pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Editorial: Lula não liga para Trump.

 



Até bem pouco tempo, os dois presidentes, Lula e Donald Trump, mostraram disposição para manter um diálogo em torno das tarifas impostas pelo governo americano aos produtos de exportação brasileiros. Ontem, porém, o presidente Lula afirmou que não iria ligar, uma vez que considerava uma humilhação um chefe de Estado se submeter a uma situação do gênero, considerando, sobretudo, que o presidente Donald Trump não estava nenhum pouco interessado em conversar. Talvez Lula tenha razão, mas não custava tentar, se considerarmos a gravidade da situação. Há uma lista enorme de presidentes que abriram um diálogo com os Estados Unidos em torno dessas famigeradas tarifas. Chefes de Estado precisam engolir alguns sapos no exercício de suas funções. As bravatas ficam para o palanque, no momento das eleições. 

Os Estados Unidos, ao apagar das luzes dos prazos finais estipulados, aboliu uma enormidades de produtos da lista macabra dos 50%, mas, por outro lado, manteve alguns outros produtos, o que seria suficiente para produzir danos consideráveis às exportações brasileiras, aos nossos produtores e, principalmente, aos trabalhadores daquela setor, como é o caso dos empregados na produção, colheita e processamento das frutas produzidas no Vale do São Francisco, no Sertão pernambucano. A governadora Raquel Lyra tem mantido gestões junto ao Governo Federal para encontrar uma solução para o problema. Fala-se muito numa solução interna, para o escoamento da produção. Não sei se o consumo interno daria conta de produção. 

Ficamos aqui a imaginar se a decisão de não ligar para Trump foi uma decisão pessoal de Lula ou teve o dedo de algum assessor enviesado por questões ideológicas, que devem ser minimizadas neste momento. Na realidade, os dois presidentes estão de birra, submetidos às escaramuças de lado a lado. Desde o momento em que foram iniciadas essas contendas, a situação apenas se agravou do ponto de vista político. O presidente Donald Trump deseja a reabilitação política do ex-presidente Jair Bolsonaro para disputar as eleições presidenciais de 2026, algo que o país não pode assegurar. 

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Editorial: Ministro Alexandre de Moraes flexibiliza prisão domiciliar de Jair Bolsonaro.


O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, determinou uma flexibilização nas regras da prisão domiciliar aplicada ao ex-presidente Jair Bolsonaro, ao permitir que ele possa receber a visita dos seus filhos. Desde a decretação da prisão que o país mergulhou numa situação de esgarçamento institucional jamais visto, protagonizando-se cenas indesejáveis nas Casas Legislativas. Aliás, faz algum tempo que o nosso Poder Legislativo encontra-se numa espécie de ebulição permanente. Vamos partir para um desfecho talvez indesejável, uma vez que ninguém está disposto a depor as armas. Vale sempre lembrar aqui a advertência do sociólogo jamaicano\britânico sobre uma situação demasiadamente polarizada, que só termina quando um dos polos destrói o outro. 

O que a oposição deseja, ou seja, a anistia aos conspiradores golpistas do 08 de janeiro, não poderá ser concedido por nossas instituições democráticas do Poder Judiciário, guardião de nossa Constituição. Há um limite de tolerância com os intolerantes. Desde a decretação da prisão domiciliar do ex-presidente Bolsonaro que se especula sobre tudo, até mesmo sobre a eventualidade de divergências dentro da Suprema Corte em relação ao assunto. Qual o problema de este ou aquele Ministro da Corte não concordar com a decisão de um dos pares? Nenhum. Ademais, até recentemente, durante um evento, quando indagado sobre o assunto, o Ministro Gilmar Mendes reafirmou que o órgão está solidário com a decisão tomada pelo Ministro Alexandre de Moraes.

A construção de consensos mínimos é sempre o melhor caminho para o enfrentamento de situações de conflitos. Quando os dois lados, naturalmente, estão abertos ao diálogo. Quando um dos lados aposta no quanto pior melhor, aí sim torna-se quase impossível a construção de tal consenso.  Cada analista que diga o que deve estar faltando para construirmos essa liga. O problema, na realidade, trata-se de um mal de origem, mas não vamos entrar nos pormenores para não "melindrar" uma situação cada vez mais complicada. É hora de conciliação, de colocarmos água na fervura e não gasolina. 

Editorial: Oposição pretende obstruir pauta no Legislativo.


Na realidade, esta obstrução de pauta já está configurada. Os presidentes da Câmara Federal, Hugo Motta, assim como David Alcolumbre, que preside o Senado Federal, já convocaram uma reunião de lideranças partidárias com o propósito de tentar esfriar os ânimos entre os membros da oposição, uma vez que a leitura é que os mesmos estão extrapolando limites em suas atitudes de protesto. Não sabemos se uma reunião de lideranças partidárias será suficiente para esfriar os ânimos, uma vez que a corda está muito esticada neste cabo de guerra, conforme assinalamos no dia de ontem. Nossa democracia, que resistiu a uma tentativa de golpe, hoje encontra enormes dificuldades de concretizar a punição aos envolvidos. É disso que se trata. 

Anistiar os envolvidos na tentativa de golpe de Estado de 08 de janeiro de 2023 significa que na próxima esquina estaremos de novo submetidos ou expostos a novas manobras autoritárias, algo recorrente no país, sobretudo em razão do "tapinha nas costas" do passado. Quem defende anistia a golpistas não pode se arvorar de democrata. Quadra difícil que o país enfrenta neste momento. O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Altineu Côrtes, do PL do Rio de Janeiro, depois da pressão exercida pela oposição, já afirmou que, na primeira oportunidade em que vir a substituir Hugo Motta na Presidência da Câmara dos Deputados, pautará o projeto de anistia, conforme desejo antigo dos bolsonaristas. 

Como já informamos em outros momentos, eles não estão preocupados com os condenados pelo badernaço promovido na Praça dos Três Poderes. Eles desejam, na realidade, como se diz popularmente, livrar a cara dos golpistas graúdos. Sobre os envolvidos naquelas manifestações que depredaram patrimônio da União, até o Judiciário já sinalizou que poderia rever a dosimetria das penas aplicadas, mesmo em se sabendo que o combustível que moveu aquelas mobilizações populares era um combustível golpista. O pipoqueiro não estava vendendo pipoca, tampouco o vendedor de sorvete. Se depender da Suprema Corte, não haverá anistia aos mentores e articuladores do golpe de Estado. É assim que tem que ser numa democracia. 

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Editorial: O pós-Lula no discurso do novo presidente do PT.


