Atribui-se ao antropólogo pernambucano Gilberto Freyre a criação do termo "urbanismo", durante uma série de conferências realizadas em São Paulo. De volta à província pernambucana, o mestre de Apipucos cunhou a expressão "inchaço" para se referir à ocupação do espaço urbano do Recife. Pelos idos da década de 20 do século passado, quando retornou de uma temporada de estudos nos Estados Unidos e Europa, já naquela época, Gilberto se queixava das intervenções urbanas na cidade. Apontava que até mesmo as árvores utilizadas para enfeitarem as ruas vinham de outros países, quando tínhamos soluções muito melhores por aqui. Já imaginaram o Recife repleto de árvores frutíferas da Mata Atlântica?
O Brasil tem um quadro de servidores públicos dos mais qualificados no mundo. Constitui-se numa falácia a afirmação de que a nossa máquina pública esteja inchada. Ao contrário, convivemos com uma grande carência de pessoal, inclusive em setores estratégicos, que desenvolvem políticas públicas fundamentais, como é o caso do IBAMA, do ICMBio, FUNAI, entre outros. Podem ter certeza de que o Ministério de Gestão e Inovação em Serviços Públicos conta com demandas enormes de reposição dos quadro de pessoal de diversas instituições públicas. O problema é que há alguns contingenciamentos. Há distorções em termos de salários e benefícios que, na medida do possível, com o empenho pessoal da ministra Esther Dweck, estão sendo corrigidos.
Por outro lado, o termo "inchaço" se aplica à máquina pública brasileira, principalmente quando nos referimos aos cargos de confiança, os chamados DAS's, que sempre foram muito questionados, sobretudo em relação ao seu montante. Pelos últimos cálculos, este número atinge o índice de 22 mil cargos, distribuídos pelos Três Poderes. Com a "militarização" da máquina ocorrida durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, muitas dessas funções foram delegadas aos militares, o que ampliou sensivelmente as críticas, estabelecendo-se a necessidade de enfrentamento do problema. É bem possível que a presença de militares nesses cargos tenham sido reduzidas, mas se esperara um pouco mais de um governo com o perfil da coalizão petista. Há controvérsias sobre o assunto, mas estima que entre 8 a 10 mil militares estavam ocupando cargos na máquina antes da chegada de Lula ao Planalto.
Matéria recente, depois de um levantamento realizado pelo Jornal O Globo - que cruzou dados de filiação partidária entre os ocupantes desses cargos - verificou-se que a ocupação dos postos passou a ter a primazia de membros filiados ao PT. Até aqui as coisas parecem óbvias, mas é preciso enfatizar que sempre se propôs a redução do número desses cargos como uma forma de enxugar as despesas. Pesquisa é uma coisa complicada. Afirmar que o PT, por exemplo, é campeão dessas nomeações por vinculação partidária talvez seja um equívoco se raciocinarmos, por exemplo, que os militares que incharam a máquina na gestão de Bolsonaro não eram filiados ao PL, mas mantinham vínculos orgânicos com o projeto que estava em curso. Simples assim.
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