Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
É uma afronta aos pernambucanos, que sofrem com o precário serviço de
fornecimento de energia elétrica, os benefícios tarifários concedidos à Companhia
Energética de Pernambuco (Celpe). A Agencia Nacional de Energia Elétrica
(Aneel) acaba de anunciar novo reajuste ordinário – a contar a partir de 29 de
abril próximo. Para os consumidores residenciais, o reajuste foi de 11,19%, e,
para as indústrias, de 10,91%.
Estes reajustes só são possíveis devido às “facilidades” incluídas no contrato
de concessão (também chamado de privatização). Ao calcular o reajuste, a Aneel
considera os custos que a empresa teve, incluindo custos típicos da atividade
de distribuição sobre os quais incide o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M),
e outros custos que não acompanham o índice inflacionário, como energia
comprada, encargos de transmissão e encargos setoriais. O IGP-M, índice
adotado, apresenta valores superiores ao índice oficial da inflação, o Índice
de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Portanto, está nos contratos de privatização a “armadilha” que torna os
aumentos nas contas de energia tão exorbitantes. Neste modelo as concessionárias
nunca perdem. Na realidade, ganham sempre, pois é um modelo de “capitalismo sem
risco”.
O caso da Celpe é emblemático. A própria Aneel mostra
que, desde 2011 quando começou a ser divulgado, o Indicador de Desempenho
Global de Continuidade (DGC) da Celpe só tem piorado. Ou seja, cai a
qualidade do serviço e o consumidor é penalizado com aumentos devido às
“facilidades” contratuais para a sua concessão.
Ano
|
DGC
|
Classificação
|
2011
|
0,67
|
4º lugar
(entre 33 distribuidoras)
|
2012
|
0,84
|
16º lugar
(entre 35 distribuidoras)
|
2013
2014
|
0,99
1,11
|
24º lugar
(entre 35 distribuidoras)
27º lugar
(entre 36 distribuidoras)
|
Some-se o fato de que novas “facilidades” podem ser criadas – como é o
caso, neste ano, da instituição das bandeiras tarifárias (no caso da bandeira
vermelha, com previsão para todo o ano de 2015, representa um acréscimo de 8,5
% em média na tarifa), cujos valores arrecadados vão direto para os caixas das distribuidoras.
Segundo estimativas da Aneel, as distribuidoras devem arrecadar cerca de
R$ 18 bilhões este ano. Estas
empresas ainda pleitearam e receberam um reajuste extraordinário nas tarifas,
que no caso da Celpe correspondeu a mais um aumento de 2,2%. E, agora, soma-se mais
este reajuste ordinário.
Os afrontosos aumentos nas tarifas de energia elétrica, atividade
essencial, não deveriam ser concedidos sem que, ao menos, se levasse em conta a
qualidade do serviço oferecido. Em recente pesquisa popular realizada pelo
Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN), os próprios usuários dos
serviços da Celpe atestaram que costumeiramente falta energia em suas
residências. De 624 entrevistados, 555 (89%) consideram comum a interrupção de
energia.
Como fica claro, pelos dados oficiais, a
deterioração dos serviços prestados à população pernambucana, os aumentos nas
tarifas se tornam uma recompensa a ineficiência. Um estímulo para o “quanto
pior o serviço, maior o custo para o consumidor”.
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