pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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domingo, 30 de outubro de 2016

Le Monde: Votar mais não e votar melhor


De acordo com o resultado, a opinião de analistas e políticos sobre o instituto do referendo varia de cabo a rabo. Nós o defendemos quando o resultado nos favorece e o defenestramos quando nos desagrada. Se esse tipo de consulta pode parecer o suprassumo em uma democracia em crise, sua banalização apresenta perigos
por Alain Garrigou


O acaso quis que, com três dias de intervalo, por intermédio de um referendo, os britânicos se pronunciassem sobre sua saída da União Europeia, e os eleitores da região de Loire-Atlantique, na França, sobre a construção do aeroporto de Notre-Dame-des-Landes. Duas questões, de envergadura muito diferente, que mostram a plasticidade desse tipo de consulta: uma sobre um tratado internacional, a outra sobre um problema local. A especificidade do referendo como procedimento democrático se deve ao fato de que ele pode ser aplicado a tudo. Neste momento, os chamados a outras consultas desse tipo se multiplicam: na Holanda e na Eslováquia, discute-se votar pela saída da União Europeia; na França, Marine Le Pen (Frente Nacional) reclama um referendo sobre a saída do país da zona do euro, e Nicolas Sarkozy, sobre um futuro tratado europeu que daria as costas aos acordos de Schengen. Le Pen também promete um referendo sobre a pena de morte, enquanto outros que se opõem politicamente a ela defendem um sobre a reforma trabalhista.
Tal entusiasmo explica-se facilmente. O referendo não apenas parece o modo mais direto e simples de expressão da vontade popular, mas também responde à crise das democracias representativas. Invoca-se o referendo contra os políticos culpados de trair os eleitores, contra as elites desconectadas dos povos. E estas, quando tropeçam em problemas internos, tentam utilizá-lo como uma espécie de arbitragem derradeira, o que constitui por sua parte uma confissão de fraqueza. O referendo é uma espécie de desafio político: mais democrático não há.
A esquerda foi por esse caminho. A tradição republicana, na França pelo menos, sempre o rejeitou como uma arma plebiscitária e, portanto, antidemocrática. O uso do referendo feito pelo Segundo Império (1852-1870) conduziu os republicanos a estimar que se tratava de um dispositivo autoritário, de uma esperteza racional que, ao consultar o povo, dava todo o poder ao chefe. Para compreender essa hostilidade, basta lembrar que, em 10 de dezembro de 1848, Luís Bonaparte foi eleito por sufrágio universal masculino com 74,33% dos votos e que, em 2 de dezembro de 1851, o presidente não reelegível perpetrou um golpe de Estado endossado por um referendo – era chamado de plebiscito – com 7.410.231 votos a favor e 647.292 contra. Um ano depois, o Império foi aprovado com 7.824.129 votos a favor e 253.149 contra. Por fim, em 8 de maio de 1870, um último plebiscito deu uma confortável maioria ao imperador (7.358.000 “sim”, contra 1.538.000 “não”), logo antes da instauração da República, em 4 de setembro de 1870, na continuidade da derrota na Guerra Franco-Prussiana.
Depois de Napoleão III, o “chamado” ao povo do general Georges Boulanger confirmou para os republicanos sua hostilidade ao referendo. Foi difícil para as formações políticas saídas da Resistência concederem ao general De Gaulle o direito de recorrer ao referendo em 1945 e em 1946 para arbitrar entre diversos projetos de Constituição.1 Os partidos de esquerda se inclinaram novamente no início da Quinta República, quando diversos referendos permitiram que seu fundador assentasse regularmente sua legitimidade – e impusesse o regulamento da Guerra da Argélia. O princípio do referendo saiu estranhamente vencedor da derrota do referendo de 1969,2 que demonstrou o que seus adversários mais determinados se recusavam a acreditar: era possível votar “não”. E foi menos notado que o fato de o general De Gaulle não ter recorrido a ele entre 1962 e 1969 e de, depois disso, tais votações terem rareado.

O direito do povo de errar
Hoje em dia, o referendo foi retomado porque é mais bem organizado e os povos são maduros o suficiente para não se deixarem seduzir pelas sereias da demagogia? Assim como o referendo francês de 29 de maio de 2005 sobre o Tratado Constitucional Europeu, o Brexit deu espaço para as críticas habituais dos analistas hostis a esse tipo de consulta, em particular quando o resultado é contrário às suas esperanças. Uma crítica elitista clássica mira a incompetência presumida dos eleitores e suas más razões para votar. Ela chega ao desprezo, mesmo à negação. Em 2005, o Parlamento francês contornou o veredito popular. E o voto britânico de 23 de junho de 2016 foi imediatamente seguido de insinuações segundo as quais a saída do Reino Unido não aconteceria.
Poderíamos crer que a democracia era unanimidade; não é nada disso. E, em um período de crise, isso não é tranquilizador. Ainda mais porque o desprezo elitista repousa sobre uma incompreensão da democracia. Isso porque ninguém entende que o voto universal anda obrigatoriamente junto com a competência cidadã e que as boas razões da opinião nunca coexistem com julgamentos imorais. Então, os assassinos do voto popular reclamam nos outros uma competência política que eles mesmos não têm. Como podem ser tão seguros de seu saber quando se enganam tanto sobre o que é a democracia?3
Vamos lembrar que esta confia uma parte da soberania a todos os cidadãos porque a vida deles é afetada pela política – e por vezes sua morte também: o acontecimento mais ou menos repentino, mais ou menos progressivo do sufrágio universal andou junto com o alistamento militar. Se devíamos morrer pela pátria, o mínimo era que pudéssemos escolher seu governo. Mesmo na ausência da guerra, as crises econômicas e simplesmente a vida ordinária justificam seu aumento. “Se o povo se engana, pior para ele”: mesmo sem retomar para nós a resposta de Lamartine àqueles que objetavam contra o sufrágio universal direto, ainda assim não podemos privar o povo do direito de se enganar sem lhe acordar o de escolher os dirigentes que, por sua vez, terão muito espaço para fazê-lo. O pior dos regimes seria aquele em que, já que o povo não teria o direito de cometer nenhum erro, só restaria o direito de se calar.
Fortalecida pelas novas experiências, a crítica democrática do referendo deve se fundar em argumentos novos. Não se contesta que os referendos – e também qualquer eleição, ainda que a opinião neste caso seja midiatizada e domesticada pela representação política – liberam argumentos que, por vezes, a moral reprova. Seria difícil apoiar um referendo cujo objetivo fosse a xenofobia. Mas, nesse caso, ele jogaria com a opinião assim como certas sondagens que levam ao crime. Mede-se também o risco de consultas populares que acusam as fraturas sociais – os humildes contra os ricos, os velhos contra os jovens, o campo contra as cidades, a província contra a capital, os menos instruídos contra os mais cultos – a ponto de gerar dúvida num Estado sobre sua unidade em múltiplos sentidos e que, para além das reivindicações autonomistas ou independentistas, poderiam colocar em perigo o desejo de viver nesse mesmo país.
Pode-se objetar para que serve esconder tais fraturas. Mas, pensando lucidamente, haveria ainda alguma nação – até mesmo vizinhos e amigos – vivendo em paz? O ensaísta e romancista William Makepeace Thackeray (1811-1863) disse que o inferno pode estar na transparência perfeita: “Que felicidade não estarmos descobertos e termos cada um nossos pequenos desertos. Você gostaria que sua mulher e seus filhos soubessem exatamente quem você é, quanto você vale? Com certeza não, meu bom senhor! Afaste esse projeto monstruoso e agradeça por eles não estarem a par”.4 É também uma razão pela qual o voto é secreto. Questionando sistematicamente os assuntos que geram abismos, o referendo, antes acusado de produzir um consentimento automático, poderia se tornar um fomentador da guerra civil.
Não se trata aqui, ou não somente, do referendo em si como consulta excepcional, mas dos efeitos de sua eventual banalização. As forças políticas que o propõem o fazem imaginando que vão ganhar. Como elas sabem? Pelas pesquisas. Mas será que os mesmos que reclamam um referendo sobre um assunto importante para eles o aceitariam em um caso em que o julgamento popular seria contrário ao seu? Basta dizer que, se o procedimento se generalizasse, as lutas políticas ficariam ainda mais focalizadas na “opinião” e na escolha em lhe dar ou não a palavra.
O entusiasmo referendário é um sintoma não apenas dos efeitos sociais deletérios da globalização, mas também de uma crise do pensamento. Na realidade, não se trata de uma reflexão bem substancial sobre suas propriedades. As regras da democracia, a lei da maioria como a resposta dada a uma questão levantada, são convenções. E devemos aceitar que uma maioria amalgame votos diferentes, por vezes antagonistas.

