Tive a oportunidade de conhecer, uma vez, o sociólogo Renato Carneiro Campos, tio – pela linhagem paterna – dos irmãos Campos (Dudu e Tonca). Foi nos idos dos anos 70, na sede da Fundação Joaquim Nabuco, na busca de informações sobre a ideologia dos personagens dos folhetos de Cordel. Carneiro Campos era autor de um estudo que abordava a mentalidade dos cantadores e repentistas populares do Nordeste, especialmente o chamado “amarelinho” da Zona da Mata, uma variante do herói picaresco da prosa de Ariano Suassuna. Já o irmão do sociólogo – o escritor Maximiano Campos – só conheci indiretamente, através de uma banca examinadora de uma tese que discutia o romance “Briga de Galos” e a partir das informações prestadas por Ana Arraes, numa visita à Faculdade de Escada.
O ex-governador Eduardo Campos – que conhecíamos como Dudu – era um personagem mais conhecido, porque desde muito cedo lançara-se na política pernambucana, ora como deputado, ora como candidato a prefeito, ora como secretário do avô, e finalmente, ministro e governador. Campos passou a ser mais conhecido depois do “Escândalo dos Precatórios”, já que tinha sido acusado de ser o pivô dessas tratativas em nosso Estado. Depois, como ministro de Ciência e Tecnologia (do Governo Lula) e como candidato a governador. Foi nessa condição que, através da mediação de Ana Arraes, ele assentiu em comparecer à UFPE para falar de seus planos de governo. Fez-me, também, um convite para uma conferência sobre juventude, num evento eleitoral do PSB, realizado na Faculdade de Administração, da FESP.
A bem da verdade, só me aproximei da família Campos a pedido de um ex-orientando, para fazer uma análise de conjuntura do governo Lula, num encontro do PSB, realizado no hotel Gavoa, em Piedade. Foi nessa oportunidade que conheci pessoalmente o velho Miguel Arraes e lembro-me de ter elogiado o seu espírito público, ao longo de sua carreira política. Registrei esse encontro no artigo: “O meu encontro com Arraes”. A partir daí fui chamado várias vezes para apresentar opiniões e análises sobre a política, em reuniões com o neto e sua equipe.
Nunca fui simpatizante ou eleitor do PSB, que achava ser uma contrafação dos partidos de esquerda: ora gravitando em torno do antigo PCB, ora do PT. Este partido – fundado por intelectuais que se diziam críticos do socialismo real – nunca teve inserção no movimento de massas (o sindicalismo) e padecia da falta de um sério regime parlamentarista no Brasil. Sendo, pois, mero coadjuvante de outros. A ruptura da aliança com o PT, obra do governador falecido, surpreendeu àqueles que sempre viram o Partido como participante do campo da centro-esquerda no Brasil. Mais grave, contudo, foi o apoio a Marina Silva, uma candidata religiosa, pentecostal, de discurso conservador e portadora de um ecletismo econômico muito grande. Pode isso ter sido um mera jogada eleitoral por parte do PSB, mas decepcionou muitos militantes e simpatizantes do partido socialista.
Os dois mandatos do ex-governador foram uma revisão completa do ideário defendido, durante muito tempo, por Miguel Arraes e seus seguidores. O neto – por conveniência política ou não – se aproximava abertamente da agenda política do PSDB e de Aécio Neves, tendo afirmado certa vez que gostaria de imitar em Pernambuco a gestão do político tucano. Gesto que foi, aliás, objeto de discussão na reunião do secretariado de Campos, num hotel de Olinda.
Naturalmente, quem nunca tinha sido eleitor ou simpatizante do PSB, quando o velho Arraes ainda era vivo, não ia aceitar ou concordar com esse giro à direita feito pelo ex-governador. E foi o que eu fiz. Cidadão de velhas convicções socialistas, não concordei com a mudança programática e menos ainda com as alianças meramente estratégicas realizadas pelo neto de Arraes. Pior foi o familismo ou o patrimonialismo que tomou conta da gestão. A mãe, os primos, os cunhados, parentes e contraparentes invadiram a administração pública do Estado de Pernambuco, sem cerimônia. Os serviços públicos essenciais entregues à fundação de amigos. E uma intolerância inaudita passou a tomar conta das relações com os críticos e adversários.
