Havia uma agenda administrativa na conversa mantida pelo prefeito do Recife, João Campos(PSB-PE), e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como eventual candidato ao Governo do Estado em 2026, o prefeito do Recife já começa a se inteirar sobre os principais problemas do estado, o que seria bastante natural. Essas questões estarão nos debates entre os postulantes ao Palácio do Campo das Princesas. Em suas andanças pelo Sertão, por exemplo, o prefeito se deparou com os problemas relativos às agrovilas de Petrolândia, já tratados aqui numa postagem. Essas agrovilas, por alguma razão, geralmente não atendem plenamente as necessidades dos novos assentados, conforme ocorreu igualmente em Alcântara, no Maranhão, realidade sobre a qual tivemos acesso.
Aliás, as soluções urbanas, senhores urbanistas, carecem de maiores estudos ou aprofundamentos, pois sempre esbararam nessas mesas dificuldades. Em décadas passadas, grandes conjuntos habitacionais foram construídos para abrigar contingentes populacionais, geralmente afastados dos grandes centros, onde permaneciam os empregos e as estratégias de sobrevivência dessas pessoas. Ademais, com o transporte público precário, tornava-se uma tarefa hercúlea trabalhar nos grandes centros. No caso de Petrolândia, contraditoriamente, a água irrigada estaria sendo desperdiçada antes de chegar aos locais de irrigação. Da próxima vez, por ocasião desses planejamentos, convidem o Raymond Unwin e Edward Hollamby para as mesas de conversações. Se houver alguém capaz de uma sessão de psicografia, o geógrafo Milton Santos também seria bem-vindo. As coisas são sempre pensadas unicamente do ponto de vista do interesse do capital e acabam produzindo esses problemas sociais.
João Campos já passou da fase das meras costuras para as amarras com nós. De preferência, nós de marinheiro, desses difíceis de desatar. Consolida sua aliança com o petista, mas assegura que ocupará os espaços correspondentes na chapa que deverá disputar as eleições presidenciais de 2026, ou seja, com Geraldo Alckmin na vice. Especula-se que o Planalto analisaria a possibilidade de uma candidatura de Geraldo Alckmin em São Paulo, principalmente na hipótese da confirmação do governador Tarcísio de Freitas na chapa presidencial conservadora às eleições de 2026. Realmente as pesquisas indicam que o ex-tucano ainda conserva boa parte de seu capital político naquele estado da Federação. A ideia seria a formação de uma dobradinha com Fernando Haddad, mas ambos desconversam sobre o assunto. Concretamente, acreditamos que nenhum dos dois tem algum interesse na disputa.
Sabendo-se das questões estratégicas envolvidas na disputa para o Senado Federal em 2026, a imprensa repercutiu bastante os conselhos que o jovem político pernambucano teria dado ao presidente Lula sobre aquelas eleições. Para os bolsonaristas, esta eleição seria até mais importante do que a ocupação da cadeira do Palácio do Planalto, uma vez que permitira a musculatura política necessária para aventar reveses na condenação praticamente sacramentada de bolsonaristas envolvidos na tentativa de golpe de Estado, assim como reunir as condições para fustigar o Poder Judiciário. Há uma lerdeza entre os governistas. Lula já entendeu que estamos diante de uma batalha campal, mas não se movimenta como deveria, como a situação exige.
Numa pesquisa realizada pelo Instituto Paraná Pesquisas, repercutida na revista Veja, apenas dois nomes aparecem como favoritos na disputa, que o caso de Humberto Costa, em Pernambuco, e Renato Casagrande, no Espírito Santo. Com as restrições impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, quem está assumindo essas missões é a esposa, Michelle Bolsonaro, que já circula pelo país consolidando essas alianças, como foi o caso da Paraíba, recentemente, quando bateu o martelo sobre o nome do ex-Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, como candidato ao Senado Federal, numa chapa liderada por Efraim de Moraes, que concorre ao Palácio Redenção, com o apoio do PL.
O conselho de João é sobre a necessidade que se impõe de se livrar da armadilha da polarização, marcada pelo ranhura ideológica, numa situação em que o Governo Lula teria muito mais a perder do que os bolsonaristas. Na percepção do socialista, o Governo teria melhores condições de competitividade se se colocasse numa condição mais ao centro do espectro político, menos radical, algo muito semelhante, aliás, à composição de forças que hoje orbita em torno do prefeito. Por este raciocínio, nome como o do atual senador Humberto Costa(PT-PE), perderia capilaridade na composição dos nomes que deverão compor sua chapa na disputa ao Senado Federal no estado. É verdade, embora haja muito arranjos ainda em jogo e o senador seja a bússola política do líder petista no estado. Neste caso, Lula tem duas cartas na manga. Pode condicionar o apoio ao socialista à inclusão de Humberto Costa como um dos postulantes ao Senado Federal, assim como exigir uma contrapartida para a manutenção de Alckmin como vice, em 2026.

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