Fui
submetido a uma bateria de questões, por um amigo-editor, sobre o resultado das
últimas eleições municipais no Brasil. Essas eleições ocorreram num ambiente de
profunda insegurança jurídica, de impunidade (em relação aos políticos “ficha suja”),
de um monopólio “partidário” dos meios de comunicação, do desgaste político do
PT e da esquerda, do crescimento do voto evangélico e, porque não dizer, de um
Estado de Exceção, capitaneado pelo
Polícia Federal e o ativismo da Magistratura.
Como apurou a mídia, as candidaturas mais
bem aquinhoadas financeiramente venceram ou foram para o segundo turno das
eleições. Os grandes partidos, sobretudo da centro-direita, aumentaram suas
bancadas. Os candidatos da igreja reformada chegaram ao segundo turno. De forma
que, pelo andar da carruagem, teremos legislaturas e executivos municipais mais
á direita, mais conservadores. Diria um pescador (não de almas ou de águas
turvas), o mar não está para peixe. Retrocedemos à época em que a nossa
política de sobrevivência é a defesa dos mínimos sociais, numa frente de
massas, diante das ameaças desse governo temerário, composta de aposentados,
trabalhadores, estudantes, funcionários públicos, donas de casa, pessoas sem-teto, sem emprego, sem escola
etc.
Não fosse a ida de Marcelo Freixo (PSOL)
para o segundo turno, no Rio de janeiro, contra o bispo da igreja universal, e
a ida de João Paulo, no Recife, contra o representante local da oligarquia
política que tanto nos infelicita aqui, dir-se-ia que a catástrofe política
teria se abatido de uma vez sobre o país, com
ou sem a benção do nosso senhor Jesus Cristo. Já o reflexo disso sobre
as eleições presidenciais e estaduais, daqui a dois anos, não prenunciam boas
novas. A depender do curso da economia (e da crise internacional), base
fisiológica de sustentação do atual mandatário presidencial, e da conspiração
dos partidos que o colocaram na cadeira da Presidente Dilma pode-se ter ainda
muitas surpresas desagradáveis nesse ínterim eleitoral. Fala-se em eleição
indireta, em 2017, já com pretensos candidatos.
Afirmei que
o ciclo político de centro-esquerda tinha se esgotado no Brasil, e que não
tinha aparecido alternativas fortes, consistentes, que pudessem se apresentar à
exaustão do ciclo político. O nome de Lula não pode ser essa única alternativa.
Sobretudo, em face das manobras e escaramuças do juiz Sérgio Morro, destinado como está a criminalizar o
PT e suas lideranças políticas. O PSOL ainda não tem a musculatura suficiente
para oferecer um nome e granjear alianças necessárias para tornar viável uma
candidatura presidencial. Tem um longo caminho a percorrer. Não acredito também
na viabilidade eleitoral de qualquer um dos
caciques do PSDB, apesar da vitória do empresário e marqueteiro João
Dória, eterno adulador dos tucanos.
Assim, se a
crise econômica perdurar, a
solerte invasão religiosa continuar, se uma certa classe media
reproduzir o noticiário venenosa da mídia golpista desse país e a ditadura do
Judiciário se manter, fora de toda e
qualquer controle constitucional, a porta estará aberta a todos os
aventureiros, messias, salvadores da pátria de todas as igrejas existentes. Nem
sempre a crise política e econômica, num ambiente de perda de confiança nas
instituições republicanas, é uma janela de oportunidade para candidaturas
progressistas e mais avançadas. Pode ser o atalho perigoso para o discurso da
frustração política, dos “outsiders”, dos que se proclamam não-políticos, mas
portadores da eficiência, da competência gerencial, da honestidade a toda prova
etc.
Se fosse religioso e frequentasse algum templo,
rezaria muito para que este tipo de
messias não aparecesse tão cedo. E que o apocalipse da democracia fosse
evitado.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
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