Bom senso é algo bastante raro nesses dias bicudos e nebulosos que o país atravessa. Por isso mesmo, quando surge algum ator com o equilíbrio necessário para conduzir as coisas neste diapasão, sempre chama a nossa atenção. Já mencionamos por aqui o vice-presidente Geraldo Alckmin, que tem tratado de forma ordeira, republicana, no campo da negociação diplomática, a crise que se instaurou entre o Brasil e os Estados Unidos em torno das tarifas impostas aos produtos de exportação brasileiros para aqueles país. Hoje o jornal Folha de São Paulo traz uma matéria onde aponta que o vice credenciou-se para continuar como vice numa eventual nova disputa do presidente Lula à Presidência da República. Lula deve disputar a reeleição, uma vez que a saúde está em ordem e ele vem sendo chamado para a briga. 

Prudente não é, mas somente a raposa política maranhense, José Sarney, sugere-se que teve coragem e a liberdade de dizer isso para ele, do alto de seus 95 anos de idade. Como diria a saudosa atriz Dercy Gonçalves, a partir desta idade, tudo está liberado. Segundo comenta-se nos escaninhos da política, são raríssimos os companheiros que exercem alguma ascendência sobre o líder petista, capaz de lhes dizer algumas verdade ou lhes dá conselhos. Em seu discurso como novo Presidente Nacional do PT, Edinho Silva teria alertado os companheiros sobre a necessidade de se pensar no pós-Lula. É verdade. Se continuarmos assim, tão dependente de Lula, o PT, após a sua saída de cena, pode entrar em luto profundo. 

A despeito da oposição interna, quando precisou concorrer com outras três chapas, o ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, contou com o apoio de Lula e da ala hegemônica da legenda, a Construindo um Novo Brasil. Aliás, para sermos mais precisos, nem a ala hegemônica esteve fechada em torno do nome de Edinho Silva. Antes das eleições, o timoneiro José Dirceu já havia alertado para um racha gigantesco na legenda caso Lula não intervisse. Isso significa dizer que o partido hoje teria fissuras que podem levar ao rompimento da barragem com uma eventual morte do seu líder maior. Daqui há 40 anos, conforme prevê o próprio Lula, que acredita que viverá até os 120 anos. 

Editorial: Cabo de guerra institucional.



Até bem pouco tempo, a democracia brasileira poderia comemorar a sua saúde, depois de um check-up minucioso realizado pela V-Dem (Variedades da Democracia), onde vários exames e procedimentos foram aplicados, atestando que as nossas taxas e indicadores vitais estavam todos sob controle. Como esses levantamentos são realizados periodicamente, muito provavelmente esses dados dizem respeito às movimentações temerárias ocorridas a partir de 2016, chegando ao limite alguns anos depois, quando houve uma tentativa de golpe de Estado. Felizmente essa tentativa de golpe de Estado foi abortada, mas produziu um legado dos mais danosos para as nossas instituições, cujas consequências não foram completamente avaliadas ou superadas até então. 

O ambiente institucional continuou permisso à sanha golpista, como as manobras para impedir que os responsável por aquela tentativa de golpe seja punidos na forma da lei, o que envolve tessituras até mesmo de caráter internacional. A capacidade de punir golpistas dentro do devido processo legal é uma variável importante dos regimes democráticos. O presidente Lula, inclusive, é apresentado neste levantamento, como aquele ator político responsável pela proeza de ter salvo a nossa democracia de uma investida autoritária. Os Três Poderes da República hoje vivem engalfinhados, trocando escaramuças cotidianamente.  Não acreditamos que a aferição dos nossos índices de democracia, neste momento, pudesse produzir os mesmos resultados. Infelizmente. O quadro institucional está preocupantemente nublado. O mais grave disso é que há um conjunto de atores políticos, mancomunados com interesses internacionais, que não esboçam nenhum compromisso com a nossa democracia. Torcem pelo caos, pelo quanto pior melhor. É preciso deixar claro que esse pessoal não tem nenhum compromisso com as nossas instituições democráticas. 

O V-Dem (Variedades da Democracia)  é vinculado ao Departamento de Ciência Política da Universidade de Gotemburgo, na Suíça. Não é o único que realiza tais levantamentos, mas goza de credibilidade dentro e fora do circuito acadêmico. Os novos dados a serem divulgados, depois da leitura dos sinais vitais, devem indicar uma situação, onde a nossa frágil democracia está sendo conduzida a uma sala de UTI, inspirando cuidados permanentemente. Este cabo de guerra de polarização política esticado como está não pode conduzir a uma situação razoável, administrável dentro de parâmetros civilizados e republicanos. 

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Drops Político: Dispositivo de Racialidade.



Acabamos de concluir uma formação ministrada pela filósofa e ativista negra Sueli Carneiro. O curso foi sobre o dispositivo de racialidade, onde a autora faz um percurso acerca de sua tese de doutorado, quando se apropriou do conceito do filósofo francês, Michel Foucault, sobre "dispositivo". A formação foi bastante interessante, uma vez que, assim como Foucault, Sueli Carneiro procede uma verdadeira arqueologia do racismo no país, subsidiando-se, em alguns momentos, de outros autores para dá conta de sua empreitada acadêmica. Curioso foi quando realizamos uma interlocução do texto de Sueli Carneiro aos estudos do antropólogo argentino, Néstor García Canclini, onde ele aborda a representação dos indígenas nos museus mexicanos. Outra sacada de Sueli é a utilização da literatura para as suas análises acadêmicas, uma janela aberta para o nosso romance Nas Marés de Malunguinho, onde escrevemos a partir de uma experiência desenvolvida na Comunidade Quilombola de São Lourenço, em Goiana, Pernambuco. No romance, na realidade, invertemos a lógica de Sueli, ou seja, é a linguagem literária que vai buscar inspiração na academia. A academia, na realidade, de acordo com a filósofa, oferece a técnica para a sistematização dos conhecimentos da ancestralidade. A academia também "legitima", mas esta já é uma outra discussão. Inclusive quando estamos tratando de representação de comunidades negras ou indígenas em instituições museológicas, as narrativas emanam sempre do aparelho de Estado ou da academia, fator de críticas entre essas comunidades. 

Editorial: O novo "normal" das manifestações bolsonaristas.


Houve um tempo em que os bolsonaristas estavam mais cuidadosos, modulando a efervescência dessas manifestações públicas, ora proibindo algumas mensagens nos cartazes e faixas; ora definindo quem teria acesso ao microfone, assim como sobre o que eles poderiam dizer em praça pública. A julgar pelas mobilizações que ocorreram no dia de ontem, 03, essas modulações foram temporariamente esquecidas, abrindo espaço aos excessos inerentes às grandes mobilizações de massa. Não vamos aqui entrar na disputa de narrativas sobre se flopou ou não flopou, uma vez que elas não são conduzidas por critérios que possam ser levados a sério. Sobretudo em razão do calor institucional do momento, o fato é que os bolsonaristas tiveram um novo alento para voltarem às ruas. 

