pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: "Se o andar de cima bater mais panela, só resta ao andar de baixo botar fogo no fogão"
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quarta-feira, 8 de abril de 2015

"Se o andar de cima bater mais panela, só resta ao andar de baixo botar fogo no fogão"


publicado em 08 de abril de 2015 às 06:50
xô golpistas
por Raimundo Bonfim, especial para o Viomundo 
Antes e durante a campanha eleitoral do ano passado ficou evidente que o campo popular representado pelos movimentos sociais e o governo federal  vinham perdendo a batalha da comunicação. Durante os 12 anos de governos Lula/Dilma não se enfrentou a mídia monopolista e golpista, se ignorou a importância da reforma política , além de abandonadas as disputas ideológica e cultural.
As manifestações de junho de 2013 e as da Copa do Mundo de 2014 mostraram notórios sinais de disposição da mídia e da oposição de colocarem fim aos governos liderados pelo PT. Depois, nas eleições de 2014 os ataques se intensificaram.
As comparações de crescimento econômico, das políticas sociais e distribuição de renda entres os períodos FHC e de Lula/Dilma não foram os fatores principais da disputa, como ocorreram nas eleições anteriores.  Não fosse a atuação contundente do movimento político e social que extrapolou a esfera partidária, certamente o candidato Aécio teria vencido o pleito.
O principal diferencial foi o engajamento dos movimentos sociais, que certamente contribuiram para assegurar a vitória da presidenta Dilma, numa das mais acirradas disputas eleitorais do último período democrático. A vitória eleitoral foi resultado de um discurso e compromisso com uma pauta de esquerda, num duro embate com as teses neoliberais e conservadoras. E foi neste embate que mobilizamos centenas de milhares de militantes para impedir o retrocesso político, econômico e social no Brasil.
No entanto, antes mesmo da posse da presidenta, fomos surpreendidos com a composição conservadora dos ministérios (com Kátia Abreu, Levy, Armando Monteiro e Kassab, entre outros), num claro “afago” à direita. Após a posse, veio o ajuste fiscal – afetando direitos trabalhistas, previdenciários e as políticas sociais, causando uma enorme frustração nos setores populares e de esquerda que foram às ruas defender a reeleição.
A direita, que na campanha já tinha ganhado terreno com discurso conservador, elegeu como presidente da Câmara dos Deputados um legítimo representante seu, Eduardo Cunha, do PMDB.
Em pouco mais de dois meses, a Câmara dos Deputados numa velocidade sem precedente, de um lado, se colocou contra propostas progressistas como o fim do financiamento empresarial, o projeto de criminalização da homofobia, a regulamentação da mídia, entre outros.
Do outro, encampou as bandeiras de direita, como o projeto de redução da maioridade penal, estatuto da família, a antirreforma política. Nesse ponto, Eduardo Cunha tem agido em conluio com o ministro do STF Gilmar Mendes, que engaveta há mais de um ano a ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) apresentada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) contra o financiamento empresarial de campanhas, mesmo já tendo alcançado a maioria de votos favorável à inconstitucionalidade.
A direita está se sentindo tão forte (no parlamento e nas ruas, com o apoio explícito da mídia) que nesse momento propala abertamente o golpe através do  impeachment ou, inclusive por meio da intervenção militar.
É tímida a reação das forças partidárias de esquerda que compõem o governo dada a gravidade da crise política. Diante da lacuna deixada pelos partidos políticos, assim como na disputa eleitoral de 2014, novamente os movimentos sociais estão indo às ruas para lutar contra o golpe, defender a democracia e enfrentar a direita.
No dia 13/03/2015, sem a participação dos partidos políticos, um conjunto de entidades e movimentos populares, sindicais e sociais, entres as quais, a CUT, CTB, CMP, MST, Levante Popular da Juventude, MAB e UNE, liderou nas ruas um amplo processo de mobilizações de massas contra o golpe, na defesa da democracia, de suas bandeiras históricas, dos compromissos de campanha que propiciaram a eleição de Dilma.
No dia 31 de março último,os mesmos movimentos sociais organizaram no país várias plenárias com a militância (a maior em São Paulo, com 3 mil pessoas). Desta vez tivemos o apoio do PT e PCdoB.
As plenárias tiveram o objetivo de fazer avaliação das mobilizações do dia 13/03/2015, animar a militância e aprovar um calendário de manifestações para os próximos meses, com destaque para o dia primeiro de maio – que se estenderá para além do movimento sindical, mas abarcará todos os movimentos sociais.
Agora o enfretamento deve ser político e tem que ser nas ruas. Esgotou-se a política de conciliação de classes, prioridade no campo institucional e alianças pragmáticas. Até porque, no cenário de crise econômica não há mais “cobertor” para os muito ricos e para os pobres. Os ricos que paguem a conta da crise, pois os trabalhadores e os movimentos sociais defendem que “direitos não podem ser reduzidos, mas ampliados”.
Estamos e continuaremos nas ruas defendendo a democracia e contra o golpe, pois, não é momento de vacilo, todas as forças de esquerda ou democrática, devem também combater o ajuste fiscal, no que penaliza os trabalhadores e direitos sociais.
Defenderemos o mandato da presidenta Dilma e, ao mesmo tempo, pressionaremos que implemente o programa vitorioso nas urnas, em especial o aprofundamento das políticas sociais, distribuição de renda e a pauta dos movimentos sociais. Que o governo encampe, ainda que seja derrotado no congresso, pautas como a regulamentação da mídia, a criminalização da homofobia, taxação das grandes fortunas e plebiscito da constituinte exclusiva.
Defendemos a retomada  das reformas agrária e urbana e a manutenção dos programas sociais. Não aceitamos corte de recursos dos programas “Mais Médicos” e “Minha Casa, Minha Vida”.
Os movimentos sociais não vão nem devem ficar em casa esperando a recomposição da base governista e assistindo o aumento da fúria direitista – que, além de pregar o “Fora Dilma” e “Fora PT”, dissemina o ódio, a homofobia, o preconceito racial, de gênero e contra os pobres.
É verdade que há falhas na articulação política do governo, mas está redondamente enganado quem achar que a troca de um ministro por outro ou a cessão de mais espaço para o PMDB vai resolver a crise política. O andar de cima está decido derrotar o de baixo, estamos diante de uma luta de classe.
Nossa articulação e mobilização serão indispensáveis e necessárias para frear a ascensão da direita. E é nas ruas que vamos ganhar essa batalha decisiva contra o golpismo, contra o fascismo, pela democracia e pelos direitos e política sociais. É hora de mobilizar milhões contra o golpe da direita e dos setores reacionários. E os movimentos sociais cumprem  novamente o papel decisivo no atual momento político brasileiro.
Por fim, reafirmo o que disse na plenária dos movimentos sociais em São Paulo: se o andar de cima insistir em continuar batendo panela só resta o andar de baixo botar fogo no fogão.
Raimundo Bonfim, é advogado e coordenador-geral da Central de Movimentos Populares do Estado de São Paulo.
(Publicado originalmente no site Viomundo)

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