Modos de expressão limitados
Seria preciso para tanto negligenciar, até mesmo negar, as ambiguidades, as contradições de modos de expressão que permanecem também rudimentares? Um “sim” ou um “não”, isso é claro, mas obscuro também, quando existem diversas interpretações possíveis de uma questão, a ponto de, frequentemente, esta ser considerada tendenciosa. Além disso, a definição do corpo eleitoral pode levantar problemas, como no caso de um referendo local. Em um voto, não há apenas uma opinião, mas pensamentos, interesses, objetivos muito diferentes que as convenções obrigam a misturar. Assim, no caso do Brexit, foram a nostalgia do antigo Império Britânico, o medo dos imigrantes que estão próximos ou que vemos apenas na televisão, a apreensão em relação ao futuro, as frustrações da pobreza, o temor, o rancor ou o desespero de perder o emprego (ler artigo na pág. 8). Da mesma forma, as opiniões expressas têm um peso idêntico quando se vota contra um aeroporto cujas pistas vão destruir sua fazenda ou cujos aviões vão sobrevoar sua casa, ou se é “a favor” porque se espera tirar proveito das viagens de negócios ou do turismo mais barato? Seria preciso colocar esse tipo de questão – não em um referendo, mas antes de decidir se se deve recorrer a ele.
A democracia é uma bela ideia, uma ideia justa e, mais, uma ideia necessária. Desde que a legitimação pela vontade divina foi abandonada, não é mais imaginável que os cidadãos não sejam parte ativa das decisões que governam sua vida. Tudo iria bem se os humanos tivessem enfim resolvido os problemas de execução. Mas parece mais que, mesmo concordando com o princípio, eles continuam incapazes de encontrar soluções que permitam que a democracia funcione. Uma questão técnica, poderíamos dizer num primeiro olhar, de tanto que os modos de expressão da vontade popular continuam ironicamente limitados. A eleição em primeiro lugar; mas ela é uma parca solução quando consiste em se despojar a si mesma, assim como notava Jean-Jacques Rousseau bem antes que o mundo tivesse feito dela uma experiência ampla.
Já que o caráter democrático foi recusado ao regime representativo, tentamos acomodá-lo propondo o mandato imperativo, a possibilidade de o eleitor revogar seus eleitos antes de terminarem o mandato. Viramo-nos regularmente para a expressão popular direta, como, acreditávamos, a cidade antiga oferecia – uma demonstração real e antiga – ou como as novas tecnologias de comunicação prometem. Mas a democracia direta não tem espaço nos Estados contemporâneos, ao mesmo tempo desmedidos e despossuídos de suas antigas prerrogativas. Quanto às novas tecnologias, elas já são suspeitas. Em suma, colocar todas as suas esperanças democráticas em uma única técnica de expressão, com vereditos tão irrecusáveis quanto o antigo calvário, seria o mesmo que deixar a esta todo o espaço, abdicando da razão – quer dizer, também da dúvida...

Alain Garrigou é professor de ciências políticas na universidade Paris X-Nanterre. Autor de Histoire sociale du suffrage universel en France [História social do sufrágio universal na França], Paris, Seuil, 2002.

Ilustração: Troche

1          Em outubro de 1945, os franceses se pronunciaram maciçamente a favor da adoção de uma nova Constituição em vez do retorno à da Terceira República. Em maio de 1946, eles rejeitaram o primeiro projeto de Constituição que lhes foi submetido por uma Assembleia Constituinte. Depois, em novembro do mesmo ano, adotaram o segundo projeto.
2          Em 27 de abril de 1969, 53% dos franceses se opuseram ao projeto de regionalização e reforma do Senado que tinha sido submetido pelo general De Gaulle. Ele pediu demissão assim que esse resultado foi conhecido, conforme tinha anunciado antes da votação.
3          Cf. a esse respeito Bernard-Henri Lévy, “Étrange défaite à Londres” [Estranha derrota em Londres], Le Monde, 26 jun. 2016, e Luc Ferry, “Le référendum, gadget à éviter” [O referendo, utensílio a ser evitado], Le Figaro, Paris, 6 jul. 2016.
4          Citado por Robert K. Merton, Éléments de théorie et de méthode sociologique [Elementos de teoria e de método sociológico], Plon, Paris, 1965.


 
03 de Agosto de 2016
Palavras chave: referendodemocraciademocracia diretapolíticaFrançaBraxitInglaterraSarkozy

Artigo: Os evangélicos desejam o poder.



Candidato Marcelo Freixo (Psol) votou no Paissandu Atlético Clube, na Zona Sul do Rio (Foto: Bruno Albernaz / G1 Rio)


Crivella chegou acompanhado da mulher para votar no Clube Marimbás, em Copacabana (Foto: Carlos Brito / G1 Rio)


José Luiz Gomes


Li, atentamente, duas análises sobre as eleições municipais deste ano. Uma delas foi postada aqui no blog, escrita pelo professor e cientista político Michel Zaidan Filho, que vem alcançando um número expressivo de acessos. A outra foi escrita pelo editor do jornal Le Monde Diplomatique, Sílvio Caccia Bava, publicada em sua última edição e ainda não liberada pelo site, estando restrita à sua edição impressa, deste mês de outubro, que se encontra em bancas. O mais interessante a ser observada é a convergência de pensamento entre ambos, quando se discute a participação dos evangélicos naquelas eleições. Como informa Zaidan, diferentemente do envolvimento da Igreja Católica com a política - através das CEB, das pastorais - quando se observa a movimentação das igrejas pentecostais e neo-pentecostais, há, nitidamente um projeto de poder político. 

O caso das eleições do Rio de Janeiro é bastante emblemático para entendermos esse projeto. Disputa a eleição daquela cidade um preposto do bispo Edir Macedo, da IURD, o também bispo Marcelo Crivella. Como a Rede Record não foi aceita no condomínio da mídia golpista - apesar de ter tentado - eles tentaram derrubar Crivella antes que ele pudesse ganhar asas, criando embaraços posteriores, ampliando o poder de fogo do bispo Edir Macedo e do seu braço midiático, a Rede Record. A manobra não teria sido muito bem-sucedida e o bispo Crivella chega ao segundo turno como franco favorito, disputando a eleição pelo PRB, uma espécie de partido dos evangélicos. 

Se ocorrer uma virada - conforme preveem alguns - a eleição do candidato Marcelo Freixo(PSOL) representará um marco para as forças progressistas e do campo de esquerda nessas eleições. O Rio se transformará num palco de duras batalhas de projetos de poder distintos, uma trincheira de resistência, um locus de contra-hegemonia em relação ao poder central. Claro que ele não terá sossego. A mídia golpista deverá atacá-lo sistematicamente. (...)

(Conteúdo exclusivo, liberado apenas para os assinantes do blog)

Grande Renato Aroeira!

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Michel Zaidan: As eleições municipais: Entre a Praça de Casa Forte e o Beco da Dona Mira








As eleições municipais dos três maiores colégios eleitorais da região metropolitana apresenta uma particularidade cujo significado extrapola os seus limites locais. No imenso giro à direita que se verificou na maioria dos municípios brasileiros, com o recuo dos partidos de centro-esquerda no comando dos executivos locais, a polarização fica entre representantes "ilustrados" da oligarquia e representantes da igreja. É como se fosse uma lumpem-eleição, para uma lumpem-política. Isto porque os efeitos da Lava-a-Jato, conjugados com os esforços patrióticos da imprensa golpista, o maior atingido nessa campanha foi o Estado laico e republicano. Tinha previsto, em algumas ocasiões que as consequências da desconstrução sistemática das instituições políticas republicanas levaria ao descrédito dos partidos mais à esquerda e o reforço do voto evangélico, nestas eleições. Infelizmente, foi isso que aconteceu. 

Em Pernambuco, existe a especificidade do predomínio (não hegemonia) de uma oligarquia familiar, representada por uma matriarca que se apresenta nos atos da campanha eleitoral como detentora de uma memória de lutas e conquistas. Nada mais falso do que isso. Pretensões eleitorais de um grupo político mesquinho, perseguidor, que vem se utilizando da máquina administrativa e de uma intensa propaganda enganosa para convencer o eleitor desavisado de que votar na esquerda e em seus candidatos, é votar no atraso, no ultrapassado, no passado. Mas há algo mais velho e antiquado na política brasileira do que o domínio de uma família e a imagem de um mulher sofre dora, mãe de família, sozinha, dedicada a cuidar dos filhos, do que isso?

Do outro lado, a intromissão solerte,decidida e avassaladora dos religiosos fundamentalistas e ultra-conservadores na política municipal. Houve uma subestimação - para não dizer conivência - do projeto político desses cristãos reformados na política brasileira. Ao contrário da Igreja Católica, que desde as comunidades eclesiais de base e a teologia da libertação, não possui nenhum projeto político para o Brasil e a ocupação de suas instituições laicas e republicanas, esses crentes na vinda próxima de Jesus, não hesitam diante de nada, quando se trata de evangelizar, catequetizar e cabalar o voto alheio, ora para sua igreja, ora para seu candidato ou partido. Dois dos maiores municípios da região metropolitana estão entregues a um duelo de difícil escolha para o eleitor democrático e republicano. 

Escolher entre a Igreja e....a oligarquia ou o velho e surrado clientelismo municipal. Compadeço-me - como o cristão que não sou - de um dilema eleitoral como esse. E me regozijo de votar num colégio eleitoral onde se trava, aí sim, uma batalha decisiva entre um preposto (um "técnico") da oligarquia local e uma proposta de centro-esquerda, voltada para as questões sociais, da cidadania, da qualidade de vida dos recifenses, do lazer, do transporte público, da educação de qualidade, da manutenção do sistema único de saúde etc.O Recife pode ser o contraponto necessário e oportuno a esse voto de direita, fascista, de uma classe média conservadora, amedrontada - outra vez - com a mobilidade social das camadas populares. Vamos às urnas com a consciência de que se trava uma batalha muito importante entre a afirmação da cidadania republicana e seus direitos e conquistas e a falácia, as mentiras, a propaganda cara e enganosa de um representante de um grupo familiar local que se apresenta como herdeira das melhores tradições políticas de Pernambuco! 


Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia. 

Charge!Aroeira via Facebook

domingo, 23 de outubro de 2016

As intensas movimentações políticas do senador Fernando Bezerra Coelho


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Na época em que o ex-governador Eduardo Campos era vivo, por mais de uma oportunidade, precisou negociar bastante com o hoje senador, Fernando Bezerra Coelho(PSB), a respeito de suas pretensões políticas que, nem sempre, foram bem acomodadas nas hostes socialistas estaduais. Como o ex-governador era uma liderança inconteste, mesmo a contragosto, seus coordenados tiveram que engolir alguns sapos pelo caminho. No caso de FBC, muitos outros nomes socialistas acabaram furando a fila do poder, sendo ele preterido. Para o bem ou para o mal, por outro lado, Eduardo Campos sempre encontrava um mecanismo pelo qual ele pudesse ser compensado, como a indicação para o Ministério da Integração Nacional do Governo Dilma Rousseff e uma das vagas para o Senado Federal.

(Conteúdo exclusivo, liberado apenas para os assinantes do blog)

Editorial: Para a mídia golpista, nem Crivella nem Freixo.



A capa da revista Veja desta semana, como sempre, provocou uma intensa polêmica. Nela, aparece uma foto com a prisão do bispo Marcelo Crivella (PRB), candidato a Prefeito do Rio de Janeiro, num momento em que as pesquisas também parecem indicar uma ascensão do candidato do Psol, Marcelo Freixo, nas pesquisas de intenção de votos. Não é improvável que esta confluência de fatores possam favorecer o candidato do Psol, em detrimento do representante da Igreja Universal. O desesperador, neste caso, é observar os estertores que estão por trás dessa capa inusitada da revista da família Civita, assim como os "desdobramentos" de uma eventual vitória do candidato Marcelo Freixo naquela disputa. 

(Conteúdo exclusivo, liberado apenas para os assinantes do blog)

sábado, 22 de outubro de 2016

O PT precisa se reinventar, urgentemente.

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Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima
Antonio Carlos Granado, Antonio Lassance, Geraldo Accioly, Jefferson Goulart, José Machado e Ronaldo Coutinho Garcia
Precisamos falar sobre o PT
O partido que enfrentou a ditadura, que contribuiu para a redemocratização do país, que batalhou incansavelmente pela consagração de inúmeros direitos sociais, que garantiu a mais drástica e acelerada redução da desigualdade já vista em nossa história, esse partido está na lona. Caiu, em parte, pela perseguição implacável a que foi submetido, em função de golpes desferidos contra muitas de suas lideranças mais destacadas, contra sua organização e contra sua militância. Mas despencou, em grande medida, pelo peso de muitos de seus erros, por ter baixado a guarda em alguns dos atributos que faziam parte de sua própria identidade e da lógica de sua diferença.
As eleições de 2016 são o desfecho de uma ofensiva da direita que tem, como um de seus alvos prioritários, trucidar um instrumento essencial de luta da classe trabalhadora, da democracia e da inclusão social. É nítido e claro que o PT não está sendo investigado. Está sendo cassado. A absurda diferença de tratamento entre o que acontece com algumas lideranças do PT, porque são do PT, e o que não acontece em relação a políticos de outros partidos demonstra que, mais uma vez, como em outras tantas circunstâncias históricas, sob o discurso do combate à corrupção, o que se pavimenta é um combate sem tréguas à esquerda como um todo para a entrega do país ao que há de mais retrógrado e mais corrupto.
A derrota acachapante da esquerda nas eleições de 2016 – salvo raras e muito honrosas exceções – mostra bem o tipo de país que está sendo costurado meticulosamente pelas forças da coalizão golpista.
O partido precisa se reinventar, urgentemente
Para o bem e para o mal, uma parte do PT já não existe mais. Foi dizimada pelo escândalo do Mensalão, pela Lava Jato, pela debandada de prefeitos e parlamentares, pelo golpe parlamentar que destituiu a presidenta eleita e, agora, pelas eleições municipais. É preciso um novo PT, urgentemente, ou não restará PT algum. Ao lado da defesa intransigente do Estado democrático de Direito, é preciso fazer uma autocrítica pública como primeiro passo para recuperar a autoridade moral e a credibilidade política de um partido que foi fundado sob os signos da igualdade e da renovação dos costumes políticos. É preciso, imediatamente, renovar a direção partidária, e renová-la sob novas bases. Além de eleger um novo presidente e diretório, o PT precisa reconstruir seu programa, redefinir sua organização e revigorar suas práticas. O PT precisa se reinventar com a mesma radicalidade com que um dia ousou disputar os rumos do país sob o impulso dos trabalhadores e excluídos.
Atualizar o programa democrático e popular
O PT precisa reatar sua vocação de partido dos trabalhadores, dos assalariados, dos que estão fora do mercado de trabalho, dos pequenos e médios agricultores e empresários; dos sem-terra; dos jovens; dos que lutam por moradia, dos que batalham pela afirmação de sua identidade, dos que querem exercer livremente sua orientação sexual, dos que lutam por dignidade e por direitos de cidadania. O programa do partido deve ser fundamentalmente orientado aos trabalhadores, excluídos e oprimidos, com uma orientação inequivocamente democrática, humanista, igualitária, libertária.
O PT não é mais, nem que quisesse, o partido capaz de firmar o pacto social entre as elites e o povo. A começar porque a elite deste país não quer pacto. Não quer pagar a conta, senão transferi-la justamente para os mais pobres e a classe média, que são os que sustentam o Estado brasileiro e as isenções fiscais e benesses de que os mais ricos desfrutam. A ponte para o futuro de uma parte expressiva da elite brasileira é um “green card” nos Estados Unidos e uma conta nas Ilhas Cayman.
O desenvolvimento de um país é diretamente proporcional à qualidade de sua democracia. Por sua vez, democracia significa o quanto a representação e a atuação do Estado atendem aos interesses da maioria e a uma pluralidade de pessoas e opiniões com voz e vez nos processos de decisão política. Um programa democrático e popular se distingue por propor mecanismos claros de alargamento da democracia e de fortalecimento da capacidade de atuação do Estado. Distingue-se também pelo combate sem tréguas aos grupos políticos e econômicos predatórios que, recorrentemente, dominam o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, e que engendram instituições perversas, que proporcionam ganhos restritos a uma ínfima parcela da sociedade, impondo custos sociais elevados à esmagadora maioria do povo brasileiro.
Redefinir o modelo de partido
Transparência, prestação de contas e democracia participativa
Convenhamos, o partido que defende a transparência, a prestação de contas e a democracia participativa não é transparente, não presta contas a seus militantes e deixou sua democracia participativa em algum lugar do passado. O PT trocou seus antigos espaços de participação, seu debate formativo e sua discussão programática por Processos de Eleição Direta (PEDs), pela prioridade eleitoral e por alianças com a política tradicional.
O PT precisa prestar contas; realizar seu próprio orçamento participativo; estabelecer regras claras de contratação de funcionários e de empresas prestadoras de serviço, mediante chamadas públicas; expor seu planejamento e planos de trabalho a audiências públicas com participação presencial e pela internet. Precisa criar sua ouvidoria, que consta do estatuto, mas jamais saiu do papel.
O PT deve se abrir e se expor mais do que nunca para que não restem dúvidas sobre seus métodos, seus critérios, suas decisões, seus recursos, sua capacidade de escutar sua militância e seus simpatizantes e de estar profundamente enraizado na sociedade civil.
Política por vocação
O PT deve se afirmar como um partido em que se faz política por vocação, e não por profissão. Os eleitos devem se comportar como servidores públicos conscientes de seu papel e de suas responsabilidades republicanas. Devem se mostrar sujeitos ao escrutínio não apenas da máquina partidária, mas de seus eleitores e das organizações populares. Devem abrir suas contas, expor suas agendas e saber demarcar nitidamente a fronteira entre o público e o privado.
O PT, definitivamente, não é lugar para políticos tradicionais. Política não é carreira e político não é profissão. Não é? Bem, não deveria ser, pelo menos no PT. Se algo está errado, precisa mudar.
O PT deve abolir os PEDs, voltar a ser um partido de encontros, congressos e, agora, de redes sociais
O PT deve ser um partido conhecido e reconhecido por discussões de base e eleição de delegados e representantes por bairros e por coletivos temáticos ou identitários (trabalhadores de diferentes categorias e estratos, juventude, cultura, esporte, mulheres, LGBT, rurais, deficientes, transportes, educação, saúde, assistência, governança e gestão públicas, meio ambiente, moradia, segurança pública, igualdade racial), com limites e controles rígidos para evitar sua burocratização e as práticas próprias da política tradicional.
As direções partidárias devem ser expressão de uma militância e de um debate sobre políticas públicas, e não da aferição de quem consegue arregimentar e transportar o maior número de filiados. As novas direções devem expressar o pluralismo de nossa sociedade e o debate que por lá fervilha. Um partido incapaz de se nutrir da energia social acaba inevitavelmente apartado da sociedade civil e de suas lutas.
Deve-se igualmente criar novos mecanismos de participação e consulta que facilitem a interação virtual e a intervenção nas redes sociais. O PT precisa ser um partido com freios, contrapesos e  controle social.
Oposição firme e consistente ao governo Temer e reconfiguração da política de alianças
A sociedade deu um recado claro em 2016: está insatisfeita com os partidos, rechaça a política tradicional e quer o PT na oposição. O arco de alianças do PT deve ser firmado, de forma clara, com a orientação de conformar uma frente de oposição ao governo Temer, que se oponha ao entreguismo, ao reacionarismo e faça a defesa dos trabalhadores, dos excluídos e dos interesses nacionais.
O PT deveria, terminantemente, rechaçar coligações eleitorais e composições em governos com os partidos que apoiaram o golpe e que integram a base oficial ou eventual do governo Temer. Embora os partidos políticos não sejam monolíticos e possuam clivagens políticas e regionais importantes – veja-se os casos dos senadores Roberto Requião, do PMDB, e Lídice da Mata, PSB, assim como de parlamentares federais da Rede, que perfilaram contra o golpe –, é fundamental que o PT contribua para o debate político delimitando claramente seu campo político-ideológico e programático de esquerda.
Diálogos e mesmo acordos em uma ampla frente social e parlamentar em defesa de direitos sociais, que hoje estão ameaçados, são essenciais, mas não se confundem com o arco de alianças eleitorais e de prioridade na interlocução sobre um programa para o país. Esta prioridade deve estar na relação do PT com o PCdoB, o PDT e com o PSOL. No caso do PDT, pelo menos enquanto ainda restar ali algum brizolismo – ou seja, nacionalismo, trabalhismo e defesa do serviço público. No caso do PSOL, mesmo que ainda haja reticências, plenamente compreensíveis, de uma aproximação com o PT, é preciso tomar a iniciativa do gesto pelo reatamento de laços.
As grandes batalhas perdidas no Congresso e no Judiciário foram, antes, perdidas nas ruas. O desgaste do partido é crítico, mas a decepção generalizada com a política enquanto instrumento de mudança social é grave. Retomar a confiança social na política e na democracia requer persuasão, interlocução com amplos setores da sociedade e um longo trabalho de base. O cerne dessa tarefa implica em consolidar a Frente Brasil Popular e estreitar o diálogo com as novas frentes de luta que surgem pelo país, com grande vitalidade, como o Povo Sem Medo e o Levante da Juventude. Lá se forjam ideias, estratégias de luta e uma nova geração de militantes sociais que deve tomar conta das ruas e desaguar com maior força na política nacional. Ao PT e aos demais partidos de esquerda cabe não apenas torcer para que isso aconteça, mas orientar-se programática e organizativamente nesse sentido. Movimentos sociais fortes e organizações e partidos políticos fortes não são incompatíveis; antes, são um imperativo da democracia.
Em suma, o PT precisa assimilar que, doravante, a luta política requer a conformação de uma frente ampla que congregue partidos políticos, organizações e movimentos da sociedade civil e inclusive cidadãos em torno de bandeiras democráticas e sociais.
Um projeto estratégico para o Brasil
Para além de um reordenamento organizativo e de uma reorientação política, para completar o desafio de se reinventar, o PT precisa investir decisivamente na reformulação de um projeto estratégico para o Brasil. A experiência de governo com medidas desenvolvimentistas e as políticas públicas de inclusão social conformaram um patrimônio valioso, mas rigorosamente insuficiente em um cenário econômico de primazia e internacionalização do capital financeiro, de dependência do boom das commodities, de declínio mundial do Estado do bem-estar e de diminuição do emprego como forma de integração social.
Um partido vocacionado para o poder não pode ignorar agenda tão complexa, que ainda abarca as mutações do sistema político, o peso e o lugar de instituições como o Ministério Público e o Judiciário, o papel da mídia e das novas ferramentas de informação e comunicação, a importância da ciência e da tecnologia, da pesquisa e desenvolvimento, do pensamento estratégico e de segurança nacional, da preservação e manejo de recursos naturais estratégicos, dentre outros. Um partido vocacionado para o poder precisa se dispor a compreender as transformações em curso para oferecer sua interpretação, suas ideias e seu programa para o país.
Desafio dessa envergadura remete à necessidade de reunir o melhor da intelligentsia nacional e internacional e dialogar com muitas outras instituições e segmentos que se debruçam sobre essa agenda na perspectiva de disputar intelectualmente os rumos do país. Uma das principais lições a aprender da crise pela qual passamos é que passou o tempo de responder a dilemas estratégicos com respostas táticas de curto prazo.
Fortalecer os laços com os movimentos, organizações, partidos e governos progressistas de outros países
A troca de experiências, as estratégias comuns de atuação e a conformação de um programa internacional de lutas em temas como a taxação internacional de transações financeiras, o combate aos paraísos fiscais, a reforma das organizações multilaterais, a internacionalização dos direitos básicos dos trabalhadores, a universalização das políticas de distribuição de renda, a solidariedade às vítimas de desrespeito aos direitos humanos devem voltar a ser uma agenda de trabalho prioritária do PT. Não existe saída nacional sem articulação global das lutas sociais com a reforma das instituições governamentais e econômicas.
A uma direita transnacional e antinacional se deve contrapor uma atuação internacional com pautas unificadas e ação combinada, sobretudo no campo programático, formativo e da comunicação.
Agora é a hora, ou “PT, saudações”
O PT vive um momento crucial. Boa parte das mudanças necessárias são certamente viáveis justamente porque a própria conjuntura se encarregou de torná-las não apenas as melhores, mas, em alguns casos, as únicas opções possíveis.
O PT beijou a lona, desceu ao chão. Antes que uma parte ainda mais expressiva de seus simpatizantes e de sua militância lhe deseje “PT, saudações”, é hora de se colocar de pé, levantar a poeira e voltar a caminhar de cabeça erguida. Mas este não é um exercício que demande apenas vontade política. Exige resgatar o caráter civilizatório de seu ideário e a ousadia e a dignidade que marcaram historicamente a trajetória das esquerdas.