Oradores e militantes, no entanto, extrapolaram em suas falas ou na exibição de cartazes. Um deles, parlamentar, puxou um coro na Paulista com ofensas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ministro da Suprema Corte foi ofendido, o que pode produzir acionamentos legais. Lá atrás, o historiador Sérgio Buarque de Holanda já nos advertia sobre o problema dos brasileiros em não distinguir as esferas pública e privada. Os recursos do fundo partidário, que são poupudos, devem ser aplicados com finalidades específicas. Suspeita-se, no entanto, que uma determinada legenda possa ter usado tais recursos para financiar conspirações contra os interesses nacionais. 

No passado recente, a acusação dizia respeito ao suposto financiamento da tentativa de golpe de Estado, o que se constitui num aberrante contra senso, sobretudo se entendermos a tal agremiação partidária do nosso sistema partidário como integrante do escopo da democracia representativa. Ao retornar de sua viagem aos Estados Unidos,  o senador Marcos do Val foi recebido pela Polícia Federal quando desembarcava no Brasil. Vai passar a utilizar tornozeleira eletrônica. Se alguém já questionava a tornozeleira do ex-presidente Jair Bolsonaro, agora temos mais um: um senador da República. Ambos descumpriram medidas cautelares, segundo a avalição do STF.  

domingo, 3 de agosto de 2025

Editorial: Desembarque do União Brasil do Governo Lula.



Até recentemente, o jornal Folha de São Paulo publicou uma matéria tratando da infidelidade da base aliada do Governo Lula 3. O União Brasil, segundo o levantamento do jornal, lidera a lista como partido mais infiel, não apenas não seguindo o Governo em votações importantes, como encetando apoios a projetos claramente contra o Governo e apoiado pela oposição. Sobre os projetos para as eleições presidenciais de 2026, o partido tem assumido uma posição clara de que não apoiará o projeto de reeleição do presidente Lula. A ideia é a construção de uma candidatura que se contraponha ao Planalto. Aliás, o partido já trabalha com o nome do governador de Goiás, Ronaldo Caiado(UP-GO). Antônio Rueda, que preside a União Progressista, foi, durante muito tempo, elogiado pelo Planalto em razão de sua postura coerente de governista. 

Hoje, no entanto, já se pronuncia claramente contra o projeto de reeleição de Lula, como o fez recentemente, quando num encontro promovido por financistas. Nem sempre confiamos plenamente nos escaninhos da política da capital federal. Para checarmos como essas diretrizes estão chegando as bases, convém observar o comportamento dos atores políticos nas quadras estaduais. Considerando tais indicadores, as sinalizações são claríssimas. Lula não pode contar com este grupo para o seu projeto de reeleição. Na Paraíba, por exemplo, o senador Efraim de Moraes selou sua candidatura ao Governo do Estado em aliança com Marcelo Queiroga, ex-Ministro da Saúde do Governo Jair Bolsonaro, tudo sob a chancela de Michelle Bolsonaro. 

Sugere-se que alguns cargos devem ser entregues, restando apenas alguns ajustes, uma vez que o Presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre(UP-AP), tem algumas dificuldades neste sentido. São apenas esses ajustes internos que estão sendo aparados, uma vez que a decisão do desembarque já está tomada. Durante votações importantes de interesse do Governo, onde a traição ficou evidenciada, Lula ainda teria mantido uma conversa com Antonio Rueda, talvez no sentido de ajustar os ponteiros. As negociações não avançaram.  

sábado, 2 de agosto de 2025

Editorial: O que está em jogo na disputa pela SUDENE?



Líamos um conjunto de matérias acerca desta disputa em torno do controle da SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Há alguns anos atrás, possivelmente, ter o controle da autarquia não interessava a nenhum ente federado, em razão do seu esvaziamento. No terceiro Governo Lula, por alguma razão, o órgão passou a contar com verbas poupudas para investimentos na região. Há pouco publicamos uma postagem sobre o assunto, onde defendemos a permanência do ex-deputado Danilo Cabral no cargo, mas ainda sob a ótica do excelente trabalho realizado pelo pernambucano na autarquia, capaz de recuperar, inclusive, a mística que a SUDENE representou no contexto das políticas regionais em décadas passadas. 

A questão é bem mais complexa, no entanto. Não se trata apenas da eventual não liberação de verbas sobre o trecho da Transnordestina para o Ceará, tampouco diz respeito ao ramal de Pernambuco, ligando-a ao porto de SUAPE, cobrado por Danilo. O Ceará já conta com sua interlocução entre o estado do Piauí e o seu porto de Pecém. É preciso ter uma lupa bastante ampliada para enxergarmos corretamente a questão, que diz respeito, na realidade, a quatro eixos, que transcendem os eixos da Transnordestina: está em jogo o controle sobre os investimentos federais no Nordeste, articulados pelo SUDENE, a exemplo do FNE e FDNE; uma disputa de poder dentro da base governista. De um lado, o governador Elmano de Freitas. Do outro, políticos pernambucanos ligados ao PT e ao PSB; um realinhamento político regional, uma vez que o Ceará objetiva recuperar protagonismo e musculatura política, e, no final, uma projeção para a disputa de 2026. 

Trata-se de uma disputa eminentemente política, portanto. Trechos, ramais, liberações de verbas entram aqui apenas como questões pontuais. O Planalto vai precisar de muita habilidade política para, se decidir mesmo pela nomeação de um novo superintendente, não criar arestas com seus apoiadores em Pernambuco e no Ceará. Em tese, nos escaninhos da política, a informação é que as articulações para entregar o comando do órgão ao Ceará teria o apoio do Ministro da Casa Civil, Rui Costa. Um site local informa que o senador Humberto Costa mantém uma permanente linha de comunicação com a Ministra da Articulação, Gleisi Hoffmann, no sentido de manter a autarquia sob o comando de um pernambucano. 

Editorial: Danilo Cabral e o soerguimento da SUDENE.


Na década de 50, época do apogeu da SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste - havia uma disputa interna de projetos de sociedade entre dois integrantes do órgão: o economista paraibano, Celso Furtado, e o antropólogo pernambucano, Gilberto Freyre. Celso Furtado era o superintendente da autarquia, enquanto Gilberto integrava o seu Conselho Deliberativo. Muitas das proposições emanadas pelo órgão encontravam a resistência de Gilberto Freyre, logo minimizadas pelo paraibano, sob a alegação de que Gilberto não tinha formação em economia. Sabe-se que não era apenas isso, pois ali já estavam sendo gestadas as diretrizes que culminariam, um pouco mais de uma década depois, na ruptura institucional que resultou no Golpe Civil-Militar de 1964. 

