pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Editorial: Os 200 anos do Ginásio Pernambucano.
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domingo, 27 de julho de 2025

Editorial: Os 200 anos do Ginásio Pernambucano.

Crédito da Foto: Acervo Fundaj. 


Há alguns anos, quando de visita a um colega professor do Ginásio Pernambucano, ele nos apresentou ao último professor catedrático daquela tradicional instituição de ensino pernambucana. Ainda se mantém a mística em relação àquele estabelecimento educacional, em razão do grande legado que a instituição representa para a educação no estado, mas as coisas mudaram muito desde a época em que, para habilitar-se como professor do colégio, o indivíduo precisava passar por um rigoroso processo de seleção, defendendo, inclusive, uma tese de livre-docência. A lista de ilustres personalidades que passaram pelos bancos do Ginásio Pernambucano é enorme. Políticos, empresários, escritores. Agamenon Magalhães, que foi interventor e governador do estado durante o Estado Novo, foi professor do Ginásio Pernambucano. 

O poeta Mauro Mota também exerceu o cargo de professor no órgão, defendendo uma tese sobre o cajueiro nordestino. Excepcional poeta, amigo de Gilberto Freyre, dirigiu por alguns anos os destino do então IJNPS, que viria a se transformar mais tarde em Fundação Joaquim Nabuco. Gilberto dava as coordenadas como Presidente do Conselho Deliberativo, mas, a rigor, o exercício de funções burocráticas - embora as tenha exercido ao longo de sua vida, inclusive na área de educação - sugere-se que não o agradava. Por essa época, em razão do grande reconhecimento e do prestígio intelectual obtido pelo sociólogo, existiam grandes especulações em torno dos dirigentes do órgão. Eles estariam à altura das responsabilidades? Teriam lastro acadêmico e intelectual para tanto? 

Neste sentido, conta-se um fato curioso. Especula-se que Mauro Mota costumava se "escudar", academicamente, como um pesquisador que havia realizado uma grande pesquisa sobre o nosso cajueiro. Era este o seu cartão de visita, o seu  "lugar de sujeito", algo mais convergente ao cargo que assumira. Até recentemente, líamos um artigo do poeta - sempre preferimos o poeta - sobre a origem de Casa Grande & Senzala, onde ele expõe fatos que nunca chegaram ao conhecimento dos pesquisadores da obra e da vida do sociólogo, como, por exemplo, um caderninho onde Gilberto costumava fazer suas anotações quando de suas andanças pelo engenho da avó materna, em São Severino dos Ramos. Gilberto tinha um caderninho de anotações, o que seria, alguns anos depois, transformado na texto de Casa Grande & Senzala. No artigo, o poeta conta os bastidores de sua relação com o sociólogo, como uma eventual confusão em relação à data exata de lançamento da obra clássica de Gilberto, assim como a confissão de que ele costumava "brincar" de engenho com o irmão Ulisses, no quintal da residência da família, no Recife. O Solar de Apipucos, grande referência sobre o intelectual, foi adquirido somente na década de 40.  

Outro grande amigo de Gilberto, o escritor Olívio Montenegro, também foi professor catedrático e diretor do Ginásio Pernambucano. Deixou em livro talvez o melhor texto de memórias sobre aquele colégio: Memórias do Ginásio Pernambucano. Outro grande amigo de ambos, o escritor paraibano José Lins do Rego, segundo alguns biógrafos, teria estudado no colégio, mas esta informação é dúbia, algo que não se confirma, uma vez que ele já teria vindo para o Recife com o propósito de ingressar na também tradicionalíssima Faculdade de Direito do Recife. Ambos, Gilberto e Olívio, exerceriam forte influência sobre a formação literária de José Lins do Rego, durante o processo que o sociólogo denominava de recifencização do escritor paraibano.    

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