Estava
eu saindo da UFPE, à noitinha, procurando me esquivar dos cabos
eleitorais das diversas candidaturas à reitoria, quando fui abordando
por um companheiro ligado a uma das chapas que, em tom de súplica, me
pediu que o ouvisse. Tudo bem: dizia que estava estarrecido diante do
circo de horrores em que tinha se tornado a eleição para reitor da Instituição de ensino público. Apoiador, como era, de uma candidata que
não estava na primeira linha das chapas majoritárias (pelo apoio e os
recursos), passou ele a relatar as práticas escabrosas utilizadas na
campanha pelos candidatos, escabrosas de fazer corar o mais atrasado
chefe político do interior. Ora era o gestor/candidato que estava
trocando cargos - de uma futura reestruturação administrativa da UFPE,
por apoio eleitoral. Ora era o uso desbragada da máquina administrativa
para arrastar diretores, chefes, coordenadores etc.
Ora era a cabala
descarada de votos por servidores da administração universitária,
devidamente uniformizados, formando grupinhos em torno das urnas e
sessões de votação, num declarado movimento de indução do voto de seus
subordinados. Segundo o colega, ocorreu até mesmo o episódio do
candidato/gestor comparecer ao núcleo de aulas da graduação/CFCH, para
"mandar os alunos descerem para votar (nele). Será que a universidade
tornou-se ela caudatária e herdeira de tudo que não presta na política
partidária do país? - Ou seja, ao invés de ser um centro irradiador da
mudança, da inovação, do espírito crítico, virou o museu de cera de
madade tussard das velhas práticas clientelísticas dos currais
eleitorais do interior? Mais lamentavel é ver colegas que se intitulam
de esquerdistas, revolucionários e que tais ostentando no peito o nome
de candidatos que se transformaram em meros gerentes do Governo Federal
no interior da UFPE.
De nada adianta argumentar que uma pessoa que
chama a Polícia Militar e Federal para o campus, que privatiza a gestão
do HC, que criminaliza o movimentos estudantil, jamais poderia ser
eleito por uma comunidade democrática e republicana. Muito menos de
docentes e acadêmicos. Mas prevaleceu o corporativismo, o troca-troca,
as promessas ocultas e não reveladas daqueles que ocupam a administração
universitária, prometendo o céu, a terra e o mar. Seja qual for o
resultado dessas eleições, o processo está comprometido, muitas faltas
foram cometidas contra a administração pública, pela partidarização, o
uso da máquina, dos cargos, das hierarquias e até mesmo dos canais
oficiais da comunicação universitária - usados sem cerimônia para
propaganda oficial. Numa disputa como essa, só tem perdedores. Não
existe ganhador. Toda vitória será de Pirro. E as consequências do
troca-troca vão se revelar depois para a vida universitária.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD/UFPE.
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