Desde então o órgão enfrentaria altos e baixos até praticamente ser enterrada de vez na Era FHC, com a complacência de gestores estaduais à época, que não moveram uma palha em seu favor, numa clara demonstração de descompromisso com as políticas regionais. Agora, na gestão do Governo Lula 3, foi nomeado para o cargo o ex-deputado Danilo Cabral, num arranjo entre integrantes do PT local e a gestão socialista de João Campos. Danilo Cabral vem conduzindo a autarquia com uma excelente desenvoltura,  desenvolvendo projetos estratégicos para região, articulados com entes públicos e privados, imprimindo ao órgão uma gestão técnica e republicana de alto nível, conseguindo a proeza de recuperar a importância que o órgão ocupou em décadas do século passada no enfrentamento dos gargalos regionais. O projeto mais recente, a retomada da linha férrea entre Recife e Caruaru, está sendo articulado com a UFPE. 

Eis que nos últimos dias passou-se a especular sobre uma eventual substituição do seu nome no comando do órgão, numa negociação política que poderia favorecer o estado do Ceará. Se isso vier a ocorrer é uma pena, porque fica evidente a primazia do critério político se sobrepondo aos critérios mais relevantes, como a capacidade do gestor, os resultados obtidos entre outros fatores. Sabe-se que, na realidade, esta é a tônica dessas indicações políticas. Se fizermos um balanço sobre o desempenho dos gestores de órgãos federais indicados consoante tais critérios, iremos concluir que, em sua maioria, eles deixam a desejar. Este não é o caso de Danilo Cabral. É importante que a SUDENE continue em seu processo de soerguimento, fique com Pernambuco e sob a gestão de Danilo Cabral, que vem realizando um grande trabalho na autarquia. 

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Editorial: Alckmin, o anestesista.


Há uma adágio popular informando que dois bicudos não se beijam.  O Governo Trump, desde o início, fez questão de demonstrar sua insatisfação com o Governo Lula 3. Pelas últimas declarações, ainda está amuado, no aguardo de atitudes distintas das sinalizações tímidas desde o início da crise, quem sabe, um pedido de desculpas seria muito bem-vindo. Um dado positivo nesta contenda entre os dois países é que os incontáveis esforços empreendidos pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin, embora não tenham provocado uma reação pública do Governo dos Estados Unidos, nos bastidores sugere-se que tenha produzidos seus resultados, como a lista de centenas de produtos que foram excluídos do tal tarifaço. 

Até mais do que Lula, sempre muito carrancudo em relação ao assunto, o vice presidente ampliou seu capital político durante este embate. Numa entrevista recente, concedido ao Programa de Ana Maria Braga, da TV Globo, ele observou que sua especialidade é a anestesia. É como se ele tivesse prescrito um calmante com a capacidade de baixar a temperatura política entre os dois países. O diálogo público, no entanto, permanece truncado, embora nos bastidores os esforços estejam sendo considerados pela Casa Branca. Há um esforço dos socialistas para mantê-lo na chapa de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, embora, diante das dificuldades de Lula, a negociação de uma vice com forças do centro-direita pudesse agregar maior capilaridade política à chapa. 

Em última análise, ele pode ser intimado a cumprir mais uma dessas missões espinhosas, como uma candidatura ao Palácio Bandeirantes, em 2026, principalmente em se confirmando que Lula deva bater chapa com o governador Geraldo Alckmin. As pesquisas de intenção de voto indicam que ele é um nome competitivo no estado, embora não demonstre grandes entusiasmos com a ideia. 

Editorial: O drama da fruticultura irrigada do Vale do São Francisco.


Não temos a lista completa dos produtos de exportação brasileiros que foram excluídos da taxação dos 50% pelos Estados Unidos. A imprensa já divulgou vários números sobre o tema e sabe-se que o montante foi bastante representativo, segundo algumas análises, significando uma capitulação da bravata inicial do presidente Donald Trump e, consequentemente, uma vitória do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, já apresentado como alguém que conseguiu "peitar" os ianques. Lula tira os dividendos políticos desta situação aparentemente confortável em termos de posicionamento político junto ao eleitorado, mas já antecipamos por aqui que se trata de algo temerário, uma vez que os problemas produzidos por tal tarifaço tem o potencial de criar embaraços gigantescos para qualquer governo, principalmente quando se tem algum projeto de reeleição no horizonte. O bom senso recomenda baixar as armas e negociar. 

Apesar de ter cedido em parte no tarifaço, as rusgas permanecem, com os recados sendo emitidos quase que diariamente. O Brasil passa por um enquadramento político do governo norte-americano. No contexto geopolítico global, as américas continuam sendo o espaço de hegemonia dos interesses americanos. Os Estados Unidos estrangularam a economia cubana. Um país que se orgulhou no passado de ter debelado o problema da insegurança alimentar, um dos trunfos da Revolução, vive hoje sob um regime de racionamento severo, produzindo até mendigos. Até recentemente, uma ministra perdeu o cargo em razão de negar a existência deles. Por alguma razão, antes impensável, estão vazando vídeos que evidenciam o dia a dia da população daquele país. E não estamos tratando aqui de guerra ideológica. É a realidade que está difícil mesmo. Os críticos vão dizer que não se trata de um embargo, tampouco pode se comparar a economia cubana e a economia brasileiro. É verdade. Por outro lado...

Os Estados Unidos não veem com bons olhos essa relação do governo brasileiro com outros países do continente - já listados em suas anotações como inimigos - assim como as cordiais relações políticas e comerciais mantidas com potências como a China e Rússia. Ao que se sabe, na redução do tarifaço não foram incluídas as mangas produzidas no Vale do São Francisco, em Petrolina e outras cidades vizinhas, na região do Sertão do São Francisco Pernambucano, o que já está representando um dano incomensurável para produtores e trabalhadores que são utilizados para a colheita e beneficiamento dessa produção. Ao que se sabe, a governadora Raquel Lyra irá conversar com o Governo Federal à procura de uma solução para o problema. 

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Charge! Renato Aroeira via Brasil 247

 


Editorial: Trump, o imprevisível.


Do mesmo jeito que recuou em relação à taxação da maioria dos produtos de exportação do Brasil para os Estados Unidos, amanhã ou depois o presidente Donald Trump pode voltar a insistir nesta tecla. Na realidade, o presidente americano utiliza-se de arsenal econômico para atingir finalidades políticas. Há quem acredite que ele só ficará satisfeito com a reabilitação política do amigo Jair Bolsonaro. Alguns bolsonaristas estão certos disso. Soubemos há pouco que um deputado federal do PL foi expulso do partido por discordar das medidas adotadas pelo Governo dos Estados Unidos contra o país e, em particular, as medidas tomadas contra o Ministro Alexandre de Moraes. 

Essa gente não está nenhum pouco preocupada com os reais interesses nacionais. É por isso que se torna tão simples entregar nossas maiores riquezas de mãos beijadas, submetendo o país à orgia dos interesses estrangeiro. Essa gente deveria ser enquadrada em crime de lesa-pátria. Estão torcendo para o quanto pior melhor. No Brasil, em relação às eleições de 2026, este imbróglio todo contribuiu para mudar o cenário daquelas eleições, de acordo com o Presidente Nacional do PSD, Gilberto Kassab. Sabe tudo de política, mas vai precisar aprender economia porque é esta a variável que passou a ser determinante neste jogo, uma vez que se trata das peças mexidas pelo presidente Donald Trump quando deseja atingir determinados objetivos políticos.

