O transporte público na região metropolitana do Recife é ruim. Parece
que estamos todos de acordo quanto a isso. Poderia passar uma tarde
demonstrando aqui porque o nosso transporte público é tão ruim. Parte
dessa responsabilidade, certamente, pode ser creditada ao poder público,
que não toma medidas para contornar esses problemas; que não exige das
operadoras do setor que seja dado um tratamento digno e
decente aos usuários; que não melhora as condições de mobilidade ou
desatravanca o trânsito, que vem se tornando caótico; que não investe em
políticas de infraestrutura que poderiam minimizar esses problemas; que
não adota medidas eficazes de combate à violência nos coletivos.
O
resultado, no final, é que temos um transporte público caro e ruim,
susceptível a todo tipo de ocorrências, como estas recentes, onde dois
jovens estudantes, em pouco mais de um mês, tornaram-se vítimas fatais
desse conjunto de desmandos, que o poder público parece assistir
passivamente. Nos dois casos em particular, há de de registrar a falha
humana dos dois condutores. Mesmo assim, embora atenuante, essa
circunstância é reflexo, igualmente, da crescente precarização do
trabalho dos rodoviários. Trata-se de uma categoria que, praticamente
todos os anos, passam alguns dias parados, reivindicando a melhoria das
suas condições de trabalho. Capital e poder público sempre empurram o
problema com a barriga, tratando alguns questões pontuais, mas deixando
de realizar o enfrentamento dos problemas estruturais do setor de
transporte urbano público.
Esses profissionais trabalham sob muita
tensão, sobretudo num trânsito caótico como o nosso. Nos dois casos
específicos, também não se pode desconsiderar, infelizmente, a
responsabilidade dos condutores. A jovem que morreu na Várzea, Camilla
Mirela Pires, ficou com a bolsa presa pelo lado de fora da porta. Porta
reaberta, carro em movimento, a jovem caiu, vindo a ser atropelada. Uma
sequência de erros macabra. No caso do jovem, Harlynton Lima, estudante
da UFRPE, depois de insistir para que o condutor do veículo abrisse a
porta, resolveu pendurar-se nela. Num movimento brusco do veículo, ele
não conseguiu segurar-se e caiu. Não entendo como o condutor deu partida
no ônibus com o jovem pendurado, pedindo para subir no coletivo. Uma
falha imperdoável. Nossos sentimentos à família desses dois jovens, com o
apelo ao poder público e à sociedade civil para que, juntos, possamos
tornar o transporte publico do Recife mais "humanizado".
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