Publicado em 10/04/2015 às 10:34 por jamildo em Notícias
Demorou, mas saiu
Por Michael Zaidan
Quando fui convidado pelo ex-governador de Pernambuco, ainda durante
as cerimônias fúnebres da morte de meu saudoso pai, para contribuir
criticamente na formulação do programa de governo e na composição de seu
secretariado, disse ao ex-mandatário estadual que não imitasse o seu
antecessor raivoso, me processando por críticas e reparos à sua gestão.
Hoje, vejo que a promessa feita, naquela ocasião, por Eduardo Campos não
se cumpriu.
Acabo de saber, através do Blog de Jamildo, que
apesar de respeitar a chamada “liberdade de expressão”, o advogado,
irmão do ex-governador e pré-candidato à Prefeitura de Olinda, vai
ajuizar uma interpelação judicial sobre o conteúdo do artigo publicado
neste Blog: “não vamos desistir de vocês”.
Vamos ver se entendi.
A família Campos tem todo direito de usar o espaço público para dizer
a alto e bom som que não vai desistir de governar Pernambuco, Olinda e
Recife. Mas eu não posso mais fazer críticas a essa oligarquia familiar,
sob o risco de responder a uma interpelação judicial sobre o que eu
disser.
Se a regra tem reciprocidade por que quando o senhor “Juninho Matuto”
atacou a minha honra pessoal, com injúrias e difamação, a serviço dessa
mesma oligarquia o dono do jornal (Folha de Pernambuco), onde foi
veiculada a matéria, não permitiu o direito legal de resposta?-
O senhor Campos, do alto de seu saber literário e jurídico acha que
pode contar com os serviços de um apaniguado para ofender, humilhar,
enxovalhar a honra dos críticos da gestão do seu falecido irmão, e ele –
pretenso candidato à Prefeitura de Olinda – não pode ser alvo de
nenhuma crítica?
Acha mesmo o ilustre filho do escritor Renato Carneiro Campos que vai
entrar na vida pública, disputando um cargo majoritário, sem receber
nenhuma criticazinha, pelo menos? –
Está redondamente enganado. A administração pública obedece a
princípios constitucionais: impessoalidade, legalidade e transparência.
Como compatibilizar esses princípios com a atitude, pouco
republicana, de utilizar o nome da família para disputar e ocupar cargos
na administração municipal e estadual?
Desde quando utilizar a tipologia weberiana ou o conceito da
sociologia americana de “familismo amoral” é uma ofensa à honra de quem
quer que seja, senão às pretensões de caudilhos, chefes políticos e
oligarcas?
Para esses, a liberdade de imprensa é uma licença poética apenas
utilizada por eles para detratar os adversários e a justiça, uma forma
de intimidação dos críticos.
E olhe que a admoestação feita pelo advogado/literato estende-se ao Blog de Jamildo, dizendo abertamente que tenha cuidado com o que vem publicando (contra ele). É isso a liberdade de imprensa, em Pernambuco?
O direito de usar a mídia impressa e eletrônica para malbaratar a
integridade moral dos críticos e uma forma de propagandear o interesse
pela dominação familiar da política de nosso estado?
Quem disse que o irmão do ex-governador usou a sua proximidade com o
governo do estado para obter recursos destinados aos convescotes
literários de Olinda, não fui eu. Foi o correspondente da Folha de São
Paulo (Daniel Carvalho, hoje em Brasília), em entrevista no Shopping
Center Recife.
E ele disse mais: o governador retaliou a matéria por ele publicada
na Folha, sobre essa privilegiada relação político/familiar. Só repeti
uma informação que já vinha sendo repetida em vários lugares.
Também não afirmei que o citado advogado e pré-candidato usa o
prestígio (e o poder) da família para arrecadar dinheiro junto a
empresas que prestam serviço ao Estado. Só disse que não se deve fazer
isso, porque é crime contra a administração pública.
Está aí o escândalo da Petrobrás, onde o irmão de Campos aparece
mencionado nos depoimentos como beneficiário da bagatela de
20.000.000,00, nas obras de construção da Refinaria Abreu e Lima.
Nunca afirmei que o doutor Campos tenha sido beneficiado por essa
dinheirama. Certamente, com o seu prestígio literário, jurídico e
familiar, ele não deve ter dificuldades para arranjar financiadores para
seus projetos editoriais e congressuais.
Também não fui eu que disse que o senhor Antonio de Campos, neto de
Miguel Arraes e irmão de Eduardo Campos, já foi arrecadador de campanha
eleitoral.
A informação foi prestada por um conhecido político do PSDB de
Pernambuco, na época que o jornalista Eurico Andrade, da VEJA, estava
colhendo informações para a matéria publicada na revista: “Uma biografia
arranhada”, sobre Miguel Arraes e o escândalo dos precatórios. Se ele
continuou ou não nessa importante tarefa político-literária, não posso
dizer e nem disse.
Agora o que não se pode negar é a presença contínua, permanente,
constante da nobre figura do advogado, da viúva e da própria família do
ex-governador nos eventos políticos do estado. Nos funerais de Eduardo
Campos, nos out-doors da cidade, no programação nacional do PSB, nas
tratativas do lançamento de Marina Silva à Presidência da República etc.
Isso não é propriamente atitude de luto, tristeza pela morte de um
ente querido. É EXPLORAÇÃO POLÍTICA DE UMA TRAGÉDIA PESSOAL PARA FINS
ELEITOREIROS, que aliás rendeu muito dividendos e que o advogado espera
que continue rendendo (para ele e sua família).
É crime afirmar que “o rei está nu”?
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
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