Com feeling político apurado, Kassab sugere que temos, no momento, três nomes com chances para o pleito presidencial de 2026: Lula, Tarcísio e Ratinho. Kassab tem uma grande habilidade política, algo que não pode ser negligenciada. Não acreditamos que a candidatura de Ratinho Junior se consolide. Lula, que já esteve num inferno astral recentemente, volta a ser competitivo, a julgar pela sua performance em todos os levantamentos realizados até este momento, onde ele sempre aparece bem, assim como em razão da recuperação de sua popularidade. 

Editorial: Tarifaço meia boca.


Ainda repercute bastante o decreto assinado pelo presidente Donald Trump, ratificando a imposição do tarifaço de 50% aos produtos de exportação brasileiros para aquele país. Isso poderia representar um gravíssimo problema para a nossa economia, o que levou as nossas autoridades do Executivo a baixarem as armas, buscando o caminho da negociação. Embora tentada, a negociação não foi encaminhada, mas a confirmação do decreto assinado pelo presidente Donald Trump resultou, na realidade, numa espécie de armistício, uma vez que quase mil produtos foram excluídos desses índices tarifários, o que representou um alívio para o Governo Lula 3 e, principalmente, para os produtores brasileiros. 

Uma questão econômica foi tratada pelo governo dos Estados Unidos na arena político\institucional, uma vez que aquele país impôs algumas condições para abrir uma janela de negociações, onde já se antecipou em afirmar que o Governo Brasileiro não havia demonstrado boa vontade para tanto. O dano maior mesmo foi a aplicação da Lei Magnitsky a membro do nossa Suprema Corte, o tipo de coisa "cabulosa", pois, além dos danos políticos, isso representa várias implicações aos sujeitos alcançados, assim como aos seus familiares, pois atinge a parte mais sensível, ou seja, o bolso. Qual instituição financeira ou empresa de porte que não estabelece algum tipo de interlocução com entidades americanas? Como disse, já que estamos utilizando termos menos formais, é algo "cabuloso".  

No dia de ontem mesmo, o presidente Lula convocou uma reunião de emergência do seu staff político mais próximo, com presença de Jorge Messias, Ministro da AGU, talvez mais para se inteirar acerca dos danos da aplicação desta lei a um cidadão brasileiro, uma vez que, em princípio, há pouca coisa que se possa fazer em relação ao assunto. Do ponto de vista político, para se evitar um novo surto, convém conduzir as coisas dentro do campo da fina diplomacia, só no sapatinho, evitando novos escorregões, uma vez que problemas com desemprego, inflação e insatisfação dos nossos produtores é tudo que não é bem-vindo, principalmente se está em jogo uma reeleição. 

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Charge! Kleber Alves via Correio Braziliense.

 


Editorial: A democracia brasileira saiu da UTI.



Houve um tempo em que acompanhávamos por aqui com mais frequência os sinais vitais de nossa democracia. Um leitor mais atento deve ter verificado as inúmeras postagens que publicanos sobre o assunto ao longo do tempo, sobretudo ancorada nos pressupostos teóricos do cientista político polonês, Adam Przeworski, considerado hoje no campo acadêmico como um dos mais respeitados pesquisadores sobre este assunto. Possivelmente os estudos publicados recentemente pelo V-Dem(Variedades da democracia) vão causar muitas polêmicas, principalmente entre setores oposicionistas, aqueles mesmos que estiveram recentemente omissos, quando não diretamente mancomunados, com atores que estiveram na iminência de solapar nossas instituições democráticas através de mais uma tentativa de golpe de Estado. 

Golpistas e simpatizantes de golpes de Estado não tem autoridade para falar de democracia. O Brasil, até recentemente, saiu do Mapa da Fome, o que significa que avançamos em termos de equalização dos problemas sociais, ampliando o escopo da democracia substantiva, fator determinante para a manutenção da democracia política. Segundo Adam Przeworski, dependendo da renda per capita do país, alguns deles estão imunes às tentativas golpistas, solenemente rejeitadas pela população. A democracia brasileira, historicamente, sempre esteve envolta em inúmeras dificuldades, a começar pelo nosso processo de colonização português, baseado no açoite de escravizados e na indefinição de fronteiras entre o público e o privado. Ao senhor de engenho era delegada a autoridade de Estado. 

É curioso como autores, subsidiados em pressupostos teóricos distintos, a exemplo de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda acabam convergindo para as mesmas conclusões. Gilberto Freyre seria  associado a uma democracia racial, para ele o quanto bastava. Outro dia líamos um texto onde o pesquisador evidencia onde o sociólogo deixa isso explícito em texto, contrariando algumas análises onde se reafirma que o sociólogo nunca houvera deixado isso escrito. Mas isso é o que menos importa. O fato alvissareiro, baseado em variáveis seguras, é que o estudo do V-Dem aponta para um recuo das tendências autoritárias e um fortalecimento da democracia liberal no país. 

Editorial: O Brasil começa a ceder para chegar a um acordo com os Estados Unidos.

Crédito da Foto: Mateus Bononi\Estadão Conteúdo. 


Há erros de avaliação preocupantes no que concerne às negociações do Governo Lula com  o Governo dos  Estados Unidos, quando se discute as imposições das tarifas dos produtos de exportação do Brasil para aquele país. A comissão de senadores brasileiros chegou aos EUA durante o recesso parlamentar americano, praticamente impossibilitando que a pauta fosse discutida. Embora essa comissão tenha sido formada de forma autônoma, acreditamos que sequer com uma agenda concebida ou discutida com o Executivo, de alguma forma, poderia significar a abertura de uma diálogo com as autoridades comercias daquele país, o que já seria uma sinalização importante. 

Hoje, dia 30, bem próximo do término do prazo para a efetivação das medidas absurdas propostas pelo presidente Donald Trump, duas notícias: O vice-presidente Geraldo Alckmin admite que pode reavaliar a questão da regulamentação das big techs para facilitar as negociações com o Governo Americano. Por outro lado, o Ministro Fernando Haddad já teria um contra-ataque pronto, ou seja, as medidas que poderão vir a ser adotadas pelo Governo Lula 3 neste caso. O Ministro Fernando Haddad também anuncia que adotará medidas para preservar os empregos dos brasileiros, caso não se chegue a algum consenso entre os dois países, quando se sabe que o melhor caminho é encontrar uma saída, uma vez que os danos são complicadas e a nossa economia não vai assim tão bem das pernas. 

