A partir de hoje e pelos próximos meses, estaremos dando início a uma série de artigos sobre as eleições municipais do Recife, em 2016. Os atores políticos já iniciaram uma intensa movimentação neste sentido e convém acompanhá-los, para não perdermos os lances principais desse xadrez político. Fizemos esse exercício nas eleições passadas, onde uma série de 30 artigos foram produzidos sobre o assunto, numa média de um a cada semana. Este ano, teremos alguns ingredientes novos, como a ausência do ex-governador Eduardo Campos, uma peça chave nos rumos daquelas eleições. Um outro fato que deve mexer bastante no tabuleiro político do Recife são as eleições de Olinda, que podem provocar algumas indisposições entre os atores da Frente Popular, principalmente entre os grêmios PSB e PCdoB.
Naquelas eleições, as de 2012, as relações entre esses dois partidos estavam muito bem resolvidas. Num momento de dificuldade da candidatura de Renildo Calheiros (PCdoB), o próprio Eduardo Campos foi até a Marim dos Caetés para apoiar o aliado. Há muito tempo a relação entre os dois partidos já passou da fase do só vou se você for. Como afirmei no dia de ontem, as ações do PCdoB hoje são orientadas exclusivamente pelo mais puro pragmatismo. Portanto, eles não terão o menor pudor em chutar o tabuleiro. Luciana Santos já aparece sorridente em outdoors, informando-se tratar-se da primeira mulher a presidir o Partido Comunista do Brasil. Olha o simbolismo, gente. Agrava o quadro o esboço de uma possível candidatura do escritor Antonio Campos, irmão do ex-governador, à Prefeitura daquela cidade. Ele nega, mas, a cada negativa, fica mais evidente sua intenção de disputar aquele pleito.
Confirmada sua entrada no pleito, possivelmente o município terá uma das disputas das mais renhidas. Não necessariamente pelo capital político de Antonio Campos - um escriba nunca testado nas urnas -mas, sobretudo, em razão do desarranjo que ele poderá proporcionar na correlação de forças locais, a partir de acordos mantidos - e até então preservados - que colocam a cidade como reduto dos comunistas. Ontem, os tucanos de alta plumagem do Estado deliberaram por uma provável candidatura de Daniel Coelho (PSDB) à Prefeitura do Recife, nas eleições de 2016. Construir consensos em política é uma coisa bastante complicada, mas, aparentemente, pode-se afirmar que as arestas estão temporariamente aparadas no ninho tucano.
O PT ainda não curou-se de sua "ressaca". Isso leva anos. As ações orquestradas pelo ex-governador Eduardo Campos em relação ao partido conseguiu a proeza de fragilizar bastante a agremiação no Estado. Matreiramente, Eduardo deu corda para que o partido se enforcasse, salvando, naturalmente, umas boas fatias de queijo do reino. O partido está com o prestígio mais baixo do que poleiro de pato em Pernambuco. As sondagens sobre os possíveis cargos federais a serem ocupados pelos ex-parlamentares da legenda continuam nas gavetas do Palácio do Planalto ou sob os auspícios da ABIN. Adormecem nos gabinete de Brasília.
O partido enfrentará alguns problemas estruturais nas próximas eleições municipais. Ainda não foi calculado, mas, certamente, o chamado "efeito coxinha" deverá pesar nas próximas eleições, sobretudo nos perímetros urbanos, onde a classe média faz um barulho enorme. A rejeição ao partido é grande entre alguns estratos sociais. Um outro aspecto diz respeito às dificuldades de ampliar ou mesmo manter algumas políticas sociais inclusiva em áreas estratégicas, em razão da crise econômica. Crise econômica que, inclusive, vem obrigando o governo Dilma a investir contra conquistas da classe trabalhadora, uma outro foco de problemas. Não sei se a nossa economia se recupera até outubro, mas alguns analistas juram que não.
Pelas últimas pesquisas, a erosão do capital político do PT chega a 12% da população, apesar de todo massacre da mídia. Este número cai para 8% aqui na região Nordeste, ainda o maior reduto eleitoral da legenda. A questão é saber para quem o PT irá falar nas próximas eleições, frente ao quadro esquizofrênico em que se transformou esse segundo mandato de Dilma Rousseff. Quando deveria se aproximar, o partido se afasta de suas tradicionais bases de apoio no movimento social. Em seu último Congresso, os mais radicais foram obrigados a engolir goela a dentro o receituário proposto por Joaquim Levi, o ministro da Fazenda. Certamente muito longe de suas históricas aspirações. Em resumo, o s militantes e o partido, oficialmente, se veem na contingência de apoiar um governo que não seria o seu.
Esse cenário econômico adverso, portanto, terá reflexos nas próximas eleições municipais, atingindo, sobremaneira, o Partido dos Trabalhadores. Um atenuante é que o eleitorado costuma observar as eleições do município com um foco bastante localizado. Mas, mesmo assim, o PT não deixou um bom legado quando passou pelo Palácio Antonio Farias. João da Costa saiu da Prefeitura do Recife com uma avaliação nada alvissareira. João Paulo, por sua vez, seu padrinho político, herdou parte deste espólio negativo. Os petistas mais otimistas asseguram que ainda é expressivo o capital político de João Paulo. Por inúmeras razões, tenho lá minhas reservas.
A gestão de Geraldo Júlio só vai bem mesmo nas pesquisas de avaliação de gestão, realizadas pelos grandes jornalecos. Basta ver a reação da população a essas pesquisas, quando elas são publicadas nas redes sociais. Como gestão municipal é "cotidiano", proliferam exemplos nas redes sociais de obras inacabadas, promessas não cumpridas, comprometimento da gestão com o capital (caso do Projeto Novo Recife), mobilidade urbana caótica, descaso com o meio ambiente etc. Não vai muito bem a gestão de Geraldo Júlio. Criou-se uma grande expectativa em torno de sua gestão e os resultados não corresponderam às expectativas criadas. Hoje ele se apressa para entregar algumas obras, para ter o que mostrar nos guias eleitorais, credenciando-se a um segundo mandato. Se tivermos uma oposição competente, ele não se reelege. Mas, como a nossa oposição não é necessariamente competente, essa possibilidade até existe.
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