pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Michel Zaidan Filho: O Estado não é um prolongamento da família
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terça-feira, 19 de agosto de 2014

Michel Zaidan Filho: O Estado não é um prolongamento da família




Seguindo as lições de Hegel, Weber e o nosso brasileiríssimo Sérgio Buarque de Holanda - o pai de Chico Buarque de Holanda - a matriz formadora do estado brasileiro é a moral da família, ou a ética de Antígona, onde os deveres e as lealdades de sangue se sobrepõe  as do Estado republicano. Diz o historiador paulista que o patrimonialismo é a marca registrada das nossas instituições políticas locais e nacionais. Os chefes políticos e oligarcas pensam que o Estado é um mero prolongamento da organização familiar. E agem, segundo o famoso dito popular: "amigos e parentes, tudo. Aos inimigos, os rigores da lei". Nada mais contrário ao espírito do Estado Moderno (também chamado de racional-legal ou burocrático) do que a ética da família, dos irmãos, dos filhos, dos maridos ou dos avôs. O Estado não pode e não deve ser gerido como uma "Casa Grande", segundo a vontade e  as conveniências do chefe ou dono da organização de parentela, como diz a Maria Isaura Pereira de Queiroz.
             Uma família, por mais ilustre e importante que ela julgue ser, não pode se arrogar decidir os rumos de uma campanha presidencial. Muito menos os parentes de uma família. 0 Estado republicano é maior do que uma oligarquia familiar, seja o nome que ela carregue. O Estado é público, a oligarquia é da família e dos amigos e apaniguados. Os negócios do Estado são públicos, de todos os cidadãos. Os negócios da oligarquia dizem respeito aos interesses da família. A condução do processo sucessório da chapa do PSB e o tratamento dado a esse processo pela mídia e as instituições competentes em legislação eleitoral no Brasil e Pernambuco  não podem fechar os olhos para essa "ação entre familiares e amigos" que tem sido a questão sucessória do falecido candidato. Ou existe partido, instituição pública, com estatuto, comando e diretório, ou uma sociedade conjugal ou familiar se sobrepõe à organização partidária e decide como vai ser a disputa e eleitoral.  O luto de ninguém autoriza tal aberração institucional. Afinal, há leis ou tudo é permitido na República brasileira.
             A escolha de uma militante pentecostal, vinculada por votos de fé à Igreja evangélica Assembléia de Deus, por decisão do irmão e da esposa do falecido, reduz à disputa sucessória a quem acredita em Deus, no criacionismo, na Bíblia, no casamento heterossexual etc. E em quem não acredita ou aceita esses dogmas religiosos. A esfera pública-eleitoral dessas próximas eleições não pode se reduzir a um debate pobre, fundamentalista, conservador como esse, enquanto os problemas econômicos, administrativos, sociais e de infra-estrutura aguardam pacientemente por uma solução. Há um casamento do obscurantismo com o familismo amoral nessa saída. Nem um nem outro é salutar para a sociedade brasileira. Aqueles que defendem um estado laico, republicano e socialista têm que se manifestar diante de uma tal retrocesso nas conquistas democráticas do povo brasileiro.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.

2 comentários:

  1. Foi lamentável a politização da morte de Eduardo Campos. A família de Eduardo e a grande mídia prestou-se a esse espetáculo deprimente, numa atitude digna de repúdio, misturando os sentimentos mais nobres com a tentativa de aproveitar a comoção por todos sentida com a promoção da candidata Marina Silva. Fiquei abatido com a morte e decepcionado com as atitudes adotadas.

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  2. Boa noite, Flávio Lyra. Muito sensata sua observação. Os artigos do professor Michel, em razão da comoção daquele momento, a princípio, causaram um certo estranhamento de alguns pessoas, que o criticaram bastante. Mas, logo em seguida, teve o seu reconhecimento, ao apontar os graves equívocos do uso político do episódio trágico que foi a morte do ex-governador. Um forte abraço!

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