Este embate não é favorável ao Brasil, sobretudo numa circunstância em que os americanos já fecharam acordo com inúmeras nações. Existe uma má vontade em ambos os lados, movidas por razões ideológicas, mas isso já chegou ao limite do tolerável. Sabe-se que as rusgas políticas deverão continuar, mesmo em se chegando a um acordo entre os dois países, o que os brasileiros e brasileiras comuns agradecem. Lula está com sua popularidade em ascensão, mas sabe que não pode se permitir um novo desgaste de imagem produzidos pelas consequências da ratificação dessas tarifas impostas contra os nossos produtos de exportação. 

terça-feira, 29 de julho de 2025

O xadrez político das eleições estaduais de 2026 em Pernambuco: Os conselhos de João Campos a Lula.


Havia uma agenda administrativa na conversa mantida pelo prefeito do Recife, João Campos(PSB-PE), e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como eventual candidato ao Governo do Estado em 2026, o prefeito do Recife já começa a se inteirar sobre os principais problemas do estado, o que seria bastante natural. Essas questões estarão nos debates entre os postulantes ao Palácio do Campo das Princesas. Em suas andanças pelo Sertão, por exemplo, o prefeito se deparou com os problemas relativos às agrovilas de Petrolândia, já tratados aqui numa postagem. Essas agrovilas, por alguma razão, geralmente não atendem plenamente as necessidades dos novos assentados, conforme ocorreu igualmente em Alcântara, no Maranhão, realidade sobre a qual tivemos acesso. 

Aliás, as soluções urbanas, senhores urbanistas, carecem de maiores estudos ou aprofundamentos, pois sempre esbararam nessas mesas dificuldades. Em décadas passadas, grandes conjuntos habitacionais foram construídos para abrigar contingentes populacionais, geralmente afastados dos grandes centros, onde permaneciam os empregos e as estratégias de sobrevivência dessas pessoas. Ademais, com o transporte público precário, tornava-se uma tarefa hercúlea trabalhar nos grandes centros. No caso de Petrolândia, contraditoriamente, a água irrigada estaria sendo desperdiçada antes de chegar aos locais de irrigação. Da próxima vez, por ocasião desses planejamentos, convidem o Raymond Unwin e Edward Hollamby para as mesas de conversações. Se houver alguém capaz de uma sessão de psicografia, o geógrafo Milton Santos também seria bem-vindo. As coisas são sempre pensadas unicamente do ponto de vista do interesse do capital e acabam produzindo esses problemas sociais. 

João Campos já passou da fase das meras costuras para as amarras com nós. De preferência, nós de marinheiro, desses difíceis de desatar. Consolida sua aliança com o petista, mas assegura que ocupará os espaços correspondentes na chapa que deverá disputar as eleições presidenciais de 2026, ou seja, com Geraldo Alckmin na vice. Especula-se que o Planalto analisaria a possibilidade de uma candidatura de Geraldo Alckmin em São Paulo, principalmente na hipótese da confirmação do governador Tarcísio de Freitas na chapa presidencial conservadora às eleições de 2026. Realmente as pesquisas indicam que o ex-tucano ainda conserva boa parte de seu capital político naquele estado da Federação.  A ideia seria a formação de uma dobradinha com Fernando Haddad, mas ambos desconversam sobre o assunto. Concretamente, acreditamos que nenhum dos dois tem algum interesse na disputa. 

Sabendo-se das questões estratégicas envolvidas na disputa para o Senado Federal em 2026, a imprensa repercutiu bastante os conselhos que o jovem político pernambucano teria dado ao presidente Lula sobre aquelas eleições. Para os bolsonaristas, esta eleição seria até mais importante do que a ocupação da cadeira do Palácio do Planalto, uma vez que permitira a musculatura política necessária para aventar reveses na condenação praticamente sacramentada de bolsonaristas envolvidos na tentativa de golpe de Estado, assim como reunir as condições para fustigar o Poder Judiciário. Há uma lerdeza entre os governistas. Lula já entendeu que estamos diante de uma batalha campal, mas não se movimenta como deveria, como a situação exige. 

Numa pesquisa realizada pelo Instituto Paraná Pesquisas, repercutida na revista Veja, apenas dois nomes aparecem como favoritos na disputa, que o caso de Humberto Costa, em Pernambuco, e Renato Casagrande, no Espírito Santo. Com as restrições impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, quem está assumindo essas missões é a esposa, Michelle Bolsonaro, que já circula pelo país consolidando essas alianças, como foi o caso da Paraíba, recentemente, quando bateu o martelo sobre o nome do ex-Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, como candidato ao Senado Federal, numa chapa liderada por Efraim de Moraes, que concorre ao Palácio Redenção, com o apoio do PL.  

O conselho de João é sobre a necessidade que se impõe de se livrar da armadilha da polarização, marcada pelo ranhura ideológica, numa situação em que o Governo Lula teria muito mais a perder do que os bolsonaristas. Na percepção do socialista, o Governo teria melhores condições de competitividade se se colocasse numa condição mais ao centro do espectro político, menos radical, algo muito semelhante, aliás, à composição de forças que hoje orbita em torno do prefeito. Por este raciocínio, nome como o do atual senador Humberto Costa(PT-PE), perderia capilaridade na composição dos nomes que deverão compor sua chapa na disputa ao Senado Federal no estado. É verdade, embora haja muito arranjos ainda em jogo e o senador seja a bússola política do líder petista no estado. Neste caso, Lula tem duas cartas na manga. Pode condicionar o apoio ao socialista à inclusão de Humberto Costa como um dos postulantes ao Senado Federal, assim como exigir uma contrapartida para a manutenção de Alckmin como vice, em 2026.  

Editorial: Lula está disposto a ligar para Trump, mas sabe que corre o risco de não ser atendido.



À medida em que os prazos para a validade das tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos aos produtos de exportação brasileiros estão se exaurindo, chegamos a duas conclusões: o que, de fato, o Governo de Donald Trump deseja do Brasil e, que, pelo andar da carruagem, não haverá negociação possível. O arranjo envolveria a viabilização de um projeto de extrema direita no país, consoante os interesses econômicos e geopolítico dos americanos no continente. A ideia é fazer Lula sangrar até as eleições de outubro de 2026. A diretriz fica clara quando se percebe, nitidamente, as manobras de determinados agentes no sentido de impedir eventuais negociações. Assim, sem solução para o impasse, eles terão um amplo espectro de responsabilização do Governo Lula 3 pela não viabilização de uma acordo. O que, num determinado momento, em razão dos interesses nacionais, representou um alento em relação à popularidade de Lula, pode ter um efeito adverso.  

O Brasil desconfia que aquele famoso guru da extrema direita, assessor do presidente americano, seja a pessoa por trás dessas investidas contra o governo brasileiro. É uma situação surreal. Antes das perseguições impostas contra ele, que acabaram por  "cancelá-lo", o sociólogo português, Boaventura de Souza Santos, costumava enfatizar que o Brasil se tornou um laboratório para os experimentos macabros da extrema direita. O revés sofrido pelo bolsonarismo, no bojo da condenação pela tentativa de golpe de Estado, não foi suficiente para eles desistirem do intento. Steve Bannon chegou a afirmar numa ocasião que a gente ainda poderia sentir saudades de Bolsonaro. Lembram disso? 

