No último dia 26 deste mês, o
Espaço Socialista realizou um grande seminário intitulado: "Outro
Pernambuco é possível", diagnósticos e perspectivas, cujo fim era
analisar os resultados dos dois mandatos do ex-governador e candidato, e
traçar diretrizes para as eleições estaduais e nacionais de outubro.
Uma das mesas tratava especificamente do "neo-desenvolvimentismo" como
característica da política econômica empregada por Dilma e pelo
ex-mandatário de Pernambuco. Esse é um tema que suscita muitas paixões e
discussões acaloradas. Estivemos ou não diante de um ciclo virtuoso de
investimentos, emprego e renda, que começou no governo do PT e que ainda
continua, como afirma o ministro Aloizio Mercadante? Ou estaríamos no
fim desse ciclo e experimentando as consequências da crime econômica
mundial sobre o país? - Essa é a questão.
O
governo do presidente LULA foi altamente beneficiado pelo "céu de
brigadeiro" da economia internacional. Acumulou divisas. Exportou as
"commodites". Teve um bom desempenho nos índices de crescimento
econômico. Controlou a inflação. Manteve o equilíbrio (com superavit) da
balança comercial. Distribuiu renda através de bolsas, aposentadorias e
aumento do salário real. Mas a situação mudou, com a posse da
presidente Dilma. O "céu de brigadeiro" da economia internacional se
foi. Veio uma tempestade iniciada com o estouro da bolha imobiliária
norte americana e da crise do euro. Essa crise que atinge diretamente o
resto do mundo, dado o grau de interdependencia da economia mundial, foi
enfrentada no Brasil com um conjunto de medidas econômicas, chamado de
"neo-desenvolvimentismo", em referência à política desenvolvimentista de
Getúlio Vargas. Em flagrante oposição ao fundamentalismo fiscal do
governo de FHC, que privilegiou o combate a inflação com uma terapia
fiscal e financeira (taxa de juros, superavit fiscal alto, e meta de
inflação apertada), o governo Dilma resolveu estimular a economia do
país, num contexto de crise internacional, através do financiamento
público-estatal de obras de infra-estrutura (o PAC e as obras da COPA), o
consumo privado das famílias e a venda de automóveis, casas e
eletro-domésticos por meio da isenção do IPI.
Essa estrategia funcionou
durante um certo tempo, até atingir sua exaustão com o inadimplimento dos
consumidores, o fim da redução do IPI, o encarecimento do crédito, o
superávit primário alto, o desequilíbrio da balança de pagamentos, a
retomada da inflação, o baixo crescimento econômico e o estrangulamento
da infra-estrutura do país (a crise energética, entre outros pontos do
estrangulamento).
A
estratégia neo-desenvolvimentista esgotou-se no endividamento do país e
das famílias. No formidável acocho das finanças públicas (44 bilhões de
reais) para o pagamento do serviço da astronômica dívida interna. No
aumento do preços administrados. Na volta da inflação. O que constitui,
naturalmente, o principal obstáculo para a reeleição da presidenta. Nem
tanto as denúncias de corrupção na Petrobras.
Em
Pernambuco, a situação não foi muito diferente. Quem vai pagar os custos
desse "desenvolvimento" são os contribuintes. Beneficiado, como foi,
por essas medidas federais, o ex-governador se comportou como um
autêntico "salesman", um vendedor dos ativos da Estado de Pernambuco,
através de uma farta e generosa renúncia fiscal e liberalização da
legislação de proteção sócio-ambiental. O impacto desse pletora de
negócios sobre a população do Estado já se faz sentir. Como uma
modalidade "espúria" de política neo-keinesiana", ela só copia um lado
da moeda, sem se preocupar com os efeitos danosos sobre o meio-ambiente,
as comunidades locais afetadas por esses empreendimentos, a alta do
custo de vida, os inúmeros constrangimentos infringidos à população, o
desrespeito aos mais comezinhos direitos dos mais pobres e a violência
empregada contra a oposição.
Passada essa quadra (com o fim dos jogos da Copa do Mundo), vamos
avaliar se sobreviveremos até as eleições. Aí, teremos um quadro
realista das condições sócio-econômicas e ambientais do país e do
estado, para escolher que modelo de desenvolvimento queremos para nós.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
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