Fico muito preocupado com os rumos que os gestores estão imprimindo à cidade de Paulista, na Região Metropolitana do Recife. Nunca fiquei muito satisfeito com as parcerias público-privada e seus projetos de requalificação do seu centro histórico. Ocorre ali mais ou menos o que ocorre aqui no Recife, onde o capital acaba impondo seus interesses, com a conivência do poder público, onde a população sequer é ouvida sobre as intervenções no traçado urbano. Esse processo de exclusão de segmentos expressivos da população vai desde o momento da participação nas mesas de negociações até o seu alijamento literal da possibilidade de usufruir desse patrimônio, ou seja, a cidade passa a ser um espaço de alguns poucos privilegiados, aqueles que reúnem as condições econômicas de adquirir uma sala, um apartamento desses espigões de concreto, com o preço lá nas alturas. Forma-se um conluio entre poder público e iniciativa privada, extremamente danoso para alguns segmentos sociais, sobretudo os mais fragilizados. Daí ser muito comum a utilização do termo: "intervenção de caráter higienista" . Essa expressão, em certo sentido, é muito feliz uma vez que traduz o que ocorre na prática. O interesse público é totalmente subordinado às ações invasivas do capital. Não é incomum, uma vez aprovado esses projetos de intervenção urbana, depois surgirem as irregularidades corriqueiras: agentes públicos corrompidos; projetos aprovados sem uma análise consistente sobre seus impactos sociais e ambientais; segmentos sociais alijadas de participarem dos espaços urbanos. Infelizmente, a cidade ressente-se de gestores públicos sérios, de políticos rigorosamente preocupados com o bem-estar de sua população. Há muitos aventureiros, forasteiros e filhotes ou aprendizes de oligarcas. Historicamente, a cidade sempre foi muito segregacionista, isolando, de um lado, a oligarquia industrial da família Lundgren e, de um outro, os operários da Companhia de Tecidos Paulista. Um bom gestor público da cidade teria como missão primordial quebrar esses paradigmas históricos e não fortalecê-los, como nos parece ser a tendência adotada pelo atual prefeito, um preposto do ex-governador Eduardo Campos. Sabiamente, o professor Durval Muniz Jr nos recomenda muita cautela nesse discurso de "resgate histórico". Disse ele, em primeiro lugar, que quem resgata é o corpo de bombeiros ou o SAMU. Depois, há muito coisa que não vale a pena resgatar mesmo. Minha cidade é um exemplo típico disto. Que memória resgatar da opressão da família dos oligarcas industriais sobre a população mais carente da cidade? Em síntese, tanto as investidas do capital quanto aqueles que destoam dessas intervenções precisam fazer uma reflexão sobre o outro lado da história daquela cidade - que já foi um dos mais opulentos parques industriais têxteis do Brasil - mas que tem uma experiência marcada por muita opressão à classe operária.
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