Ontem, feriado de Corpus Christi, o Estado de Pernambuco foi acometido por uma espécie de festival de besteiras, para usarmos uma expressão de Stanislaw Ponte Preta. Num dado momento, parei de contá-las. Além da "Lei do Batuque", que deixou perplexo o mundo cultural do Estado, logo sem seguida observei que um vereador conhecido, entre outras coisas, havia creditado os problemas de aprendizagem dos alunos da Rede Municipal do Recife à ausência de climatização das salas de aulas. Ou seja, não querendo ser irônico e já sendo, tratava-se, tão somente, de frescura. Evidente que um ambiente apropriado, uma boa metodologia, ajudam bastante no processo de aprendizagem. Agora, querer tratar uma questão tão complexa como esta com essas "simplificações", não nos parece algo muito sensato para alguém que preside a Comissão de Educação da Casa de José Mariano.
Os alunos da rede municipal, aos longo dos últimos anos, vem amargando desempenho acachapante nos exames nacionais de educação, e isso se deve, entre outras coisas, a problemas estruturais, como as diretrizes de políticas públicas para o setor; altos índices de problemas de desvios de recursos públicos na pasta - possivelmente uma das secretarias mais visadas pelos gatunos do erário; certamente alguns curtos circuitos da relação do poder público municipal com o professorado; entre outros fatores. Penso que mais de uma vez as contas da secretaria foram bloqueadas, motivando uma série de transtornos para o alunado, que ficou sem receber até mesmo o material de estudo. Vamos pular algumas dessas "besteiras" lidas no dia de ontem e comentar sobre a tal Lei do Batuque.
Numa de minhas viagens ao Estado da Bahia, conheci as fundações Pierre Verger e a Fundação Gregório de Mattos. A fundação Gregório de Mattos fica bem localizada, numa das zonas centrais de Salvador, salvo algum lapso de memória, no entorno do Pelourinho. Já a Fundação Pierre Verger, embora possua um escritório no Pelourinho, sua sede fica na periferia de salvador, num bairro conhecido como Vasco da Gama. Na Fundação Gregório de Mattos a missão era registrar, para futuras análises, a legislação sobre a "Lei do Batuque", um conjunto de normas que, a rigor, coibia a livre manifestação dos cultos de origem afro-brasileiros, determinando um "toque de recolher", a partir de determinados horários, algo que se contrapunha à essência inerente a essas manifestações culturais/religiosas.
Aqui em Pernambuco, pelo andar da carruagem política, parece que voltamos à idade das trevas, aos períodos mais obscuros da história do país. Um flagrante retrocesso, algo que passou "batido" pela assessoria do deputado Ricardo Costa, que é da situação, pelo deputado do mandato popular, Edilson Silva e pelo staff da Secretaria de Cultura do Governo do Estado de Pernambuco. Essa secretaria reúne uma composição curiosa: um comunista "convertido" - há algo pior do que a conversão do pessoal do PCdoB? - e uma cidadã com PhD na escola política do finado "macielismo". Uma simbiose curiosíssima, por sinal, para ser mais preciso. Observando as postagens do blog, verifiquei algo curioso, uma ação policial reprimindo as manifestações dos maracatus rurais de Nazaré da Mata, algo que "pegou" muito mal, à época, para o Governo Eduardo Campos. Penso que o nosso Paulo Câmara vai muito mal de assessoria.
O aparato estatal passou todo "batido" nessa questão. Como diria o sociólogo Gilberto Freyre, neste país tudo é possível, inclusive as festividades profanas numa sexta-feira santa, como normalmente ocorre em Gravatá, reduto da burguesia católica pernambucana. Neste país, com uns tapinhas nas costas e um pouco de açúcar, tudo se resolve. Que história é essa do poder público querer coibir a livre manifestação dos artistas depois das 22:00 horas? Para algumas manifestações culturais, a exemplo do maracatus, agora é que começa a batucada. Como prometi, esse é o primeiro tópico do festival de besteiras que assolam o Estado neste feriado de Corpus Christi.
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