pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO
Powered By Blogger

quinta-feira, 14 de junho de 2012



O XADREZ POLÍTICO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DO RECIFE EM 2012 – Dividido e exaurido política e administrativamente, o PT perde a oportunidade de representar os interesses da Frente Popular nas eleições de 2012.                             



José Luiz Gomes escreve


                                   Logo após a decisão da Executiva Nacional do PT, que confirmou o nome do senador Humberto Costa como candidato do partido às próximas eleições municipais do Recife, além das reações naturais do grupo ligado ao atual prefeito João da Costa, surgiram uma série de questionamentos sobre a candidatura do senador. Em seu primeiro pronunciamento, já como candidato, Humberto Costa acenou com a disposição de reestabelecer o diálogo com o prefeito e tentar a pacificação da Frente Popular, esperando, naquele momento, contar com o apoio decisivo do governador Eduardo Campos.

                                   À boca miúda, comentários das coxias do poder, no entanto, revelaram detalhes das tecituras políticas que culminaram com a indicação do nome do senador. José Dirceu, a eterna eminência parda do PT, teria festejado a decisão como uma estratégia de se contrapor às manobras ousadas do governador pernambucano, sabidamente um oponente do PT nos futuros embates presidenciais, supostamente após o seu concurso ao projeto de reeleição de Dilma Rousseff, em 2014, num acordo previamente acertado com Lula.

                                   Ainda é cedo para se falar em ruptura – acordos no plano nacional a impede - mas as relações entre o PT e o PSB, sobretudo em praças regionais, tendem a implodir a qualquer momento. O caso do Ceará, onde os Ferreira Gomes não conseguiram fechar um acordo com a prefeita Luizianne Lins, é apenas a ponta do iceberg. Embora Eduardo ainda preserve as suas excelentes relações com Lula, pontualmente, as fissuras localizadas já são bem evidentes. Na Paraíba, precisamente na capital João Pessoa, o PSB lançou o nome da Secretária de Planejamento da Prefeitura, Estelizabel Bezerra, que ainda não recebeu o apoio formal do PT, acordo firmado entre Lula e Eduardo Campos. No Recife, o processo político parece caminhar para o mesmo desfecho. Enquanto uma candidatura do PSB já consegue arregimentar apoios importantes dos partidos da base, o PT permanece isolado. Humberto Costa não consegue pacificar sequer a sua tendência, Construindo um Novo Brasil, inviabilizando-se como candidato.

                                   Soma-se a esse fato, a estratégia montada para conduzir o “Moleque” dos Jardins da Fundação Joaquim Nabuco ao Palácio do Planalto, uma costura complexa que impõem o alinhamento com um conjunto de forças políticas, algumas adversas do PT, hoje num grau de aproximação bem mais harmoniosos e gravitacionais com o governador de Pernambucano. Uma aproximação, aliás, que conta com o aval de figuras proeminentes da política nacional, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que se desmancha em elogios a Eduardo Campos, observando no “Moleque”, alguém que reuniria as condições políticas necessárias para desbancar o projeto político petista. Em condições até melhores do que os companheiros tucanos, que não conseguem alçar voos suficientes para atingir o Planalto.

                                   A pavimentação política implementada pelo Campo das Princesas é de corte essencialmente instrumental, deixando as delongas ideológicas para as discussões no boteco da esquina, nos finais de semana, de preferência acompanhadas de um caldinho sururu com ovo de codorna. Quem se alinha com o PMDB não pode falar em ralações de corte republicanas. Hoje, seu discurso é focado quase que exclusivamente no êxito administrativo do seu Governo, uma vitrine que ele expõe com orgulho. Quanto aos costumes políticos das carcomidas oligarquias políticas brasileiras... isso é assunto para as academias. No jogo pesado da realpolitik, perfeitamente dispensável. Aquele famoso diálogo com José Sarney, proposto pelo Blog do Jolugue, se houver, será, certamente, para dizer ao velho oligarca que não se preocupe sobre os seus “feudos” estatais, algo garantido pelos prévios acordos firmados com Michel Temer. Afinal, como diria Lula, Sarney é “especial”.

                                   Na província, o grupo de estrategistas do Campo das Princesas, passou a ter um cuidado bastante efetivo com a “joia da coroa”. Isso implicou numa preocupação mais acentuada com os “gestores” de cidades estratégicas do Estado – o que levou o PSB a deslocar homens de confiança e com experiência administrativa comprovada, como candidatos do partido nessas cidades; uma natural preocupação com os rumos do Recife, e, por fim, o perfil do gestor que deverá dar sequência ao ritmo de desenvolvimento do Estado, em 2014, substituindo o governador Eduardo Campos. Dois requisitos, no mínimo, deveriam compor esse perfil: estrita confiança política e capacidade gerencial para “tocar” o projeto iniciado por Eduardo Campos.