(Publicado originalmente no site GGN)

Washington analisa cenários para uma "guerra aberta".


Política do fato consumado no Mar da China, grandes operações na Crimeia, construção de um sistema antimísseis na Europa: as potências nucleares exibem os músculos. Nos círculos dirigentes russo, chinês e norte-americano, os falcões retomam espaço. Instalando quatro batalhões na fronteira russa, a Otan eleva a tensão
por Michael Klare


Enquanto a corrida presidencial norte-americana atinge seu ápice e os líderes europeus estudam as consequências do Brexit, os debates públicos sobre a segurança se concentram na luta contra o terrorismo internacional. Mas, se esse tema satura o espaço midiático e político, ele desempenha um papel relativamente secundário nas trocas entre generais, almirantes e ministros da Defesa. Porque não são os conflitos de baixa intensidade que chamam a atenção, e sim aqueles que eles denominam “guerras abertas”: conflitos significativos contra potências nucleares como a Rússia e a China. Os estrategistas ocidentais vislumbram um novo choque desse tipo, como no auge da Guerra Fria.
Essa evolução, negligenciada pelos meios de comunicação, envolve pesadas consequências, a começar pelo aumento das tensões nas relações entre a Rússia e o Ocidente, cada um observando o outro na espera de um enfrentamento. Mais preocupante: muitos líderes políticos estimam não apenas que uma guerra seria possível, mas que ela poderia explodir a qualquer momento – percepção que, ao longo da história, precipitou respostas militares em que uma solução diplomática poderia ter intervindo.
Esse humor geral belicoso transparece nos relatórios e nos comentários dos altos quadros militares ocidentais durante os vários encontros e conferências dos quais eles participam. “Em Bruxelas, como em Washington, durante muitos anos a Rússia deixou de ser uma prioridade nos programas de defesa. Mas esse não será mais o caso no futuro”, podemos ler num relatório que resume os pontos de vista trocados em um seminário organizado em 2015 pelo Instituto de Estudos Estratégicos dos Estados Unidos (Institute of National Strategic Studies, INSS). Ainda é possível ler que, na sequência das ações russas na Crimeia e no leste da Ucrânia, vários especialistas “podem a partir de agora vislumbrar uma degradação capaz de desembocar numa guerra [...]. Por isso, [eles] estimam que é preciso concentrar novamente as preocupações na eventualidade de um confronto com Moscou”.1
O conflito vislumbrado teria mais chances de ocorrer na frente leste da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), englobando a Polônia e os países bálticos, com armas convencionais de alta tecnologia. Mas poderia se estender até a Escandinávia e os entornos do Mar do Norte, e levar ao recurso de armas nucleares. Os estrategistas norte-americanos e europeus recomendam, portanto, um reforço das capacidades em todas essas regiões e desejam consolidar o crédito da opção nuclear da Otan.2 Um artigo recente da revista da Otan preconiza, por exemplo, aumentar o número de aviões com capacidade nuclear nos exercícios da organização a fim de dissuadir Moscou de qualquer avanço na frente leste, deixando-lhe entrever a possibilidade de uma resposta nuclear.3
Há pouco tempo, esse tipo de cenário teria atraído o interesse apenas das academias militares e dos grupos de reflexão estratégica. Não é mais o caso. Testemunha disso são o novo orçamento da defesa norte-americana,4 as decisões tomadas na cúpula da Otan dos dias 8 e 9 de julho de 2016 e o anúncio, feito por Londres, em 18 de julho, de sua intenção de modernizar o programa de mísseis nucleares Trident.
O secretário de Defesa norte-americano, Ashton Carter, reconhece que o novo orçamento militar de seu país “marca uma mudança de orientação principal”.5 Enquanto, nos últimos anos, os Estados Unidos davam prioridade às “operações anti-insurrecionais em grande escala”, eles devem agora se preparar para um “retorno da rivalidade entre grandes potências”, sem descartar a possibilidade de um conflito aberto com um “inimigo de envergadura”, como a Rússia ou a China. Carter vê nesses dois países seus “principais rivais”, porque eles possuem armas muito sofisticadas para neutralizar algumas das vantagens dos norte-americanos. “Nós precisamos”, prossegue, “ter – e mostrar que temos – a capacidade de causar perdas intoleráveis a um agressor bem equipado, para dissuadi-lo de executar manobras provocadoras ou fazê-lo se arrepender amargamente caso venha a lançá-las.”
Tal objetivo exige reforço da capacidade norte-americana de se contrapor a um hipotético ataque russo às posições da Otan no Leste Europeu. No quadro da European Reassurance Initiative (Iniciativa para Tranquilizar a Europa), o Pentágono prevê em 2017 uma quantia de US$ 3,4 bilhões destinada à instalação de uma brigada blindada suplementar na Europa, assim como ao “pré-posicionamento” dos equipamentos de uma brigada similar a mais. Num prazo mais longo, o aumento das despesas com armas convencionais de alta tecnologia seria igualmente necessário para vencer um “inimigo de envergadura”: aviões de combate sofisticados, navios de superfície, submarinos. Para coroar, Carter deseja “investir na modernização da dissuasão nuclear”.6
Outra reminiscência da Guerra Fria: o comunicado emitido pelos chefes de Estado e de governo na última cúpula da Otan, em julho, em Varsóvia.7 Enquanto o Brexit ainda estava fresco, o texto parece só se preocupar com Moscou: “As atividades recentes da Rússia diminuíram a estabilidade e a segurança, aumentaram a imprevisibilidade e modificaram o ambiente da segurança”. Por conseguinte, a Otan se diz “aberta ao diálogo”, reafirmando a suspensão de “toda cooperação civil e militar prática” e o reforço de sua “postura de dissuasão e defesa, que inclui uma presença avançada na parte oriental da Aliança Atlântica”.8

