O caso do assassinato do garoto Bernando Boldrini continua chocando o país. Como se trata de um caso rumoroso, envolvendo uma família de classe média, repercute na imprensa e acaba tornando-se um motivo de comoção nacional. Não quero aqui emitir nenhum juízo de valor, mas casos bem mais chocantes ocorrem todos os dias, nas periferias, sem alcançar a mesma repercussão. Lembro aqui o caso de "Um real", uma criança de 12 anos, assassinada a pauladas, na cidade de Camaragibe, há alguns anos atrás. O caso nunca foi devidamente esclarecido. Nunca foi divulgado o nome real da daquela jovem. A referência de "um real" dizia respeito ao valor que ela cobrava pelos programas que fazia. Era viciada em crack. Costumo afirmar que todas as instituições sociais falharam com "Um real". O caso de Bernardo Boldrini é emblemático porque ele, espontaneamente, teria procurado o Ministério Público com o objetivo de queixar-se da forma como era tratado pelo pai e a madrasta - afirmando que não gostaria de continuar com eles - e sugerindo outras duas famílias com quem gostaria de morar. Um dos juízes que teria lido o processo, chorou ao constatar que providências não teriam sido tomadas antes do desfecho trágico. Quando assumiu a Presidência da Fundação Joaquim Nabuco, o ex-ministro da Justiça, Fernando Lyra, também pensou em envolver a instituição na retirada dos menin@s de rua do Recife. A proposta não vingou por diversas razões, entre as quais a ausência de espertise da Casa em lidar com essas questões. A princípio, não era a dela. Trabalhamos 07 anos no Governo do Estado. na Secretaria da Justiça, conhecemos pessoas que lidavam com o assunto cotidianamente. Ao contrário do que se pensa, são pouquíssimos o número de crianças que perambulam pelas ruas do Recife, cujos pais, quando conhecidos, não possuem uma residência. Isso vem a calhar com o caso de Bernardo Boldrini. Em sua esmagadora maioria, essas crianças são vítimas de maus-tratos e abusos sexuais em casa. A rua, nessas circunstâncias, torna-se um lugar mais seguro. Profundamente lamentável que o Estado, através do Ministério Público não tenha agido a tempo de evitar a morte desse garoto.
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