No dia de ontem, 28, estivemos acompanhando um relatório sobre as eventuais consequências para o país em relação à adoção dessas tarifas impostas pelo Governo dos Estados Unidos sobre o Brasil. Não precisamos reafirmar que as expectativas são sensivelmente preocupantes, principalmente para alguns entes federados cuja economia sobrevive de repasses da União e de programas assistencialistas, notadamente em regiões como o Norte e o Nordeste. 

Charge! Renato Aroeira via Brasil 247

 


segunda-feira, 28 de julho de 2025

Charge! Dálcio Machado via Facebook.

 


Charge! Thiago Lucas via Jornal do Commércio.

 


Documentário "40 Horas na Memória"

Editorial: Seis estados brasileiros foram reprovados na alfabetização de crianças.



O Brasil ainda é o 8º país em números de analfabetos adultos. São 13,2 milhões de analfabetos, segundo os dados do censo realizado pelo IBGE. Historicamente, só houve um momento em que, de fato, governantes consequentes estavam dispostos a enfrentar essa chaga. Na década 60, no bojo das reformas de base, havia uma proposta neste sentido, baseada no método do educador pernambucano, Paulo Freire, que havia aplicado o seu método de alfabetização de adultos em Angico, no Rio Grande do Norte, com enorme sucesso. Foram 300 adultos alfabetizados em apenas 40 horas. O feito foi parar nas páginas do New York Times, mas provocou a ira dos militares brasileiros que, segundo algumas informações, chegaram a queimar e enterrar os livros do educador. 

No nosso terceiro romance, Tramas do Silêncio, contamos como desenvolvemos um programa de alfabetização de adultos na Vila Operária, localizada na cidade de Paulista, Região Metropolitana do Recife, onde contamos com a presença do educador, que proferiu a aula inaugural do curso. Logo em seguida, veio o golpe militar de 1964, que já planejava abortar essas iniciativas populares desde a década de 50. No Brasil, entre esse contingente, pode-se inferir clivagens regionais, de cor, de gênero. Em sua maioria esses analfabetos adultos são negros, localizados majoritariamente em regiões como o Norte e Nordeste, assim como são mulheres, um fenômeno que não é exclusivo do país. Este fato ocorre mundialmente. 

Agora vem a notícia de que seis entes federados não conseguiram alfabetizar suas crianças na idade certa, no segundo ano do ensino fundamental. Trata-se da pedra angular da formação do educando. Algo errado por aqui, caso dos alunos que não sejam alfabetizados nesta idade, isso produzirá prejuízos enormes a todo o processo de formação do aluno. Os estados são: Amazonas, Bahia, Pará, Paraná, Rondônia e Rio Grande do Sul. Infelizmente, sugere-se que esteja ocorrendo algo de muito errado com o MEC. Até recentemente, ficamos sabendo que os alunos do fundamental também ficarão sem os livros de outras disciplinas, dando-se prioridade aos livros de Matemática e Português. As IFES estão com enormes dificuldades de recursos.  

Editorial: A cada nova declaração de autoridades americanas, a expectativa do pior.

 


A cada nova declaração de uma autoridade americana sobre as tarifas impostas aos produtos de exportação brasileiros, algo sugere que não teremos uma solução para o problema. Um grupo eclético de senadores brasileiros - o termo eclético aqui sugere que estamos falando de governistas, oposicionistas e até astronauta - desembarcaram naquele país com o propósito de abrir um canal de negociação com o governo americano. Com todo o respeito que temos ao Senado Federal, em princípio, sugere-se algo sem pé nem cabeça, a começar pela composição do grupo, embora estejamos aqui tratando do interesse do comércio brasileiro e não de identificação ideológica. Nas tentativas vãs de conversas com aquele país, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, tem enfatizado que tentou conduzir as negociações sem essas clivagens ideológicas, embora se diga nos bastidores que esta mágoa de Trump tem a ver com as últimas eleições americanas, quando Lula apoiou a candidata democrata. 

Esses senadores, porém, não devem apresentar uma "diretriz" do Governo brasileiro, o que, de imediato, perde em importância. Os prazos estão se exaurindo. Howard Lutnick, Secretário de Comércio dos Estados Unidos,  declarou que não há solução sobre o impasse e, a partir de primeiro de agosto, passa a valer o que foi determinado pelo presidente Donald Trump. Mais adiante, o próprio Donald Trump, que raramente pronunciou-se sobre o assunto durante a crise, teria afirmado que o governo brasileiro não havia apresentado propostas concretas, dignas da abertura de um diálogo. É preciso especular sobre o que ele entende por propostas concretas e, mais ainda, que através do vice-presidente, Geraldo Alckmin, este diálogo foi tentado. 

Algo sugere que o presidente Donald Trump deseja, na realidade, punir o Brasil. Fechou acordo com a China, o Japão, a União Européia e deixou o Brasil de lado. É preciso, diante do exposto, tomar os devidos cuidados com as narrativas que estão sendo construídas em torno deste assunto. Fala-se que Lula estaria utilizando-se da retórica eleitoreira, quando, na realidade, estamos tratando de uma crise econômica que pode acarretar prejuízos gigantescos ao país. Na realidade, é Donald Trump quem está impondo sanções econômicas para barganhar tomadas de decisões políticas, como é o caso do enrosco que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro. Política é realmente como as nuvens, como diria aquela raposa mineira. Se, num primeiro momento, Lula pode até ter sido beneficiado com a retórica da soberania nacional, imaginem os senhores o que poderá ocorrer quando o nosso presidente for responsabilizado pelo desastre que se avizinha.  

domingo, 27 de julho de 2025

Editorial: Os 200 anos do Ginásio Pernambucano.

Crédito da Foto: Acervo Fundaj. 


Há alguns anos, quando de visita a um colega professor do Ginásio Pernambucano, ele nos apresentou ao último professor catedrático daquela tradicional instituição de ensino pernambucana. Ainda se mantém a mística em relação àquele estabelecimento educacional, em razão do grande legado que a instituição representa para a educação no estado, mas as coisas mudaram muito desde a época em que, para habilitar-se como professor do colégio, o indivíduo precisava passar por um rigoroso processo de seleção, defendendo, inclusive, uma tese de livre-docência. A lista de ilustres personalidades que passaram pelos bancos do Ginásio Pernambucano é enorme. Políticos, empresários, escritores. Agamenon Magalhães, que foi interventor e governador do estado durante o Estado Novo, foi professor do Ginásio Pernambucano. 