Medo do rebaixamento
A instalação de quatro batalhões na Polônia e nos países bálticos é ainda mais notável quando se pensa que será a primeira guarnição semipermanente de forças multinacionais da Otan no território da ex-União Soviética. Os Estados Unidos, o Reino Unido, o Canadá e a Alemanha vão assegurar seu comando num sistema de rodízio. Essa reaproximação das tropas favorece o risco de um acirramento, uma escaramuça com forças russas que poderia desencadear uma guerra em grande escala, talvez com um componente nuclear.
Apenas dez dias após a cúpula atlântica, Theresa May, nova primeira-ministra britânica, obteve o aval de seu Parlamento para a preservação e o desenvolvimento do programa de mísseis nucleares Trident. Afirmando que “a ameaça nuclear não desapareceu, pelo contrário, acentuou-se”,9 ela propôs um plano de 41 bilhões de libras esterlinas (R$ 175 bilhões) destinado à manutenção e modernização da frota nacional de submarinos lançadores de mísseis atômicos.
Para justificarem a preparação de um conflito maior contra um “inimigo de envergadura”, os analistas norte-americanos e europeus invocam quase sempre a agressão russa na Ucrânia e o expansionismo de Pequim no Mar da China Meridional.10 As manobras ocidentais passam assim a ser um mal necessário, uma simples reação às provocações do outro campo. Mas a explicação não é suficiente nem convincente. Na realidade, os quadros dos exércitos temem mais que as vantagens estratégicas do Ocidente percam vigor em razão das turbulências mundiais, enquanto outros países ganham em potência militar e geopolítica. Nessa nova era de “rivalidade entre as grandes potências”, para retomar os termos de Carter, a força de ataque norte-americana parece menos temível do que antes, enquanto a capacidade das potências rivais não para de aumentar.
Assim, quando se trata das manobras de Moscou na Crimeia e no leste da Ucrânia, os analistas ocidentais invocam a ilegalidade da intervenção russa. Mas sua verdadeira preocupação tem a ver com o fato de que esta demonstrou a eficácia do investimento militar feito por Vladimir Putin. Os observadores atlânticos olhavam com desdém os recursos russos empregados nas guerras da Chechênia (1999-2000) e da Geórgia (2008); as forças ativas na Crimeia e na Síria são, em contrapartida, bem equipadas e têm bom desempenho. O relatório do INSS citado observa, aliás, que “a Rússia deu passos de gigante no desenvolvimento de sua capacidade de utilizar sua força de maneira eficaz”.
Da mesma forma, ao transformar recifes e atóis do Mar da China Meridional em ilhotas suscetíveis de abrigar instalações importantes, Pequim provocou surpresa e preocupação nos Estados Unidos, que por muito tempo consideraram essa zona um “lago norte-americano”. Os ocidentais estão impressionados com a potência crescente do Exército chinês. É verdade que Washington desfruta hoje uma superioridade naval e aérea na região, mas a audácia das manobras chinesas sugere que Pequim se tornou um rival que não pode ser negligenciado. Os estrategistas não enxergam nenhum outro recurso senão preservar uma ampla superioridade a fim de impedir futuros concorrentes potenciais de prejudicar os interesses norte-americanos. Daí as ameaças insistentes de um conflito maior, que justificariam as despesas suplementares no armamento hipersofisticado que um “inimigo de envergadura” exige.

Dos US$ 583 bilhões do orçamento da defesa revelado por Carter em fevereiro, US$ 71,4 bilhões irão para pesquisa e desenvolvimento dessas armas – a título de comparação, o orçamento militar francês atingiu R$ 36 bilhões em 2016. Carter explica: “Devemos fazer isso para nos adiantarmos às ameaças, num momento em que outros países ensaiam ter acesso a vantagens que desfrutamos durante décadas em campos como as munições guiadas com precisão ou a tecnologia antirradar, cibernética e espacial”.11
Somas fabulosas serão igualmente consagradas à aquisição de equipamentos de ponta aptos a ultrapassar os sistemas russos e chineses de defesa e a reforçar as capacidades norte-americanas nas zonas potenciais de conflito, como o Mar Báltico ou a região oeste do Pacífico. Assim, ao longo dos cinco próximos anos, algo como US$ 12 bilhões serão consagrados ao bombardeiro de longa distância B-21, um avião antirradar capaz de transportar armas termonucleares e fazer frente à defesa aérea russa. O Pentágono também vai comprar submarinos (da classe Virginia) e destróieres (Burke) suplementares para enfrentar os avanços chineses no Pacífico. Ele começou a implantar seu sistema antimíssil de última geração, o Thaad (Terminal High Altitude Area Defense), na Coreia do Sul. Oficialmente, trata-se de enfrentar a Coreia do Norte, mas também é possível enxergar aí uma ameaça contra a China.
É altamente improvável que o futuro presidente norte-americano, seja Hillary Clinton ou Donald Trump, renuncie à preparação de um conflito com a China ou a Rússia. Hillary já obteve o apoio de vários pensadores neoconservadores, que a julgam mais confiável que seu adversário republicano e mais belicista que Barack Obama. Trump repetiu várias vezes que pretende reconstruir as capacidades militares “esgotadas” do país. Porém, ele concentrou suas declarações na luta contra a Organização do Estado Islâmico (OEI) e afirmou ter sérias dúvidas sobre a utilidade de manter a Otan, que considera “obsoleta”. Em 31 de julho, ele declarou na rede ABC: “Se nosso país se entendesse bem com a Rússia, seria uma coisa boa”. E acrescentou, de maneira mais desconcertante para seus adversários: “O povo da Crimeia, pelo que entendi, prefere ficar com a Rússia”. Mas ele também ficou preocupado em ver Pequim “construir uma fortaleza no Mar da China” e insistiu na necessidade de investir em novos sistemas de armamento, mais do que o fizeram Obama e Hillary em sua passagem pelo governo.12
A intimidação e os treinamentos militares em zonas sensíveis como o Leste Europeu e o Mar da China Meridional podem se tornar a nova norma, com os riscos de escalada involuntária que isso implica. Washington, Moscou e Pequim, de qualquer forma, anunciaram que instalariam nessas regiões forças suplementares e conduziriam exercícios ali. A abordagem ocidental desse tipo de conflito maior conta igualmente com numerosos apoiadores na Rússia e na China. O problema não se resume, portanto, a uma oposição Leste-Oeste: a eventualidade de uma guerra aberta entre grandes potências se espalha nas mentes e leva os tomadores de decisão a se prepararem para ela.

Michael Klare
é professor de estudos sobre paz e segurança mundiais no Hampshire College, em Amherst, Masachusetts, e autor do recém lançado Rising powers, shrinking planet; the new geopolitics of energy, publicado nos Estados Unidos pela Metropolitan Books, e no Reino Unido pela One World Publications.