Resultado: hoje estamos diante de um grande estelionato político praticado pelo PSB em Pernambuco. Obras inacabadas, crise na Polícia Civil, crise na educação pública, conflitos com o Poder Judiciário, são manifestações mais do que evidente da fraude política cometida em nosso estado pelo PSB.
E Tonca, o irmão político-escritor-advogado e pré-candidato à Prefeitura de Olinda? – Bom, deste só tomei conhecimento na época do escândalo dos precatórios, quando o editor da revista Veja procurava informações sobre o governo de Miguel Arraes. Foi aí que soube que havia um neto de Miguel Arraes e irmão do ex-governador que era advogado e entendia muito de arrecadação de fundos, cujo nome era Tonca, não Antônio de Campos. Tonca é Antônio de Campos?
Faço essa pergunta porque depois que Eduardo Campos, Dudu, tornou-se governador de Pernambuco, Antônio de Campos, não Tonca, apareceu como o maior literato do Estado, só perdendo para Ariano Suassuna. Grande editor, presidente da FliPorto, responsável por encontros e convescotes literários em Olinda etc. Foi quando o correspondente da Folha de São Paulo, em Pernambuco, resolveu tirar a limpo toda essa história da ascensão meteórica de Tonca/Antônio de Campos à categoria de principal mecenas da cultura na região. 0 resultado da matéria todos podem ler com proveito numa das edições do jornal paulistano. Mas este trabalho de pesquisa custou caro ao repórter. Confessou ele que não só foi objeto de retaliação do governador e sua equipe, como teve problemas com suas senhas de acesso à internet.
Lamento muito nunca ter lido e apreciado os dotes literários, poéticos e intelectuais do filho de Maximiano Campos e sobrinho de Renato. A falha é minha, reconheço. Pois só conhecia Tonca a partir das informações sobre arrecadação de campanha eleitoral, pelas informações de um ex-militante do PCB, hoje convertido ao credo liberal do PSDB. Com uma ilustre ascendência intelectual como essa, é bem possível que a carreira literária de Antônio de Campos, não de Tonca, ganhe força com a Prefeitura de Olinda e sua gestão seja um permanente congresso literário na Marim dos Caetés. Mas como ninguém vive só de brisa, vai ser preciso arranjar recursos, obras e políticas públicas para atender às ingentes demandas e necessidades dos cidadãos e cidadãs olindenses. Quem viver, verá.
P.S do Realpolitik: Um colega observou, pela rede social Facebook, que o pai de Antonio Campos e Eduardo Campos foi o escritor Maximiano Campos, que trabalhou na Fundação Joaquim Nabuco durante muitos anos. Penso que fazia inferência sobre um artigo anterior do professor Michel Zaidan, onde o nome do sociólogo Renato Campos aparece como pai do advogado Antonio Campos. Eduardo Campos, quando criança, costumava frequentar os jardins da Fundaj. Há alguns anos atrás, em artigos que faziam referências ao ex-governador, costumava tratá-lo, como o "Moleque" dos jardins da Fundação Joaquim Nabuco.
P.S do Realpolitik: Um colega observou, pela rede social Facebook, que o pai de Antonio Campos e Eduardo Campos foi o escritor Maximiano Campos, que trabalhou na Fundação Joaquim Nabuco durante muitos anos. Penso que fazia inferência sobre um artigo anterior do professor Michel Zaidan, onde o nome do sociólogo Renato Campos aparece como pai do advogado Antonio Campos. Eduardo Campos, quando criança, costumava frequentar os jardins da Fundaj. Há alguns anos atrás, em artigos que faziam referências ao ex-governador, costumava tratá-lo, como o "Moleque" dos jardins da Fundação Joaquim Nabuco.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE.
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