Hoje é bastante complicado identificar os chamados "históricos" ou "autênticos" que ainda restam nos quadros do Partido Socialista Brasileiro, embora, no passado, sobretudo ali pela década de 40, essa tarefa fosse relativamente fácil. A agremiação passou por diversas transformações durante esses anos, mas manteve sempre um alinhamento à esquerda do espectro político. Espanta, portanto, essa guinada conservadora da agremiação capaz, ainda, de provocar um "cisma" entre seus dirigentes atuais e alas que ainda defendem as bandeiras de lutas do partido. Mudanças radicais de comportamento podem acarretar prejuízos irreversíveis aos indivíduos e às organizações.
Um fato emblemático - apenas para citar um exemplo aqui da terrinha - talvez seja o do senador Cristovam Buarque, que já declarou que votará a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Isso é bastante complicado para alguém que construiu uma carreira acadêmica e política bastante identificada com as forças de esquerda, preocupado com o apartheid social brasileiro, com a defesa do Estado Democrático de Direito. Penso ter o primeiro livro de Cristovam, autografado por ele, num lançamento aqui no Recife. Entre aquilo que ele escreve e as atitudes políticas que anda tomando abre-se um abismo enorme, capaz de engoli-lo. Ele mesmo irá perder o sono, após proferir o voto em favor do impeachment, com aqueles argumentos falaciosos, endossando uma farsa.
O PSB tem uma trajetória política de deixar orgulhosos seus militantes. No passado, já integraram as fileiras do partido personalidades como João Mangabeira, Evandro Lins e Silva, Rubem Braga, Antônio Houaiss e até o escritor paraibano José Lins do Rego, o que para mim foi uma novidade. É que o partido sempre defendeu um socialismo democrático, se contrapondo ao stalinismo, o que atraiu muitos intelectuais. Além de Roberto Amaral, hoje é difícil identificar quem são esses "autênticos" do PSB, mas, sobretudo aqui em Pernambuco, eles começam a aparecer ali por Olinda, como os ex-secretários de Dr. Arraes, Roberto Franca e Izael Nóbrega. Poderíamos inserir aqui alguns nomes da família Arraes, talvez dona Magdalena Arraes.
Mas, o fato concreto é que eles estão insatisfeitos com os rumos que o partido está tomando. Essa insatisfação ocorre tanto no plano nacional quanto no plano estadual. O estopim da crise ocorreu nas últimas semanas, quando o partido, vergonhosamente, votou pela aceitação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Sinceramente, não vejo como essa corrente dita representante dos "históricos" ou "autênticos" possa exercer alguma influência na agremiação "socialista". Na minha opinião, essa decomposição ideológica é um processo que não tem mais volta. A saída é a saída, decisão já tomada por atores políticos como Luísa Erundina, que trocou recentemente de agremiação.
Um dos maiores responsáveis por essa decomposição ideológica foi o ex-governador Eduardo Campos. Seu projeto de tornar-se presidente da República transformou a agremiação num partido catch all. A degradação chegou ao limite de se pensar numa possível "fusão" com o PPS do senhor Roberto Freire, de Raul Jungmann e, agora, Cristovam Buarque. Não descarto que os estudiosos do assunto possam encontrar outras razões para explicar este fenômeno, mas o projeto presidencial do ex-governador, certamente, ocupará um lugar de destaque entre as variáveis. Aqui em Pernambuco, além de compor alianças com agremiações políticas de todas as matizes, o PSB aceitou nos seus quadros atores políticos que militaram nas forças mais conservadoras e retrógradas de nossa quadra política.
Segurar essa "onda conservadora" agora é um pouco tarde. Quem não permitiria essa guinada era o ex-governador Miguel Arraes, que nunca saiu do eixo ideológico que orientou sua atuação política, de fortes convicções democráticas, sensibilidade social e probidade na gestão. Numa época em que Lula enfrentou dificuldades em Brasília, durante o mensalão, ele foi até lá emprestar sua solidariedade ao ex-presidente. Uma atitude que jamais foi esquecida por Lula. Em sua segunda gestão, não poupou esforços para ajudar o Estado, então governado por Eduardo Campos. Isso foi esquecido, como num passe de mágica, pelo PSB na votação do último dia 17. Essa pombinha já foi depenada, gente.
Segurar essa "onda conservadora" agora é um pouco tarde. Quem não permitiria essa guinada era o ex-governador Miguel Arraes, que nunca saiu do eixo ideológico que orientou sua atuação política, de fortes convicções democráticas, sensibilidade social e probidade na gestão. Numa época em que Lula enfrentou dificuldades em Brasília, durante o mensalão, ele foi até lá emprestar sua solidariedade ao ex-presidente. Uma atitude que jamais foi esquecida por Lula. Em sua segunda gestão, não poupou esforços para ajudar o Estado, então governado por Eduardo Campos. Isso foi esquecido, como num passe de mágica, pelo PSB na votação do último dia 17. Essa pombinha já foi depenada, gente.
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