1    Paul Bernstein, “Putin’s Russia and US Defense Strategy” [A Rússia de Putin e a estratégia de defesa dos Estados Unidos], National Defense University (NDU), Institute of National Strategic Studies (INSS), Washington, 19-20 ago. 2015.
2    Cf. Alexander Mattelaer, “The NATO Warsaw summit: How to strengthen Alliance cohesion” [A cúpula da Otan em Varsóvia: como fortalecer a coesão da Aliança], Strategic Forum, NDU-INSS, jun. 2016.
3    Camille Grand, “Nuclear deterrence and the Alliance in the 21st century” [Dissuasão nuclear e a Aliança no século XXI], NATO Review, Bruxelas, 2016.
4    Ler o dossiê “La diplomatie des armes” [A diplomacia das armas], Le Monde Diplomatique, abr. 2016.
5    “Remarks by Secretary Carter on the budget at the Economic Club of Washington, D.C.” [Comentários do secretário Carter ao orçamento no Clube Econômico de Washington, D.C.], Departamento da Defesa dos Estados Unidos, 2 fev. 2016.
6    Ash Carter, “Submitted Statement – Senate Appropriations Committee – Defense (FY 2017 Budget Request)” [Declaração Apresentada – Comitê de Aprovações do Senado – Defesa (FY 2017 Requisição de Orçamento)], Departamento da Defesa dos Estados Unidos, 27 abr. 2016.
7    Ler Serge Halimi, “Provocations atlantiques” [Provocações atlânticas], Le Monde Diplomatique, ago. 2016.
8    “Comunicado da cúpula de Varsóvia”, Otan, Varsóvia, 9 jul. 2016.
9    Stephen Castle, “Theresa May wins votes to renew nuclear program” [Theresa May vence em votação para renovar o programa nuclear], The New York Times, 18 jul. 2016.
10    Ler Didier Cormorand, “Et pour quelques rochers de plus...” [E por alguns rochedos a mais...], Le Monde Diplomatique, jun. 2016.
11    “Remarks by Secretary Carter on the budget at the Economic Club of Washington, D.C.”, op. cit.
12    Maggie Haberman e David E. Sanger, “Donald Trump expounds on his foreign policy views” [Donald Trump expõe seus pontos de vista sobre política externa], The New York Times, 26 mar. 2016.

31 de Agosto de 2016
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Se é só para fingir que tem, fecha de uma vez


Estado deveria dialogar, ouvir, falar com os estudantes e não aceitar em hipótese alguma a prática da violência contra os estudantes por pedirem uma educação de qualidade
Aluno do Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes , no Rio de Janeiro (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Aluno do Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes , no Rio de Janeiro (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Nenhuma escola, seja ela pública ou privada, é boa para todos os negros, pois elas não cumprem a lei n. 10639 de 2003, que estabelece que conteúdos referentes à história e à cultura afro-brasileiras sejam ministrados nos currículos ligados às áreas de educação artística, história e literatura. No caso das escolas públicas de São Paulo, especialmente, elas estão longe de ser o espaço ideal para qualquer criança por inúmeros motivos: falta de incentivo público, ausência dos pais, violência de alguns alunos… Tudo somado, dá o caos. Entre as finalidades do Estado, está a educação, conforme prevê a Constituição Federal nos artigos n. 205 (“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho) e n. 206 (“O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V – valorização dos profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União; VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII – garantia de padrão de qualidade”).
Pois bem, o Estado, que já era omisso, agora quer jogar a toalha de vez e deixar para o jovem decidir o que quer estudar, quando quer, a que horas quer. Com o fechamento de escolas e o congelamento dos salários dos professores, é melhor fechar logo. O Estado deveria dialogar, ouvir, falar com os estudantes e não aceitar em hipótese alguma a prática da violência contra os estudantes por pedirem uma educação de qualidade. Deveria haver programas de capacitação para todos os professores e funcionários, inclusive capacitação psicológica. No geral, uma preparação maior. Se uma criança se machuca na escola, por exemplo, não tem quem cuide dela lá. Os materiais de trabalho são obsoletos, e a merenda é ruim. (Por que não são oferecidas frutas? Não é mais barato que um salgadinho?). Hoje, a geração y não se sente nem um pouco atraída pela escola , uma instituição ultrapassada, pichada, carente de estrutura e de infraestrutura. Escola sem limites, alunos sem limites. Já as escolas da prefeitura acolhem e atendem melhor por serem um número reduzido. Mesmo assim, ainda há muito a se fazer.
Temos professores e alunos que vivem ameaçados e amordaçados. Alunos que foram mal-educados não sabem que a escola não é o lugar para o professor ensinar o que deveria ser aprendido em casa, como por exemplo, respeitar os mais velhos, ouvir quem está falando, pedir licença e por favor, aguardar sua vez na fila, chegar e sair no horário, não falar palavrões, não brigar, não dar cadeiradas, não bater no professor, não matar… Tais coisas não são obrigação do professor, e sim dos pais, tios, avós, madrastas,  padrastos e irmãos. Professor é para ensinar a viajar nas histórias, nos livros de filosofia, nas palavras dos escritores, para o aluno aprender que matemática ajuda no raciocínio, que filosofia questiona, que sociologia estuda a sociedade, a política e os cidadãos, que educação física não cuida só do corpo, mas ajuda a interagir com o outro, e a aprender a ganhar e perder.
Pais têm o dever de ser mais presentes na escola e na vida dos filhos. Crianças que têm pai e mãe por perto são diferentes, basta observar. Escolas que os pais frequentam provavelmente não serão quebradas pelos alunos. Eis um trabalho não tão difícil para quem quer ter no mínimo mão de obra qualificada, já que levar o povo a pensar não parece mesmo ser o foco da educação pública no Brasil.

Tijolinho: Olinda: racha à vista entre os socialistas?

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Diante do quadro de "judicialização" da campanha política de Olinda, dá até medo dizer alguma coisa sobre aquele cenário. Ali, hoje, se processa por tudo. Basta se ter nascido numa maternidade do Recife e, nas primeiras horas, ser transferido para um berço do bairro de Peixinhos, e isso já pode representar uma grande dor de cabeça para um candidato. Até o momento, não tomamos conhecimento de nenhuma pesquisa de intenção de votos, neste segundo-turno, na Marim dos Caetés, mas, grosso modo, o quadro parece mesmo "embolado". O candidato socialista, Antonio Campos(PSB), liderou a corrida no primeiro turno, mas com uma diferença bastante equilibrada em relação ao candidato do Solidariedade, Prof. Lupércio. 

(Conteúdo exclusivo, liberado apenas para os assinantes do blog)

Tijolinho: Eleições disputadíssimas na Princesa do Agreste.


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As eleições municipais deste ano, em Caruaru, estão acirradíssimas. Mais de um instituto de pesquisa aponta um empate técnico entre os candidatos Tony Gel(PMDB) e Raquel Lyra(PSDB). As diferenças são mínimas entre ambos, não atingindo sequer um dígito, o que pode significar uma eleição ganha por meia dúzia de votos. Em razão das indisposições dos Lyras com o Palácio do Campo das Princesas, o governador Paulo Câmara aposta todas as suas fichas no candidato Tony Gel. Aliás, há muita gente apostando no Tony Gel, como a alta cúpula do PMDB tupiniquim, de olho na correlação de forças que testará sua musculatura política na composição da chapa governista que disputará a reeleição em 2018. Vislumbrando este mesmo cenário, o Ministro das Cidades, Bruno Araújo(PSDB), não se faz de rogado em emprestar irrestrita solidariedade à candidata da família Lyra, chegando ao limite de antecipar possíveis investimentos federais naquele município.

Caruaru é uma das cidades mais importantes na geografia política do Estado de Pernambuco. É uma das cidades do chamado "Triângulo das Bermudas", decisiva em disputas majoritárias estaduais e até federais. Não é apenas por alguma curiosidade que uma boa parte dos candidatos presidenciais vão conhecer o Alto do Moura e posar ao lado de Severino Vitalino, o filho do mestre Vitalino, principalmente no período dos festejos juninos. A mesma leitura pode ser feita, por exemplo, a cidades como Campina Grande, no Estado da Paraíba. Uma velha raposa política local, em razão das disputas polarizadas entre dois troncos familiares locais, costumava afirmar que, na Princesa do Agreste, ou se era carne de sol ou se era carne de charque. A referência era às famílias Lyra e Queiroz. 

Ao longo dos anos, motivadas pela dinâmica natural das disputas políticas, essas famílias foram se recompondo com outras forças políticas menores e, até mesmo, celebrando um armistício entre si, disputando eleições municipais unidas, diluindo suas divergências nos famosos forrós da Fazenda Macambira. Claro que os tapinhas nas costas, não raro, não passavam de meras formalidades. Comendo o minguau quente pelas beiradas, aliado à família Lacerda, o ex-locutor Tony Gel, gradativamente, foi introduzindo a chã de bode - de preferência a do Alto do Moura - ao cardápio político local. Já foi prefeito da cidade e hoje disputa, voto a voto, a hegemonia política local com uma filha da família Lyra, Raquel Lyra. Numa eleição tão disputada, é imprevisível fazer algum diagnóstico, mas, qualquer que seja o resultado daquela disputa, isso terá reflexos nas eleições de majoritárias estaduais de 2018. Como disse, até mesmo nas composições de chapa.  


O texto e o contexto da prisão de Eduardo Cunha




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No nosso contexto político adverso, o pedido de prisão preventiva do ex-deputado Eduardo Cunha(PMDB), por mais incrível que possa parecer, soou com um ar de surpresa entre os brasileiros de todas as tribos políticas. Entre os "coxinhas", por saberem que Eduardo Cunha era um ator "blindado". Entre os "mortadelas" por entenderem - não sem motivos - que as ações da Operação Lava Jato sempre tiveram um endereço certo: foi concebida para apear do poder e encarcerar os "desafetos" dessa nova correlação de forças que tomou o poder político no país. Num clima de plena vigência do Estado Democrático de Direito, um cidadão como Eduardo Cunha já era para estar vendo o sol nascer quadrado faz algum tempo. Num clima onde o direito funciona consoantes algumas "conveniências", seu "capital político" poderia poupá-lo desses constrangimentos, como, aliás, vinha poupando até então. 

(Conteúdo exclusivo, liberado apenas para os assinantes do blog)

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Aviso aos navegantes, leitores, leitoras e assinantes.





Nossos estimados leitores passaram a nos reclamar acerca da ausência dos editoriais, aqui publicados à média de um por dia, no calor da crise institucional que sacudiu o país, notadamente na agonia política que culminou com o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, num processo cheio de falhas, cujo discurso de "golpe" por muito pouco não passou a ser "criminalizado". Estamos vivendo sob um clima de absoluta insegurança jurídica no país, num Estado de Exceção que a muito deixou de ser episódico, tornando-se permanente. O convite da senhora ministra do STF, Carmem Lúcia, à cúpula do aparelho repressor do Estado, para discutir questões de segurança pública - que mereceu o reparo do Ministro da Defesa, Raul Jungmann, de que não seria missão do Exército fazer segurança de rua - é motivo, sim, para ficarmos sob alerta quanto ao desfecho desse "seminário".

"Seminários" que podem gerar, de fato, bons fluidos para a saúde de nossa frágil democracia, na realidade, são os seminários diários promovidos pela Plataforma Político Social e o jornal Le Monde Diplomatique, que discutem questões relativas às violações de direitos todos os dias. Um verdadeiro observatório em defesa da democracia política e substantiva. Aliás, aqui na UFPE, tive a oportunidade conhecer pessoalmente o editor do Le Monde, Sílvio Caccia Bava, num debate no auditório do CCSA. Nos últimos dias, praticamente todos os dias, sou obrigado a fazer um pente fino nos meus perfis das redes sociais apenas para excluir fakes que procuram nos "seguir", prestigiar nossa página, ou a nossa "amizade", obviamente, para acompanhar o que estamos publicando. Alguns de nossas amigos, até deixaram de usar as redes sociais. Os tempos são bicudos. Outro dia, uma "jovem" sem rosto, uma Ana de dois "n" e um sobrenome estranho, passou a nos acompanhar. Pouco tempo depois, sem nenhum histórico de publicações no perfil, ela mostrou o rosto. Era a coisa mais linda do mundo. Uma destruidora de lares, como diria minha sogra, que acabou de completar 90 anos de idade. Por muito pouco não me apaixonei, mas até aquele rosto lindo era falso. 

Por medida de segurança, os conteúdos mais substantivo do blog estão sendo encaminhados diretamente às caixas de e-mails dos nossos valorosos amigos e amigas que assinam o blog, como conteúdo restrito. O blog é mantido basicamente com essas assinaturas e a venda de livros de nossa autoria, anunciados na margem esquerda. Mantemos uma relação ótima com os nossos assinantes e leitores. É um grupo ainda pequena, em razão de diversos fatores, mas é algo que nos deixam bastante feliz. O blog, que nasceu como uma brincadeira do meu filho, Victor Hugo, editor adjunto, já gerou seu primeiro fruto, um blog destinado exclusivamente à pesquisa escolar, hoje indexado a alguma universidade, colégio ou biblioteca americana, o que nos permitem o acesso diário de 1.500 internautas, em média. Curiosamente, 90% dos acessos do blog são dos Estados Unidos. 

Ao longo dos anos, o exercício diário da crônica política nos posicionou num patamar bastante relevante nesse ramo. Aqui em Pernambuco, sem falsa modéstia, desconhecemos outro analista com a nossa desenvoltura e grau de independência, salvo, claro, o nosso professor e cientista político Michel Zaidan Filho. Num universo de blogs "comprometidos" e "tolhidos" por um conjunto de interesses nada republicamos, o nosso se sobressai pelo grau de autonomia, altivez e pela absoluta liberdade de expressão, um diferencial ímpar, cumprindo um papel importante do "fazer jornalismo", mesmo editado por um não jornalista. 

Como bem informou uma internauta ao elogiar o nosso trabalho - para ela eu sou o Pelé da crônica política - o grande diferencial do nosso texto é que ali existe "teoria". Claro que a nossa leitora cometeu algum exagero por aqui. A gente mata a bola no peito, faz alguns gols, mas a nossa referência no campo futebolístico é outro negão, aquele que jogava no Cruzeiro de tempos idos: Dirceu Lopes. Na crônica política, com o perdão do Fernando Brito, do Miguel do Rosário, do Noronha, do Renato Rovai, aponto o Luis Nassif como o melhor na atualidade. Em termos de editoriais, ninguém escreve melhor do que o Sílvio Caccia Bava, do Le Monde. Se Deus nos permitir, ainda chegaremos lá, de preferência num ambiente político menos turvo, mais oxigenado, o que nos permitiriam ampliar o universo de leitores.  

Aproveito para informar que o livro de crônicas: Os Melhores Dias da Vida de Orson Welles está esgotado. Mas temos uma notícia muito interessante sobre esta crônica que deu título ao livro: um conhecido roteirista e cineasta americana, do circuito duro do campo cinematográfico, para usar um conceito do sociólogo Pierre Bourdieu, ao acessá-la pelo blog de pesquisa escolar, teceu ótimos elogios à mesma. Quem sabe isso um dia vira filme? Na realidade, salvo engano, há um filme sobre a passagem de Orson Welles no Brasil, mas creio que o autor se limita a registrar apenas o "histórico" dessa viagem. 

Aquele Orson Welles que nós conhecemos nessa crônica, da ciobinha frita com uma cervejinha bem gelada; das pescarias com os nativos da praia de Iracema; do namoro com as cearenses de pele vermelha; das conversas de fim de tarde,ao por-do-sol nas dunas; este Welles apenas na crônica deste humilde escriba. A foto publicada ao lado, onde Welles aparece sentado na areia da praia, dá bem a dimensão de sua preocupação por ter sido deixado à míngua pelo Estúdio que o patrocinava, após as gestão do Governo Getúlio Vargas junto ao Governo Americano. Um abraço a todos vocês, um pedido de perdão sincero àqueles que discordam da medida e pedimos que continuem nos prestigiando, indicando o blog àqueles que se colocam ao lado da democracia. A primeira recomendação ao assinante é o envio do seu endereço de e-mail. Como diria Gilles Deleuze, um pouco de possível se não eu sufoco. 

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Le Monde: Simone Weil, o engajamento absoluto


O pensamento e a trajetória de Simone Weil (1909-1943) permanecem desconhecidos fora dos círculos especializados. Além de filósofa destacada do século XX, ela foi uma mulher de luta: implicada nas batalhas e debates de seu tempo, Weil deixou sua marca na cultura política da esquerda. Após sua morte, sua obra foi em gra
por Olivier Pironet


