publicado em 11 de março de 2015 às 16:37
Caruso prega a violência
Dr. Rosinha, especial para o Viomundo
Posso dizer, sem constrangimento, que até tempos atrás era um fã do humor de Chico Caruso. Tempos atrás significa mais ou menos dez anos. E posso afirmar que, nesses dez anos, acompanhei-o quase que diariamente.
Um bom cartunista tem que captar a realidade, a conjuntura e fazer deste momento um humor critico e inteligente. O humor inteligente e crítico faz a cabeça das pessoas. Faz tanto para o bem como para o mal. O Caruso, pelo que tudo indica, já esteve nas duas pontas.
O humor inteligente dá consciência política. Na recente história do Brasil, creio que o Pasquim fez esse humor e não só criticava a ditadura, mas com inteligência criava consciência política.
Na época do Pasquim, eu não tinha dinheiro para comprá-lo. Parava nas bancas e começava a ler, até que o dono da banca dava a bronca: “se quiser ler, compre!”. Fechava o jornal e, com vergonha, saía de mansinho.
Na próxima banca tentava continuar a leitura. Quando sobrava qualquer trocado, o que era raro, comprava um e o devorava do começo ao fim. Os poucos que comprei os tenho guardados até hoje. Guardo porque o Pasquim fez a minha cabeça contra a ditadura e a favor da democracia.
Chamo de humor que “faz a cabeça” aquele que é crítico em relação à política, à economia e aos costumes, sem pregar o preconceito, o machismo, a violência e a intolerância.
Vivemos um tempo de destruidores da tolerância e criadores de ódio e preconceito. E esses criadores elegeram como vítima o PT, os petistas e, como Dilma é petista e mulher, é o alvo preferido. Chico Caruso infelizmente entrou nessa de construtor do ódio e do preconceito.
A charge que ele desenhou em O Globo do último domingo, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, contribui para a construção do ódio. Ou a charge representa o desejo final desta construção?
Sei que Chico Caruso conscientemente negará que o desejo dele em relação à Dilma esteja retratado na charge que fez, mas ele, se não sabe, tem que saber, que o que ele fez atiça o ódio e o desejo dos insanos de fazerem isto.
Ele também sabe que o mundo está cheio de insanos, ou não é insanidade fazer a decapitação como o Estado Islâmico (EI) faz de suas vítimas? O Chico Caruso deveria, através de sua inteligência e de suas charges, criticar o EI, e não fazer apologia dos crimes praticados por eles e querer o mesmo para a Dilma. Depois somos nós, petistas, que pregamos a violência.
Paulo Nogueira escreve no Diário do Centro do Mundo que baixou sobre Caruso o “espírito da Globo”. E o espírito da Globo é golpista. Ajudou e deu todo apoio à última ditadura. Ou melhor, foi um instrumento criado e construído pela ditadura.
O Brasil é um país de gente violenta, onde se pratica violência contra jovens, principalmente pobres e negros, contra a mulher, contra os homossexuais. Neste dia 8 de março, deveríamos todos criticar essa violência, principalmente contra a mulher, e não estimulá-la.
Caruso, que é um homem inteligente, sabia e sabe quando é o Dia Internacional da Mulher. Sabia e sabe que a “elite branca” (assim taxada por Cláudio Lembo, branco como eu) do Brasil não suporta o pouco de igualdade econômica que os pobres conquistaram nos governos de Lula e Dilma.
Chico Caruso sabe tudo isso, então por que fez a charge com a Dilma de joelhos prestes a ser decapitada por um extremista (tucano?) do Estado Islâmico?
Fez porque este é o desejo da “elite branca” brasileira, e queria agradá-la.
Como disse nos últimos 10 anos venho paulatinamente perdendo a graça nas charges do Chico Caruso. Agora, ele também perdeu o respeito.
Na charge deste dia 8 não há graça. Se alguém achou graça é porque apoia a decapitação que membros do EI estão fazendo e seriam capazes de fazer o mesmo aqui no Brasil.
A explicação mais plausível para esta charge é que ela foi encomendada pelo patrão com o principal objetivo: ajudar a construir e aumentar o ódio contra Dilma, o PT, os petistas.
Assim como o Pasquim fez a minha cabeça contra a ditadura e a favor da paz e da democracia, a charge de Chico Caruso pode fazer a cabeça de alguns a favor da ditadura e da violência.
Dr. Rosinha, médico pediatra e servidor público, foi deputado federal (PT-PR).
(Publicado originalmente no site Viomundo)
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