pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Michel Zaidan: As eleições municipais: Entre a Praça de Casa Forte e o Beco da Dona Mira
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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Michel Zaidan: As eleições municipais: Entre a Praça de Casa Forte e o Beco da Dona Mira








As eleições municipais dos três maiores colégios eleitorais da região metropolitana apresenta uma particularidade cujo significado extrapola os seus limites locais. No imenso giro à direita que se verificou na maioria dos municípios brasileiros, com o recuo dos partidos de centro-esquerda no comando dos executivos locais, a polarização fica entre representantes "ilustrados" da oligarquia e representantes da igreja. É como se fosse uma lumpem-eleição, para uma lumpem-política. Isto porque os efeitos da Lava-a-Jato, conjugados com os esforços patrióticos da imprensa golpista, o maior atingido nessa campanha foi o Estado laico e republicano. Tinha previsto, em algumas ocasiões que as consequências da desconstrução sistemática das instituições políticas republicanas levaria ao descrédito dos partidos mais à esquerda e o reforço do voto evangélico, nestas eleições. Infelizmente, foi isso que aconteceu. 

Em Pernambuco, existe a especificidade do predomínio (não hegemonia) de uma oligarquia familiar, representada por uma matriarca que se apresenta nos atos da campanha eleitoral como detentora de uma memória de lutas e conquistas. Nada mais falso do que isso. Pretensões eleitorais de um grupo político mesquinho, perseguidor, que vem se utilizando da máquina administrativa e de uma intensa propaganda enganosa para convencer o eleitor desavisado de que votar na esquerda e em seus candidatos, é votar no atraso, no ultrapassado, no passado. Mas há algo mais velho e antiquado na política brasileira do que o domínio de uma família e a imagem de um mulher sofre dora, mãe de família, sozinha, dedicada a cuidar dos filhos, do que isso?

Do outro lado, a intromissão solerte,decidida e avassaladora dos religiosos fundamentalistas e ultra-conservadores na política municipal. Houve uma subestimação - para não dizer conivência - do projeto político desses cristãos reformados na política brasileira. Ao contrário da Igreja Católica, que desde as comunidades eclesiais de base e a teologia da libertação, não possui nenhum projeto político para o Brasil e a ocupação de suas instituições laicas e republicanas, esses crentes na vinda próxima de Jesus, não hesitam diante de nada, quando se trata de evangelizar, catequetizar e cabalar o voto alheio, ora para sua igreja, ora para seu candidato ou partido. Dois dos maiores municípios da região metropolitana estão entregues a um duelo de difícil escolha para o eleitor democrático e republicano. 

Escolher entre a Igreja e....a oligarquia ou o velho e surrado clientelismo municipal. Compadeço-me - como o cristão que não sou - de um dilema eleitoral como esse. E me regozijo de votar num colégio eleitoral onde se trava, aí sim, uma batalha decisiva entre um preposto (um "técnico") da oligarquia local e uma proposta de centro-esquerda, voltada para as questões sociais, da cidadania, da qualidade de vida dos recifenses, do lazer, do transporte público, da educação de qualidade, da manutenção do sistema único de saúde etc.O Recife pode ser o contraponto necessário e oportuno a esse voto de direita, fascista, de uma classe média conservadora, amedrontada - outra vez - com a mobilidade social das camadas populares. Vamos às urnas com a consciência de que se trava uma batalha muito importante entre a afirmação da cidadania republicana e seus direitos e conquistas e a falácia, as mentiras, a propaganda cara e enganosa de um representante de um grupo familiar local que se apresenta como herdeira das melhores tradições políticas de Pernambuco! 


Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia. 

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