O XADREZ POLÍTICO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DO RECIFE EM 2012 –
Dividido e exaurido política e administrativamente, o PT perde a oportunidade
de representar os interesses da Frente Popular nas eleições de 2012.
José Luiz Gomes escreve
Logo
após a decisão da Executiva Nacional do PT, que confirmou o nome do senador
Humberto Costa como candidato do partido às próximas eleições municipais do
Recife, além das reações naturais do grupo ligado ao atual prefeito João da
Costa, surgiram uma série de questionamentos sobre a candidatura do senador. Em
seu primeiro pronunciamento, já como candidato, Humberto Costa acenou com a
disposição de reestabelecer o diálogo com o prefeito e tentar a pacificação da
Frente Popular, esperando, naquele momento, contar com o apoio decisivo do
governador Eduardo Campos.
À
boca miúda, comentários das coxias do poder, no entanto, revelaram detalhes das
tecituras políticas que culminaram com a indicação do nome do senador. José
Dirceu, a eterna eminência parda do PT, teria festejado a decisão como uma
estratégia de se contrapor às manobras ousadas do governador pernambucano,
sabidamente um oponente do PT nos futuros embates presidenciais, supostamente
após o seu concurso ao projeto de reeleição de Dilma Rousseff, em 2014, num
acordo previamente acertado com Lula.
Ainda
é cedo para se falar em ruptura – acordos no plano nacional a impede - mas as
relações entre o PT e o PSB, sobretudo em praças regionais, tendem a implodir a
qualquer momento. O caso do Ceará, onde os Ferreira Gomes não conseguiram
fechar um acordo com a prefeita Luizianne Lins, é apenas a ponta do iceberg.
Embora Eduardo ainda preserve as suas excelentes relações com Lula,
pontualmente, as fissuras localizadas já são bem evidentes. Na Paraíba,
precisamente na capital João Pessoa, o PSB lançou o nome da Secretária de
Planejamento da Prefeitura, Estelizabel Bezerra, que ainda não recebeu o apoio
formal do PT, acordo firmado entre Lula e Eduardo Campos. No Recife, o processo
político parece caminhar para o mesmo desfecho. Enquanto uma candidatura do PSB
já consegue arregimentar apoios importantes dos partidos da base, o PT permanece
isolado. Humberto Costa não consegue pacificar sequer a sua tendência, Construindo
um Novo Brasil, inviabilizando-se como candidato.
Soma-se
a esse fato, a estratégia montada para conduzir o “Moleque” dos Jardins da
Fundação Joaquim Nabuco ao Palácio do Planalto, uma costura complexa que impõem
o alinhamento com um conjunto de forças políticas, algumas adversas do PT, hoje
num grau de aproximação bem mais harmoniosos e gravitacionais com o governador
de Pernambucano. Uma aproximação, aliás, que conta com o aval de figuras
proeminentes da política nacional, como o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, que se desmancha em elogios a Eduardo Campos, observando no “Moleque”,
alguém que reuniria as condições políticas necessárias para desbancar o projeto
político petista. Em condições até melhores do que os companheiros tucanos, que
não conseguem alçar voos suficientes para atingir o Planalto.
A
pavimentação política implementada pelo Campo das Princesas é de corte
essencialmente instrumental, deixando as delongas ideológicas para as
discussões no boteco da esquina, nos finais de semana, de preferência
acompanhadas de um caldinho sururu com ovo de codorna. Quem se alinha com o
PMDB não pode falar em ralações de corte republicanas. Hoje, seu discurso é
focado quase que exclusivamente no êxito administrativo do seu Governo, uma
vitrine que ele expõe com orgulho. Quanto aos costumes políticos das carcomidas
oligarquias políticas brasileiras... isso é assunto para as academias. No jogo
pesado da realpolitik, perfeitamente
dispensável. Aquele famoso diálogo com José Sarney, proposto pelo Blog do Jolugue, se houver, será,
certamente, para dizer ao velho oligarca que não se preocupe sobre os seus
“feudos” estatais, algo garantido pelos prévios acordos firmados com Michel
Temer. Afinal, como diria Lula, Sarney é “especial”.
Na
província, o grupo de estrategistas do Campo das Princesas, passou a ter um
cuidado bastante efetivo com a “joia da coroa”. Isso implicou numa preocupação
mais acentuada com os “gestores” de cidades estratégicas do Estado – o que
levou o PSB a deslocar homens de confiança e com experiência administrativa
comprovada, como candidatos do partido nessas cidades; uma natural preocupação
com os rumos do Recife, e, por fim, o perfil do gestor que deverá dar sequência
ao ritmo de desenvolvimento do Estado, em 2014, substituindo o governador
Eduardo Campos. Dois requisitos, no mínimo, deveriam compor esse perfil: estrita
confiança política e capacidade gerencial para “tocar” o projeto iniciado por
Eduardo Campos.
