sinaliza, no mínimo, para uma média com setores sociais mais afinados com o Governo Dilma. Setores importantes do PMDB teria interesse na pasta, ampliando sua participação e "comprometimento" com o Governo. A indicação de um Gabriel Chalita, como se especulou, poderia representar um momento de trégua nos achaques. E eles ainda alegam que desejam mais participação para implementarem o seu programa de governo. Afinal, qual é mesmo o programa de governo do PMDB?
Se, por um lado, é mesmo complicado falarmos em "cota" pessoal da presidente Dilma Rousseff, por outro, sua indicação para aquela pasta nos permitem algumas conclusões importantes, como a retomada do caráter estratégico do órgão, assim como ocorreu nas gestões anteriores dos governos de coalizão petista. Ouso afirmar que, pela educação, pode ter fluído as políticas públicas mais socialmente estruturante desses governos.
As mesmas observações se aplicariam ao caso da nomeação de um outro filósofo, Mario Sergio Cortella, cujo nome passou a ser especulado nos últimos dias. Cumpre esclarecer que nem os mais informados jornalistas sabiam das entabulações de conversas envolvendo o nome do filósofo Renato Janine.Sempre afirmei que a escolha do nome do futuro titular da pasta seria um ponto de inflexão do Governo Dilma. Parece que acertamos. Apesar das dificuldades do órgão, a escolha de Renato Janine Ribeiro pode significar que, de fato, o Governo Dilma pretende levar a sério o slogan: Brasil, Pátria Educadora. Um outro aspecto a ser considerado é a "cota" ética que ele empresta ao Governo, quiçá sinalizando que Dilma, igualmente, está atenta à necessidade de passar um verniz ético na administração pública. Enfim, por inúmeras razões, a indicação de Renato Janine para a pasta de Educação, conforme assinalamos, significa um ponto de inflexão no Governo Dilma.
Assume um técnico, professor de ética pública e filosofia da USP, que já dirigiu a CAPES. Há quem informe que ele poderá dar prioridade às áreas de ciências humanas, em razão de suas origens. Certo mesmo é que os reformadores empresariais da educação que estavam se consolidando no órgão, certamente, terão um contraponto pela frente. Ponto para Dilma Rousseff. Bola dentro, presidente.
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