O chefe da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, é um cidadão muito polêmico. Sobre ele já disse muita coisa, até mesmo que era o mais tucano dos assessores do Planalto. Isso, claro, quando exercia outras funções. Como ministro da Justiça, não raro, foi acusado de criar alguns embaraços para os petistas, ao não manter controle sobre as operações da Polícia Federal. No geral, ele sempre foi visto como um cidadão que transmite uma certa dubiedade. Agora, no entanto, ao assumir a defesa da presidente Dilma Rousseff, não se pode negar que ele se empenhou bastante e produziu uma peça de defesa irretocável. Mas, como se sabe, o problema nunca foi jurídico.
Havia algumas divergências no Palácio do Planalto sobre se seria aconselhável recorrer ao STF no sentido de impedir a votação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff no próximo domingo. Havia o temor de um "desgaste" com uma eventual rejeição do STF. Se ficou mais "desgastada" a situação do Planalto eu não sei. O fato é que a sorte está mesmo lançada para o dia 17, no domingo. A maioria dos ministros do STF não viram nenhum problema de o pedido ser votado como está. Compete aos parlamentares ficarem atentos às tais pedaladas, que é o que está em jogo, e deixarem as outras questões de lado.
Aos coxinhas de plantão e aos brasileiros preocupados com os rumos que o país pode tomar consumado este processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff, que cumpre apenas uma das etapas do jogo, aconselharia a leitura do artigo do professor Fernando Magalhães, publicado aqui no blog. Deixo o link com vocês no final deste editorial. Assim como a peça de defesa da presidente Dilma Rousseff, produzida por Cardoso, poderia refrear essa insensatez - como informa o cientista político Michel Zaidan Filho. Isso se houvesse algum interesse de conciliação nacional entre esses abutres - o artigo do professor Fernando Magalhães antecipa cenários que deixariam qualquer parlamentar de sobreaviso sobre o day after.
Não são todos que bradam o "Fora, Dilma", que dimensionam corretamente o problema. Em 1964, por exemplo, hoje uma das entidades mais engajadas na defesa do impeachment, a OAB, apenas se deu conta do problema com a decretação do Ato Institucional Número 05, que comprometeu bastante as liberdades individuais e coletivas. Várias secções regionais da OAB foram vítimas de atentados, inclusive a pernambucana, e, nem assim, parece que eles aprenderam a lição. Em 2016 estão aí, novamente, para endossar essa ilegalidade contra o mandato da presidente Dilma Rousseff.
Se Dilma cair ela não cairá sozinha. Levará com ela os milhares de brasileiros e brasileiras que votaram nela nas eleições de outubro de 2014; os avanços conquistados no enfrentamento do problema da pobreza no país; o legado da diminuição das desigualdades sociais; o combate sistemático à corrupção; e, o mais importante: a manutenção e o aperfeiçoamento de nossas instituições democráticas. Sem o devido respeito ao seu mandato, corremos sérios riscos de um retrocesso. Perdemos todos. Vai com Dilma o fio da esperança da legalidade, da preservação do Estado Democrático de Direito, que passou a ser "assediado" nos últimos anos.
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