pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Editorial: Os conselhos de Gilberto Freyre
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terça-feira, 9 de novembro de 2021

Editorial: Os conselhos de Gilberto Freyre

 



Numa correspondência que este editor teve acesso - Não sem uma grande dificuldade para decifrar os "garranchos", pois a letra de José Lins do Rego não era de fácil compreensão - o escritor paraibano, demonstra uma certa preocupação com uma visita que o sociólogo Gilberto Freyre programara fazer ao seu estado, mais precisamente nas terras de sua família, para matar as saudades dos tempos áureos do período do ciclo da cana-de-açúcar na região Nordeste. Essa viagem ocorreu logo depois que o sociólogo voltou dos Estados Unidos, onde cumprira temporada de estudos em universidades americanas. 

Ao contrário das expectativas negativas do escritor paraibano,no entanto, o amigo sociólogo gostou bastante da viagem, percorrendo os partidos de cana que ainda restavam; comendo tapiocas, cuscuz com mel de engenho,cocadas e fatias do tradicional "Souza Leão', preparado por mucamas de mãos habilidosas; possivelmente fazendo um segundo batismo nas águas do Rio Paraíba, que cortava as terras do coronel Zé Paulino. Ambos mantinham uma grande amizade, sendo Gilberto Freyre uma espécie de mentor intelectual e literário de José Lins do Rego. Gilberto teria sido um leitor priviliegiado dos seus primeiros romances, assim como coube ao paraibano a leitura dos primeiros artigos do sociólogo trantando da questão regional. 

Tudo isso fica claro na correspondência trocada entre ambos. Numa dessas correspondências, inclusive, Gilberto Freyre, depois de ler um romance novo do paraibano, sugere que ele poderia estar se tornando repetitivo. Os conselhos de Gilberto a José Lins do Rego são frequentes nessas correspondências. Aliás, Gilberto Freyre costumava dar conselhos a muita gente. Seu biógrafo, Edson Nery da Fonseca, observa, num determinado momento, que o Solar de Apipucos recebia muitas pessoas com este propósito. Ele, Gilberto, respondendo aos seus interlocutores, recomendava sempre a leitura do seu livro Casa Grande & Senzala, onde, segundo ele, todas as responstas seriam encontradas.

No passado,depois de um processo de exaustivo de estudos e leituras, tivemos o cuidado de elaborar, minuciosamente, um esboço de uma possível reforma política para o país.Entendo que a empreitada foi um pouco pretenciosa. Nunca apresentamos esse esboço para ninguém e, a esta altura do compeonato, vai ficar entre aqueles documentos encontradas nos pertences do meu pai, se algum dia um filho mais zeloso resolver aprofundar-se nas leituras dos livros deixados na biblioteca. E, se o tivesse apresentado, possivelmente receberia os inevitáveis conselhos para mantê-lo em stand by, principalmente entre os atores do campo político, em tese, aqueles que deveriam estar mais interessados neste conteúdo. Não sei se há algum exagero na afirmação de que a reforma política seria a "mãe de todas as reformas', mas, certamente, que ela se configura entre as mais importantes. 

Sinto falta dos conselhos, que poderiam nos ajudar bastante sobre tais reflexões. Quando vejo um mandatário que foi eleito com uma plataforma anticorrupção aliar-se a um partido político comandado por alguém do ancien regime,condenado por corrupção, percebo que estamos vivendo o samba do criolo doido. Outra tragédia é esse tal de "orçamento secreto", coerentemente bastante questionado pelo pleno do STF, acompanhando as conclusões da ministra Rosa Weber. Se a coisa corre solta naquilo que, por dever de ofício, deve ser de conhecimento público, vocês podem imaginar o que não pode ocorrer com orçamentos que são mantidos em segredo, quebrando um dos pilares do serviço público: a transparência dos seus atos.  

Há alguns dias, li os comentários sobre uma data alusiva em relação ao sociólogo Gilberto Freyre, onde o autor observava que  ele havia dado conselhos, em momentos específicos - sobre assuntos envolvendo a região Nordeste - a dois ex-presidentes da República. Getúlio Vargas o havia consultado sobre a Legislação Trabalhista - de saudosa memória - assim como Juscelino Kubitchek, sobre a criação da SUDENE. Ao longo dos anos, tanto a Reforma Trabalhista quanto um órgão como a SUDENE perderam sua importância no atual contexto político, onde o capitalismo financeiro vem ditando suas diretrizes absolutamente esgarçante das relações de trabalho. Políticas regionais é outra grande utopia. Salvo melhor juízo, o antigo prédio imponente da SUDENE será incorporado pela UFPE.  

O missivista esquecera de observar,em seus comentários, que Gilberto Freyre também deu conselhos aos militares que governaram o país, depois do Golpe Civil-Militar de 1964. Neste caso específico, a pedido do político Marco Maciel, o sociólogo elaborou um prospecto sobre a reforma agrária no país.Conheço apenas este último , sobre a reforma agrária, que suscitou grande interesse do público leitor, quando divulgamos tal informação aqui pelo blog. Notadamente, um interesse de viés acadêmico. Ah! Como este editor ficou curioso em saber os conselhos que Gilberto Freyre deu a Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas, principalmente este último, em razão das rusgas que ele mantinha aqui na província com o interventor Agamenon Magalhães. Gilberto chegou a ser preso por duas vezes, por determinação do China Gordo, além de amargar um longo exílio em Portugal, depois da deposição do então governador Estácio Coimbra. Gilberto Freyre era o chefe de gabinete de Estácio Coimbra.  

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