pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Por que escrever sobre Eduardo Campos?
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domingo, 6 de abril de 2014

Por que escrever sobre Eduardo Campos?





                                        Quando um governador de Estado abandona o seu posto para se candidatar à vaga de Presidente da República, em oposição ao governo federal, ele atrai sobre si a atenção de muitas pessoas. A imprensa do sul do país (O Globo, a Folha de São Paulo, a revista Piauí), ao contrário da imprensa local, busca avidamente informações sobre o perfil administrativo do ex-governador de Pernambuco,  sobre a sua trajetória política, sua herança familiar etc. É nosso dever saciar essa sede. Ministrar à opinião pública do país  informações úteis e valiosas sobre o candidato, evitar que se compre gato por lebre.
                                        Quando o ambiente econômico do Brasil parece se deteriorar, a par dos efeitos deletérios da crise econômica mundial, e quando os efeitos do chamado "neo-desenvolvimentismo" da presidente Dilma parecem se esgotar, o momento é propício para as candidaturas de oposição. Cada qual que se apresente como a fórmula mágica que vai redimir, mais uma vez, os brasileiros da inflação, do endividamento, do baixo crescimento e da pesada carga tributária que nos oprime.
                                         Há também o efeito de demonstração dos partidos oposicionistas no Congresso esperando tirar uma carona na instalação das CPIs.  Isto não é novidade. Combina com o ambiente turvo e carregado da pré-campanha eleitoral.
                                          Mas uma vez seremos tragados por uma tempestade de acusações, denúncias, processos. A nossa esfera pública  vai se transformar em ante sala de delegacia de polícia. Em vez de argumentos, acusações. Os judas escariotes da hora apontarão o dedo sujo para os aliados de véspera, apostando na amnésia histórica do povo brasileiro. Por um passe de mágica, os mesmos que comungavam da mesma cartilha do "neo-desenvolvimentismo", apoiado no fundo público, na renúncia fiscal e no endividamento das famílias vão se arvoram agora em salvadores da pátria, prometendo fazer mais e melhor. Se Pernambuco for o laboratório dessa "boa nova", apadrinhada pela irmã Marina Silva,   o Brasil deve ficar parecido como o Estado Novo, do ditador Getúlio Vargas. Afinal, foi Agamenon Magalhães o encarregado por Getúlio para inaugurar a "emoção do Estado Novo" em Pernambuco. Pelo andar da carruagem imperial na província, pode-se imaginar como será o governo do reino.
                                         Mas, em que consiste exatamente a novidade? A Nova Política? E o novo candidato? -Na continuidade da agenda gerencial de FHC. Publicização dos bens de utilidade pública (saúde, educação, museus, laboratórios etc.), transferidos sem mais para as OSSIPs e outras entidades do terceiro setor; privatização da segurança pública, venda do Estado a empresas e investidores à custa das medidas de proteção sócio-ambiental. Modelo gerencial (leia-se: privatista) de administração pública misturado com familismo amoral. Exemplo de gestor que trocou o interesse público pelo mercado, sob a alegação de criação de empregos e geração de renda. É até possível que o ex-governador aponte estatísticas favoráveis para convalidar o sucesso de sua gestão. Mas é inegável que o modelo empregado é aquilo que Celso Furtado chamou de "socialização das perdas" e "privatização dos lucros". A política econômica dos "pólos de desenvolvimentos" ("state-region", em inglês) é uma tipica medida dos gerentes da globalização: fragmentasse o espaço geo-político do Estado, instalando-se nichos de competitividade, altamente incentivados, sem nenhuma conexão orgânica com as regiões adjacentes, produzindo modelos duais de emprego, renda, moradia, lazer e tansferindo para as cidades vizinhas o ônus  da subcidadania. Nunca um gestor gastou tanto dinheiro em propaganda. A licitação de mais de 100 milhões entre agências e veículos de comunicação deve ter produzido a alquimia, perante os olhos da população, de um governo operoso, eficiente, justo e "moderno".
      
                                       Poderíamos ainda indagar: em que se fundamenta a boa nova desse candidato? -  Na reprodução da oligarquia de Pernambuco, utilizando os cacoetes da administração gerencial do Estado. Cara nova, conteúdo velho. Quem não te conhece, que te compre.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco

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