É
aqui que a porca petista “torce o rabo”, não oferecendo ao governador nenhuma
credencial que o habilite a caminharem juntos, em projetos políticos que não
convergem. Após as eleições de 2010, os nomes naturais que poderiam substituir
Eduardo Campos em 2014 eram os dos senadores Humberto Costa e Armando Monteiro
e o do Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, que havia
aceitado o sacrifício em troca de um benefício mais adiante. A dinâmica
política produziu, no entanto, mudanças substantivas nesse quadro, levando
alguns desses atores a considerarem a possibilidade de caminharem em voos solos
nos seus projetos de chegarem ao Campo das Princesas, disputando a sombra do
baobá com o próprio Eduardo Campos. Essas movimentações, inclusive, geraram
visivelmente áreas de atrito com o Campo das Princesas. Não são raros os
comentários de estremecimentos da relação entre esses atores principais da
Frente Popular.
Agora,
por exemplo, uma possível articulação envolvendo os nomes de Humberto Costa,
João Paulo e Armando Monteiro – em torno do projeto deste último em ocupar o
Palácio do Campo das Princesas, teria deixado o governador uma arara. Nos
últimos dias, no entanto, os dois mantiveram um longo diálogo onde,
aparentemente, conseguiram aparar as “arestas” das disputas entre o PSB e o PTB
em diversas cidades do Estado.
Tanto
no que concerne ao Estado, em 2014, quanto à cidade do Recife, o PT acaba de
inviabilizar-se politicamente. A decisão da cúpula da agremiação – sem a consulta
aos principais atores da Frente Popular – teria deixado o governador bastante
aborrecido. Humberto Costa, por diversas razões, não mais reuniria as condições
políticas de pacificar o PT e muito menos a Frente Popular. Contrariamente do
que se poderia supor, o anúncio do nome de Humberto Costa apenas reacendeu as
movimentações do chamado “grupo alternativo” e do “dream team” preparado sob medida pelo Campo das Princesas
para entrar em campo. Trata-se de um movimento que nos parece irreversível. O “dream
team” do Campo das Princesas reúne, supostamente, atores com as credenciais
essenciais para “tocar’ o Recife, consorciado com o projeto presidencial do
governador Eduardo Campos.
Dentre
esses nomes, o do Secretário de Planejamento Geraldo Júlio, sobretudo pelo seu
perfil gerencial, começa a ganhar corpo no PSB. Geraldo é um dos nomes do
“núcleo duro” do Governo Eduardo Campos, ou seja, do núcleo gestor da máquina,
responsável pelo monitoramento dos resultados dos objetivos planejados. O Diário de Pernambuco de hoje, 14, em matéria de Aline Moura e Cláudia Elói,
comenta, inclusive, que o governador Eduardo Campos apresentaria a Lula
pesquisa indicando o desejo do eleitorado do Recife em torno de um gestor com
esse perfil.
Depois
de 12 anos de poder, no final, o que se percebe é um esgotamento político e
administrativo do PT na gestão da capital de Pernambuco. Recentemente,
lembrando Icapui, no Ceará, cujos projetos educativos revolucionários tivemos o
prazer de conhecer com nossos alunos, o pedetista Paulo Rubem comentava sobre
esse assunto, enumerando alguns pontos onde o PT falhou na administração do
Recife. Na observação do parlamentar, sustentada em dados confiáveis, o PT não
teria dado respostas satisfatórias à população recifense em algumas áreas
importantes, como educação, saúde, habitação, saneamento.
O
próprio PT – leia-se o grupo ligado ao ex-prefeito João Paulo, costuma creditar
na conta de João da Costa esse fracasso. Não foram raros os momentos em João
foi criticado por romper com um “modelo de gestão”, oriundo dos melhores
momentos da gestão de João Paulo. Na realidade, não se pode negar que os petistas
tentaram fazer uma autocrítica, mas isso é muito complicado na cabeça do
cidadão. Humberto Costa, por exemplo, que possivelmente possuía severas
críticas à gestão de João da Costa, veio à boca do palco para informar que suas
divergências com o prefeito eram apenas no plano político, contingenciado por
uma situação inusitada. Por diversas razões, não poderia criticá-lo. Como
fazê-lo, se precisava de uma reaproximação? Como fazê-lo, se precisava defender
sua gestão para credenciar-se a sucedê-lo e não macular a própria imagem PT, já
bastante chamuscada?
O
PT cometeu inúmeros equívocos e agora torna-se difícil reverte essa situação.
Já observando a terra ceder sob os seus pés, o senador Humberto Costa procurou
Lula numa tentativa de se contrapor aos planos de Eduardo Campos. Eduardo tem
uma ótima relação com Lula, mas é pouco provável que ceda nesse aspecto. No
plano nacional, já teria fechado alguns acordos com Lula, indicando a
ex-petista Erundina para concorrer como vice de Fernando Haddad nas eleições
paulistas, mas, no Recife, já percebeu que o PT pode encaminhar a candidatura
da Frente ao precipício, exigindo medidas saneadoras.
Lula, por sua vez,
apesar da excelente relação com o senador Humberto Costa – desde o tempo da
Brasília amarela, aquela que quebrava a caminho da terrinha da garoa – deverá
concordar com Eduardo com a solução apresentada para evitar que a oposição reassuma
o palácio Antonio Farias, num capital importante para os planos de ambos.
Simples assim. Aos vencedores, Humberto, como diria Machado de Assis, as
batatas.
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