Embora as imagens daquelas crianças recolhendo material reciclável no
Canal do Arruda tenha chocado muita gente, todos sabem que, mesmo que se
encontre uma solução para aqueles quatros garotos, centenas de outros
estarão nos lixões, mangues e outros
canais do Recife, sempre com o mesmo propósito, ou seja, adotando
procedimentos por vezes desumanos, viabilizar as suas precárias
condições de sobrevivência. Comenta-se que o prefeito teria ficado
bastante chocado com aquelas cenas. Qual a origem dessa indignação do
prefeito? Foi uma preocupação de pai, de cidadão, de gestor de uma
cidade onde se permitem situações como aquelas registradas pelos
fotógrafos e jornalistas do Jornal do Commércio? Num dos nossos
últimos post comentei que o filósofo Denis Rosenfield teria se afastado
do PT gaúcho argumentando que eles, em 12 anos de poder, não havia
encontrado uma solução para duas dúzias de crianças que perambulavam
pelas ruas de Porto Alegre. Certamente, esse não teria sido o único
motivo, mas não deixa de ser interessante a observação do filósofo. Nos
permita, prefeito, mas a sua indignação ou comoção pode ser traduzida,
na realidade, como uma preocupação de natureza eleitoral. Foi exatamente
ali que o senhor iniciou o mutirão de limpeza ao assumir a Prefeitura
do Recife. De lá para cá, portanto, pouca coisa mudou. Outro aspecto
negativo para a gestão é essa foto circulando pelo mundo, o que atrai a
atenção para o problema, num momento em que o seu padrinho político move
montanhas para viabilizar-se como candidato às eleições presidenciais de
2014. Quem dera suas preocupações fossem de outra natureza. Isso é uma
grande vergonha. Faz pouco tempo, três crianças morreram numa das
favelas do Recife, queimadas dentro de um barraco. A mãe saiu para catar
latinhas de cerveja e deixou a maior delas encarregada de preparar o
cuscuz, utilizando álcool, uma vez que pobre não dispõe de quarenta e
cinco reais pra comprar um botijão de gás. Houve um incêndio a as crianças
morreram. Há alguns anos atrás, uma criança de 12 anos, foi morta a
pauladas, por traficantes, na cidade de Camaragibe. A criança não tinha
nome. Era conhecida por "Um real", o valor que cobrava para fazer
programas. Esse caso nunca foi esclarecido, mostrando a falência de instituições como a escola, a igreja, o Estado. Eu poderia estender esses
casos indefinidamente, mas não vou fazê-lo. Não precisa. Em cada beco,
em cada esquina, as pessoas conhecem situações semelhantes. Humanize-se,
prefeito.
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