A cada
período eleitoral no Brasil, tenho que responder ao meu filho uma
pergunta aparentemente embaraçosa: porque votar sempre nos candidatos
que perdem, não nos que sempre ganham?
Não é esta
uma questão fácil de responder para aqueles que acham a vitória ou
sucesso, a qualquer custo, o critério da verdade histórica ou eleitoral.
Há muita vitória de "pirro", feita de enganação, fraude, ludíbrio,
manipulação do voto dos eleitores. O nosso sistema político-eleitoral
deixa muitas brechas para o abuso do poder economico, da propaganda
enganosa e do efeito de demonstração das pesquisas eleitorais sobre a
corrida dos candidatos. Num pleito desigual como o nosso, os pequenos
partidos e os candidatos com poucos recursos (e tempo de propaganda na
TV) são invariavelmente prejudicados. E isso não tem nada a vem com a
qualidade, a honestidade o espírito cívico dos candidatos.
Perder uma
eleição não é o fim do mundo. Existem derrotas que deixam muitas
vitórias. E vitórias que se transformam rapidamente em derrotas. Um
candidato que politiza o debate político, na campanha eleitoral,
forçando - pelo efeito da comparação - os demais explicitarem os pontos
obscuros, vagos, imprecisos de seus programas, contribue mais para o
avanço democrático da sociedade, do que os que ganham, apostando na
ambiguidade de suas propostas. De nada adianta ser vitorioso a custa de
sofismas e falácias, se depois de eleito tiver que corromper partidos e
aliados para governar. Melhor seria perder defendendo publicamente, sem
rebuços, teses e princípios republicanos, democráticos, de interesse
público. Há muito o que aprender com essas derrotas. Elas nos ensinam a
dignidade da política, que nem todos politicos são iguais. E que o
discurso político não precisa ser um sofisma.
Estamos na
ante-véspera de mais uma campanha presidencial. Quem era do partido A
vai se apresentar como partido B. Quem era da situação, vai dizer que
sempre foi da oposição. Quem defendia um certo legado político, vai
aparecer travestido com um outro legado, se dizendo mais moderno, mais
atualizado, "up to date". Mas o eleitor não deve fazer da eleição ma
corrida de cavalos. Votar necessariamente em quem está na frente ou pode
ganhar a corrida. É preciso discernimento para escolher com paixão e
veemência aqueles que mais se aproximam de nossas idéias e convicções.
Mesmo que não vençam a eleição. O seu legado de honestidade e
desprendimento há de prevalecer sobre os rastos dos discurso vão.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco
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