                                   É aqui que a porca petista “torce o rabo”, não oferecendo ao governador nenhuma credencial que o habilite a caminharem juntos, em projetos políticos que não convergem. Após as eleições de 2010, os nomes naturais que poderiam substituir Eduardo Campos em 2014 eram os dos senadores Humberto Costa e Armando Monteiro e o do Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, que havia aceitado o sacrifício em troca de um benefício mais adiante. A dinâmica política produziu, no entanto, mudanças substantivas nesse quadro, levando alguns desses atores a considerarem a possibilidade de caminharem em voos solos nos seus projetos de chegarem ao Campo das Princesas, disputando a sombra do baobá com o próprio Eduardo Campos. Essas movimentações, inclusive, geraram visivelmente áreas de atrito com o Campo das Princesas. Não são raros os comentários de estremecimentos da relação entre esses atores principais da Frente Popular.

                                   Agora, por exemplo, uma possível articulação envolvendo os nomes de Humberto Costa, João Paulo e Armando Monteiro – em torno do projeto deste último em ocupar o Palácio do Campo das Princesas, teria deixado o governador uma arara. Nos últimos dias, no entanto, os dois mantiveram um longo diálogo onde, aparentemente, conseguiram aparar as “arestas” das disputas entre o PSB e o PTB em diversas cidades do Estado.                        

                                   Tanto no que concerne ao Estado, em 2014, quanto à cidade do Recife, o PT acaba de inviabilizar-se politicamente. A decisão da cúpula da agremiação – sem a consulta aos principais atores da Frente Popular – teria deixado o governador bastante aborrecido. Humberto Costa, por diversas razões, não mais reuniria as condições políticas de pacificar o PT e muito menos a Frente Popular. Contrariamente do que se poderia supor, o anúncio do nome de Humberto Costa apenas reacendeu as movimentações do chamado “grupo alternativo” e do “dream team”   preparado sob medida pelo Campo das Princesas para entrar em campo. Trata-se de um movimento que nos parece irreversível. O “dream team” do Campo das Princesas reúne, supostamente, atores com as credenciais essenciais para “tocar’ o Recife, consorciado com o projeto presidencial do governador Eduardo Campos.

                                   Dentre esses nomes, o do Secretário de Planejamento Geraldo Júlio, sobretudo pelo seu perfil gerencial, começa a ganhar corpo no PSB. Geraldo é um dos nomes do “núcleo duro” do Governo Eduardo Campos, ou seja, do núcleo gestor da máquina, responsável pelo monitoramento dos resultados dos objetivos planejados. O Diário de Pernambuco de hoje, 14, em matéria de Aline Moura e Cláudia Elói, comenta, inclusive, que o governador Eduardo Campos apresentaria a Lula pesquisa indicando o desejo do eleitorado do Recife em torno de um gestor com esse perfil.

                                   Depois de 12 anos de poder, no final, o que se percebe é um esgotamento político e administrativo do PT na gestão da capital de Pernambuco. Recentemente, lembrando Icapui, no Ceará, cujos projetos educativos revolucionários tivemos o prazer de conhecer com nossos alunos, o pedetista Paulo Rubem comentava sobre esse assunto, enumerando alguns pontos onde o PT falhou na administração do Recife. Na observação do parlamentar, sustentada em dados confiáveis, o PT não teria dado respostas satisfatórias à população recifense em algumas áreas importantes, como educação, saúde, habitação, saneamento.

                                   O próprio PT – leia-se o grupo ligado ao ex-prefeito João Paulo, costuma creditar na conta de João da Costa esse fracasso. Não foram raros os momentos em João foi criticado por romper com um “modelo de gestão”, oriundo dos melhores momentos da gestão de João Paulo. Na realidade, não se pode negar que os petistas tentaram fazer uma autocrítica, mas isso é muito complicado na cabeça do cidadão. Humberto Costa, por exemplo, que possivelmente possuía severas críticas à gestão de João da Costa, veio à boca do palco para informar que suas divergências com o prefeito eram apenas no plano político, contingenciado por uma situação inusitada. Por diversas razões, não poderia criticá-lo. Como fazê-lo, se precisava de uma reaproximação? Como fazê-lo, se precisava defender sua gestão para credenciar-se a sucedê-lo e não macular a própria imagem PT, já bastante chamuscada?

                                   O PT cometeu inúmeros equívocos e agora torna-se difícil reverte essa situação. Já observando a terra ceder sob os seus pés, o senador Humberto Costa procurou Lula numa tentativa de se contrapor aos planos de Eduardo Campos. Eduardo tem uma ótima relação com Lula, mas é pouco provável que ceda nesse aspecto. No plano nacional, já teria fechado alguns acordos com Lula, indicando a ex-petista Erundina para concorrer como vice de Fernando Haddad nas eleições paulistas, mas, no Recife, já percebeu que o PT pode encaminhar a candidatura da Frente ao precipício, exigindo medidas saneadoras.  

                                    Lula, por sua vez, apesar da excelente relação com o senador Humberto Costa – desde o tempo da Brasília amarela, aquela que quebrava a caminho da terrinha da garoa – deverá concordar com Eduardo com a solução apresentada para evitar que a oposição reassuma o palácio Antonio Farias, num capital importante para os planos de ambos. Simples assim. Aos vencedores, Humberto, como diria Machado de Assis, as batatas.   



                         




Nenhum comentário:

Postar um comentário