Em 1651 Thomas Hobbes escreveria um livro que se tornou um clássico
entre os manuais de ciência política. O livro se tornaria uma das
principais referências na chamada Teoria
do Contrato Social. Escrito em meio ao caos provocado pela Guerra Civil
Inglesa, o Leviatã se constitui numa antítese ao "Bellum ominium contra
omnes", ou seja, a guerra dos homens contra os homens, também chamada
pelo autor como estado de natureza. Neste contexto, Hobbes propõe um
governo central forte e eclesiástico, além de uma "sociedade", que pode
ser traduzida como padrões civilizatórios de convivência, com direitos
delegados ao Estado - que arbitraria os litígios - para que pudéssemos
fugir da babárie. Naturalmente, outras leituras são possíveis a partir
do texto do autor inglês, inclusive no que concerne à constituição desse
governo forte e eclesiástico, adjetivos que podem remeter à tendências
autocráticas e limitadoras das manifestações religiosas. Essa introdução
vem a propósito do ainda recente pronunciamento da jornalista do SBT,
Rachel Sheherazade, quando do episódio envolvendo aquele jovem negro
espancado e amarrado pela população no Rio de Janeiro. Pois bem. Logo em
seguida - além da repercussão negativa produzida por sua fala -
surgiram uma série de atos do gênero - onde a população resolveu fazer
"justiça" com as próprias mãos, em alguns casos, possivelmente,
trucidano inocentes. Não foram poucos. Alguns deles bastante "festejado"
pelas redes sociais. Lembro de um jovem que teve seus dedos decepados,
um outro de 17 anos que foi espancado até a morte. Todos jovens negros. É
o que estamos denominando aqui de "Efeito Sheherazade". Indícios
perigosos da volta do "estado de natureza" descrito por Hobbes. Um
quadro profundamente lamentável. O pior é que essas situações servem
como fermento para alimentar a sanha de alguns irresponsáveis, que
clamam pela volta de governos ditatoriais, abdicando do Estado
Democrático de Direito, com argumentos insustentáveis, do tipo: "Tá com
pena? leva ele para a sua casa"
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