O poeta Mauro Mota também exerceu o cargo de professor no órgão, defendendo uma tese sobre o cajueiro nordestino. Excepcional poeta, amigo de Gilberto Freyre, dirigiu por alguns anos os destino do então IJNPS, que viria a se transformar mais tarde em Fundação Joaquim Nabuco. Gilberto dava as coordenadas como Presidente do Conselho Deliberativo, mas, a rigor, o exercício de funções burocráticas - embora as tenha exercido ao longo de sua vida, inclusive na área de educação - sugere-se que não o agradava. Por essa época, em razão do grande reconhecimento e do prestígio intelectual obtido pelo sociólogo, existiam grandes especulações em torno dos dirigentes do órgão. Eles estariam à altura das responsabilidades? Teriam lastro acadêmico e intelectual para tanto? 

Neste sentido, conta-se um fato curioso. Especula-se que Mauro Mota costumava se "escudar", academicamente, como um pesquisador que havia realizado uma grande pesquisa sobre o nosso cajueiro. Era este o seu cartão de visita, o seu  "lugar de sujeito", algo mais convergente ao cargo que assumira. Até recentemente, líamos um artigo do poeta - sempre preferimos o poeta - sobre a origem de Casa Grande & Senzala, onde ele expõe fatos que nunca chegaram ao conhecimento dos pesquisadores da obra e da vida do sociólogo, como, por exemplo, um caderninho onde Gilberto costumava fazer suas anotações quando de suas andanças pelo engenho da avó materna, em São Severino dos Ramos. Gilberto tinha um caderninho de anotações, o que seria, alguns anos depois, transformado na texto de Casa Grande & Senzala. No artigo, o poeta conta os bastidores de sua relação com o sociólogo, como uma eventual confusão em relação à data exata de lançamento da obra clássica de Gilberto, assim como a confissão de que ele costumava "brincar" de engenho com o irmão Ulisses, no quintal da residência da família, no Recife. O Solar de Apipucos, grande referência sobre o intelectual, foi adquirido somente na década de 40.  

Outro grande amigo de Gilberto, o escritor Olívio Montenegro, também foi professor catedrático e diretor do Ginásio Pernambucano. Deixou em livro talvez o melhor texto de memórias sobre aquele colégio: Memórias do Ginásio Pernambucano. Outro grande amigo de ambos, o escritor paraibano José Lins do Rego, segundo alguns biógrafos, teria estudado no colégio, mas esta informação é dúbia, algo que não se confirma, uma vez que ele já teria vindo para o Recife com o propósito de ingressar na também tradicionalíssima Faculdade de Direito do Recife. Ambos, Gilberto e Olívio, exerceriam forte influência sobre a formação literária de José Lins do Rego, durante o processo que o sociólogo denominava de recifencização do escritor paraibano.    

Charge! Dálcio Machado via Facebook

 


sábado, 26 de julho de 2025

Editorial: Se depender do STF, acampamentos não serão tolerados.



O mal precisa ser cortado pela raiz. O país já conhece suficientemente as consequências de ser tolerante com os intolerantes. Até recentemente, talvez numa estratégia suicida, conforme é a opinião de companheiros de farda, um general do Exército admitiu, em depoimento durante audiência no STF, que seria ele o responsável pela plano "Punhal Verde e Amarelo", que tinha, entre seus objetivos, o assassinato de autoridades da República e do STF. Legalmente, não se pode acampar em frente às unidades militares, algo que ocorreu até recentemente em praticamente todo o país. Se tal premissa legal fosse adotada, talvez não chegássemos ao 08 de janeiro. Supõe-se, por consequência, que estivemos diante de uma permeabilidade perigosa. Isso talvez explique o número até expressivo de militares arrolados na tentativa de golpe de Estado. 

O mesmo raciocínio se estabelece em relação ao aparato militar do Distrito Federal, que, desta vez, tomou a iniciativa, em acatamento a uma determinação do Ministro Alexandre de Moraes, de desmobilizar o acampamento imediatamente, sob pena de, em não se cumprindo a determinação, a decretação da prisão dos envolvidos. Medida corretíssima. Pessoas idosas, doentes, insufladas por essas hordas, hoje se encontram encrencadas com a justiça e, em alguns casos, até foragidas do país. No dia de ontem, 25, até esboços de meditações religiosas haviam sido iniciados. Segundo aquele filósofo alemão, basta um gaiato estimular e a loucura coletiva se instaura de vez. Conhecemos bem tal dispositivo.

O país entrou numa espiral complicada. Um turbilhão de problemas de natureza política e econômica. É preciso a adoção de medidas na dose certa e muita calma nesta hora. Políticos migrando para a terra do Tio Sam para trabalharem contra os interesses nacionais, neste último caso, com determinação expressa para não se ausentar do país. Não se chega a uma resolução do impasse sobre as tarifas impostas aos produtos de exportação brasileiros pelos Estados Unidos. Prazos se exaurindo e prejuízos gigantescos no horizonte.  

Editorial: Geraldo Alckmin, o conversador da República.



É preciso fazer justiça ao vice-presidente Geraldo Alckmin. No bojo da crise que se instaurou, em razão das tarifas impostas pelos Estados Unidos aos produtos de exportação brasileiros, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, tem tentado ser um interlocutor confiável nas negociações para se chegar a bom termo em torno deste assunto. Segundo o próprio presidente Lula, que já o trata como o conversador da República, não se pode deixar de reconhecer o esforço do vice-presidente no sentido de se chegar a uma saída para o impasse. Na condição de vice-presidente e na condição de Ministro da Indústria e Comércio ele cumpriu bem o seu papel. A Casa Branca, no entanto, ignorou solenemente as suas tentativas de diálogo. 

Hoje, dia 26, matéria do jornal Folha de São Paulo observa que a Casa Branca considera que o Governo Lula não apresentou medidas concretas para uma equação do problema. Os acenos do Governo Brasileiro, portanto, foram insuficientes para construir algum consenso em torno do assunto. Uma grande interrogação precisa ser respondida: o que, afinal, o Governo dos Estados Unidos deseja do Governo Brasileiro? Esta é a grande questão. O que eles desejam nós não podemos dá. O que se sugere, se considerarmos o raciocínio de integrantes da família Bolsonaro, o que estaria em jogo seria uma anistia ao ex-presidente e sua credencial para disputar o próximo pleito presidencial. 

Lula até sugeriu que o presidente Donald Trump pode não está bem-informado sobre o que se passa no Brasil. O pior é que ele está. Quando uma crise parecida surgiu em relação ao México, a presidente Cláudia Sheinbaum, tomou medidas imediatas de enviar milhares de militares para a fronteira daquele país, no sentido de minimizar os problemas relativos à migração ilegal e o tráfico de drogas. O presidente Donald Trump aquiesceu e retomou as negociações. Ou seja, tem ser o que eles querem. Sabe-se nos bastidores desta crise que emissários americanos teriam se referido às reservas de minerais preciosos do país, assim como sobre acenos às empresas brasileiras para se instalarem naquele país, sob condições irrecusáveis.