publicado em 2 de abril de 2014 às 18:12
A CHAPA VERDE-ENCARNADA
por Michel Zaidan Filho*
O repórter de um veículo de comunicação exibiu trechos do
pronunciamento dos integrantes da chapa “Verde-encarnada”, para que
fossem comentados por mim, numa entrevista ao vivo, logo depois do
lançamento dessa chapa.
O que mais chama atenção nesse discurso — para eleitores e ouvintes
desavisados — é como um todo um legado de políticas de desenvolvimento
regional integrada, cujo foco era povo e nação, foi torcido e retorcido
pelos candidatos em função das novas conveniências políticas da hora.
Desde que retornou do exílio forçado a que foi submetido pela
Ditadura Militar, o ex-governador Miguel Arraes de Alencar sempre esteve
no lado oposto aos presidentes civis que assumiram o governo do país.
Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique Cardoso trataram a “pão e
água” a gestão do velho Arraes, patrocinando e prestigiando seus
adversários políticos em Pernambuco.
Enquanto o ex-governador amargava uma solidão federativa, por se opor
a “Nova Política” de Collor, Itamar e Fernando Henrique, procurou em
vão, fora do Brasil, parcerias para o desenvolvimento de seus projetos
sociais.
O cerne dessa oposição é bem conhecido: sua recusa às políticas de
desregionalização da economia, em prol de uma “uma integração
competitiva” do país na globalização dos mercados.
Arraes defendeu até o fim a necessidade dessas políticas de
desenvolvimento regional integrado, contrapondo-se assim à chamada
“guerra fiscal” e a destruição do pacto federativo.
Pagou caro pela sua coerência. E aí vem o neto e renega o legado do
avô, dizendo-se admirador de Itamar e Fernando Henrique Cardoso.
Se essa nova versão do PSB está de acordo com o misto de
neo-patrimonialismo e gerencialismo (que marcou também o longo governo
de FHC) seguido em Pernambuco pelo atual chefe do Executivo estadual,
como foi sugerido pela contratação de um assessor de Aécio Neves, para
dar um choque de gestão na administração estadual, entende-se.
Mas a revisão vai além, pois trata-se de uma manobra retórica para
aproximação com o PSDB e outros partidos satélites, como o PPS e um
pedaço do PMDB.
A mudança de rumo e de tom significa que a política do PSB e da família Arraes agora é outra: o mercado, não o povo ou a nação.
A nova política do candidato e governador é “vender” o Brasil a
investidores estrangeiros, através de renúncia fiscal e relaxamento das
políticas de proteção sócio-ambiental.
O que parece conduzir a uma grave contradição com as intenções programáticas da irmã Marina Silva.
Afinal, como conciliar uma política gerencial e de mercado com o tal
desenvolvimento sustentável, de que tanto fala a ex-senadora do Acre? Ou
ficamos com o discurso “novo” do PSDB e seus aliados, que diz ser o
principal papel do estado criar um clima ótimo para os negócios,
eliminando entraves políticos e sociais (SUDENE, proteção ao
meio-ambiente, direitos trabalhistas etc.), ou ficamos no lenga-lenga
da rede-solidariedade do desenvolvimento justo,
sustentável,equilibrado, que vai preservar a biodiversidade do Planeta e
apoiar a economia solidária.
Há qualquer coisa de dissonante nesse arranjo. Não se pode ao mesmo
tempo defender uma forma de estimulo às atividades econômicas, apoiado
no fundo público e na desregulamentação do mercado, e proteger a
natureza, as espécies, as comunidades de pequenos produtores de
coletores que habitam as selvas brasileiras.
A não ser que o arranjo — mal engendrado — tenha um objetivo
meramente eleitoreiro e que aposte na idiotização dos eleitores
brasileiros.
*Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco
(Publicado originalemente no Viomundo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário