O sociólogo Gilberto Freyre enfrentou algumas dificuldades em seu processo de alfabetização. Foi alfabetizado primeiro em inglês, através de um professor particular contratado pela família, e, somente depois, inteirou-se sobre a língua de Camões. Isso não o impediu de se tornar, ao longo dos anos, ao lado do poeta João Cabral de Melo Neto, seu primo, um dos maiores expoentes da língua portuguesa no mundo. Quando instigado a escreve em inglês, durante sua temporada de estudos nos Estados Unidos, afirmava sempre que não sabia dançar em inglês, o que fazia tão bem em língua portuguesa. Escreveu um dos mais emblemáticos textos sobre a interpretação do Brasil, praticamente inaugurando os estudos sobre a escravidão no país, ainda na década de 30, numa linguagem mais literária do que científica.
Curioso que essa forma de abordagem de temas crucias para o país numa linguagem literária é merecedora de rasgados elogios, de um lado, o lado dos seus admiradores, e apontada pelos seus críticos como um dos pontos fracos quando cotejada com outros trabalhos de perfil mais "científicos" sobre a interpretação do país, a partir de uma matriz teórica do marxismo, a exemplo de Jacob Gorender. Gilberto, no entanto, é uma exceção à regra. Quando o aluno comum deixa de ser alfabetizado entre a idade de 6 e 7 anos, o que corresponderia ao primeiro e segundo anos do fundamental, a coisa quebra na emenda, comprometendo os próximos ciclos de estudos. Trata-se da pedra angular da educação básica. Quem chega a essa fase e não for devidamente alfabetizado terá problemas pelo resto de sua formação.
Há alguns meses, percebíamos que o MEC parecia que não queria dialogar com este assunto espinhoso, principalmente no que concerne ao segundo ano do fundamental, recorrendo a outros indicadores, que não o SAEB, o Sistema de Avaliação da Educação Básica, para divulgar outros dados. O jornalismo do jornal O Estado de São Paulo, que publicou duas matérias longas tratando deste assunto, e o próprios servidores do INEP alegaram a necessidade de que os números do SAEB fossem divulgados. O resultado é que o MEC foi reprovado neste quesito. Não atingimos a meta de alfabetização na idade certa. O problema alegado foi a catástrofe no Rio Grande do Sul.
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