Não é fácil encontrar uma solução para essas massas falidas
do período do apogeu do setor têxtil. Uma série de referências históricas desse
período já se encontram irremediavelmente perdidas. Isso ocorre em todo o
Brasil e Pernambuco não seria uma exceção. Aqui no Estado os exemplos saltam
aos olhos. Fábrica de Camaragibe - onde possivelmente foi construída a primeira
vila operária da América Latina - A Fábrica da Macaxeira, A Fábrica da Torre, A
Fábrica de Tecidos de Goiana - cujo acervo é mantido há muito custo pelos familiares
- as companhias da família Lundgren, em Paulista (PE) e Rio Tinto (PB). Em
Paulista há um grupo imobiliário com projeto aprovado para a construção de um
shopping center no terreno da antiga Companhia de Tecidos Paulista. O curioso é
que a cidade ressente-se da quase absoluta ausência de equipamentos de lazer
para a população. A pracinha central fica praticamente espremida entre edificações.
As chaminés da antiga fábrica, em razão do tombamento, serão mantidas. Terão
que conviver – assim como ocorre com os edifícios modernos do Recife – com casarões
preservados, quase sempre transformados em salão de festas. Uma solução
estética horrível. Quando questionamos sobre o Plano Diretor do Município,
fomos informados que uma das gestões do município o havia modificado consoante os
interesses do grupo investidor. Assim como ocorre com o Recife – como diria
aquele grafiteiro do Hospital da Tamarineira – o urbanista é o capital.
De
fato, sabemos que a questão não é tão simples. Envolve espólios familiares em
litígio, além de inúmeros embaraços jurídicos. A isso, se somam os altos custos
de recuperação e manutenção desses colossos. Certamente, o Estado teria
instrumentos para intervir no sentido de dar a esses espólios uma destinação
mais adequada. Em Pilar, na Paraíba, o antigo Engenho Corredor - onde o
escritor José Lins do Rego passou sua infância e escreveu os famosos romances
do ciclo da cana-de-açúcar - quase vinha abaixo, em razão de uma pendenga
familiar. As ações do poder público contribuíram para a sua preservação. O
engenho Corredor está sendo totalmente recuperado. Na última vez que passamos
por lá, sentimos a falta de água que provocava as enchentes do Rio Paraíba, mas
estavam lá as cajaranas em flor, exalando aquele cheiro característico, tão bem
descritos pelo escritor.
Em
relação à Fábrica Tacaruna, resultado de uma polêmica recente, o que nos parece
ter indignado a população é o enredo nebuloso de uma negociação profundamente
lesiva os interesses do Estado. Se não, vejamos: a) O Estado de Pernambuco
pagou, em 2006, a quantia de 14 milhões pelo espólio. Como é que agora faz uma
doação sem ônus a uma multinacional? b) Há um projeto concebido de destinação
àquele logradouro. Embora nunca materializado, não significa dizer que não
seria de melhor proveito para a população; c) Conforme já comentamos, também
existem estudos no sentido de integrar todos aqueles equipamentos do entorno - Espaço
Ciência, Centro de Convenções, Shopping Tacaruna - com a requalificação da
Praia Del Chifre.
Em
última análise, diferentemente dos elogios da imprensa tupiniquim à medida,
havia outras possibilidades em curso e a medida fere frontalmente os interesses
públicos. Alguém estava questionando aqui pelas redes, ainda hoje, a omissão
dos órgãos de fiscalização das ações do poder público. Cadê o TCE, TCU - já
que, segundo consta, o Estado também teria recebido recursos federais para
investir no prédio - o Ministério Público, o IPHAN? Acreditamos que a
mobilização da sociedade civil provocará um pronunciamento desses órgãos. Não é
possível esse silêncio sepulcral.
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