Em 1931, Simone Weil, aos 22 anos, recém-nomeada professora de Filosofia, instalou-se em Puy-en-Velay, uma comuna da região mineradora de Haute-Loire, para ensinar ali em um liceu de moças. O diretor da Escola Normal Superior (ENS) de Paris, Célestin Bouglé, comemorou. Aquela que ele via como um “misto de anarquista e carola” o exasperava por seu espírito de contestação e militância, por isso ele desejava vê-la nomeada “o mais longe possível, para que nunca mais ouvisse falar dela”.1
A chegada de Simone Weil a Puy representou uma etapa importante no percurso da filósofa, inteiramente marcado pelo engajamento na bandeira da solidariedade para com os desafortunados: “Desde a infância, minhas simpatias se voltaram para os agrupamentos que se reclamavam como as camadas desprezadas da hierarquia social”, confiou em uma carta de 1938 a Georges Bernanos.
No Liceu Henri IV, o filósofo Émile Chartier (cujo pseudônimo era Alain), humanista e fervoroso pacifista, ensinou a ela que a reflexão e a ação são inseparáveis e que o saber só se torna autêntico por meio da experiência. Ela colocou a lição em prática... Era uma época de marchas militares, com o crescimento do fascismo na Europa. Logo explodiu a crise de 1929, que provocou o aparecimento do espectro do desemprego em massa. A vida política do país estava então dominada pelo Partido Radical (centro-esquerda) e pela instabilidade parlamentar. Socialistas e comunistas rivalizavam para conquistar para si a classe operária.
Desde 1927, Simone Weil integrava um coletivo pacifista do qual participava ativamente. No ano seguinte, ela assinou uma petição contra a preparação militar obrigatória imposta aos estudantes do curso normal e lançou pedidos de doações para os desempregados junto de seus camaradas. Em paralelo a seus estudos na ENS, ela dava aulas de Literatura para os condutores de trem, no mesmo espírito das universidades populares. Assim, pretendia se diferenciar “das formas de ensino burguês” em proveito de uma “empresa de instrução mútua”, na qual “o instrutor talvez tenha de aprender com aquele que ele instrui”. Essas reflexões entravam em ressonância com a conclusão de sua monografia sobre René Descartes: “Os trabalhadores sabem tudo; mas, fora do trabalho, eles não sabem que possuem toda a sabedoria”.
Uma vez em Puy, a jovem filósofa, que colocava sua esperança “na ação dos sindicatos, e não na dos partidos políticos”, entrou completamente no mundo operário das regiões de Haute-Loire e Loire.2 Ela integrou os meios militantes, fez sua carteirinha no Sindicato Nacional dos Professores (Confederação Geral do Trabalho, CGT), mas também na Federação Unitária de Ensino (sindical revolucionária), e deu cursos sobre marxismo e economia política aos “caras pretas” na Bolsa do Trabalho de Saint-Étienne. Ela contribuiu para o desenvolvimento dos Colegiados do Trabalho, institutos de ensino geral e profissional criados em 1928 pela CGT na periferia de Saint-Étienne, com o objetivo de abolir o que ela mesma qualificava como “vergonhosa separação entre o trabalho intelectual e o manual”.
Ela também se aliou aos desempregados de Puy. Em um comunicado que redigiu para seu comitê, advertia: “Se obrigamos os desempregados a reconhecer que eles só podem obter alguma coisa na medida em que provocam o medo, eles terão isso por dito”. A imprensa local a tratou de “mensageira do evangelho moscovita” e de “virgem vermelha da tribo de Levi”. Repreendida por sua hierarquia, interrogada pela polícia, ela vivia com pouco, transferindo a quase totalidade de seu salário para as famílias atingidas pelo desemprego e para a Caixa de Solidariedade dos Mineradores.
Sua estadia na Alemanha, no verão de 1932, a convenceu de que uma revolução popular não estava prestes a acontecer. Ao constatar o jogo perigoso dos sociais-democratas, então no poder, e a “atitude passiva” dos comunistas, ela considerou que “os operários alemães não estavam de maneira nenhuma dispostos a capitular, mas eram incapazes de lutar”. Convencida por suas correspondências com Boris Souvarine (1893-1984), um dos fundadores do Partido Comunista (PC) francês, excluído em 1924 por trotskismo, ela também atacou a URSS, um sistema que, em muitos pontos, “é exatamente o contrapé” do regime “que Lenin acreditava instaurar”.
Em 1934, ela decidiu se “retirar de qualquer tipo de política, salvo para a pesquisa teórica”. As greves da primavera de 1936, que ela apoiou, não a fizeram mudar de opinião, pois, desde essa época, ela fez sua a concepção maquiavélica do conflito social entre aqueles que comandam e aqueles que obedecem como sendo inerente a qualquer corpo político e sem resolução definitiva possível:3 “As lutas entre concidadãos [...] são vinculadas à natureza das coisas e não podem ser acalmadas, apenas abafadas pela coação”. Quando empreendeu a redação daquilo que chamou de sua “grande obra”, as Reflexões sobre as causas da liberdade e da opressão social, ela denunciou o “caráter mitológico” atribuído às virtudes do progresso, à potência libertadora da máquina e às forças produtivas, cujo poder revolucionário seria “pura ficção”. As raízes da opressão social, em vez de serem intrinsecamente ligadas ao modo de produção capitalista fundado sobre a exploração operária, estariam vinculadas à própria natureza da “grande indústria”, cujo caráter opressivo não depende de um regime político específico, já que também se encontra no sistema socialista: “A força que possui a burguesia para explorar os operários reside nos próprios fundamentos de nossa vida social e não pode ser aniquilada por nenhuma transformação política e jurídica. Essa força é, primeiro e essencialmente, o próprio regime da produção moderna”. Então não basta abolir o sistema capitalista – e a exploração – para suprimir a opressão; esta é engendrada pelo próprio progresso técnico, que “rebaixa a humanidade a ser a coisa das coisas inertes” e pelas relações sociais de “dominação do homem pelo homem” que o induzem. A emancipação passaria pela reapropriação do aparelho produtivo dentro de uma sociedade descentralizada se apoiando na “cooperação metódica de todos” e liberta desse “ídolo social” que representa o “maquinismo”.
Desejosa de não ser mais “uma ‘professora associada’ dando uma volta na classe operária”, Simone Weil pretendeu fazer a prova real do que tinha acabado de analisar. Ela pediu uma licença junto à Educação Nacional e foi contratada em uma fábrica para partilhar plenamente a sorte das classes trabalhadoras. “O homem é feito de tal forma que aquele que esmaga não sente nada, e é aquele que é esmagado que sente. Enquanto não nos colocarmos do lado dos oprimidos para sentir com eles, não poderemos nos dar conta”, explicou um dia a seus alunos. Entre dezembro de 1934 e agosto de 1935, ela foi cortadora de gráfica na Alsthom, operária na J.-J. Carnaud et Forges e perfuradora na Renault. Em seu Diário de fábrica, ela descreveu as tarefas e as cadências, o tipo de máquinas que utilizava, a organização da produção etc. O sofrimento físico, o cansaço, as irritações que sofria e o sentimento de ser reduzida a um estado de quase servidão mexeram com ela. Dessa experiência, ela tirou a lição de que “o fato capital não é o sofrimento, mas a humilhação”.
Ao longo do verão de 1935, de férias em Portugal, ela assistiu a uma procissão de mulheres de pescadores. “Ali, eu tive a repentina certeza de que o cristianismo é por excelência a religião dos escravos, que não podem deixar de aderir a ela, e eu entre eles.” Marcada pela figura do Cristo, ela se voltou para o catolicismo em 1938, mesmo permanecendo uma “cristã fora da Igreja”. Essa dimensão mística seria mais tarde frequentemente valorizada, enquanto seu radicalismo político tenderia a ser minimizado.
Os “escravos” também são os nativos nas colônias francesas, os povos invadidos por uma potência estrangeira. A ferocidade da repressão do levante nacionalista de Yen Bai, na Indochina, em fevereiro de 1930, veio até ela por meio da imprensa. Ela assinou diversos artigos sobre a questão indochinesa e a situação da Argélia, encontrou o dirigente nacionalista Messali Hadj,4 de quem tomou a defesa depois de ele ter sido condenado a dois anos de prisão, e se disse contrária à criação de um Estado judeu na Palestina: não se deve, estimava, “criar uma nação que, daqui a cinquenta anos, poderá se tornar uma ameaça para o Oriente Médio e para o mundo”.5
Depois do início da guerra civil entre fascistas e republicanos na Espanha, em julho de 1936, ela partiu, sozinha, para Barcelona. Em razão de suas posições pacifistas, ela apoiou a política de não intervenção da França, mas sentiu a “necessidade interior” de “participar moralmente”. Assim, juntou-se em Aragão aos milicianos anarquistas da coluna formada por Buenaventura Durruti. Uma semana depois, porém, ela se queimou gravemente e teve de deixar o front. A experiência da guerra, “quando não há nada de mais natural [...] do que matar”, reforçou seu pacifismo e alimentou suas Reflexões sobre a barbárie (1939). Mas esse mesmo ideal faria dela uma oponente feroz à entrada na guerra contra Adolf Hitler, até a invasão da Tchecoslováquia pelas tropas alemãs em março de 1939. Pouco depois, ela admitiu ter cometido um “erro criminoso”. Ela se uniu à Resistência em Londres e redigiu O enraizamento, que seria publicado em 1950 graças a Albert Camus: um esboço do que deveria ser uma “nova civilização” fundada sobre a “espiritualidade do trabalho”, o amor pelo bem público e a igualdade.
Durante uma greve de fome em solidariedade aos franceses submetidos ao racionamento alimentar pelo ocupante alemão, Simone Weil contraiu tuberculose e morreu em 24 de agosto de 1943, aos 34 anos. Sua obra só foi publicada após sua morte.



Olivier Pironet
*Olivier Pironet é jornalista


1    Salvo menção contrária, as citações de Simone Weil foram tiradas das Œuvres complètes [Obras completas], Gallimard, Paris (em processo de publicação desde 1998) e das Œuvres [Obras], Florence de Lussy (dir.), Gallimard, 1999. As que dizem respeito aos elementos biográficos provêm da obra de Simone Pétrement, La Vie de Simone Weil [A vida de Simone Weil], Fayard, Paris, 1997.
2    Cf. Jean Duperray, Quand Simone Weil passa chez nous. Témoignage d’un syndicaliste et autres textes inédits [Quando Simone Weil passou em nossa casa. Depoimento de um sindicalista e outros textos inéditos], Mille et Une Nuits, Paris, 2010 (1. ed.: Les Lettres Nouvelles, Paris, 1964).
3    Ler “Machiavel contre le machiavélisme” [Maquiavel contra o maquiavelismo], Le Monde Diplomatique, nov. 2013.
4    Ler Alain Ruscio, “Messali Hadj, père oublié du nationalisme algérien” [Messali Hadj, pai esquecido do nacionalismo argelino], Le Monde Diplomatique, jun. 2012.
5    Nouveaux Cahiers, n.38, Paris, fev. 1939.

03 de Agosto de 2016
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