Se houve uma aspecto positivo nesta pandemia da Covid-19, foi o fato de nos dedicarmos com maior afinco às leituras - algumas delas estavam adiadas há algum um tempo - assim como ter assistido às diversas lives de cursos e seminários que tivemos a oportunidade de acompanhar durante o confinamento, pois respeitamos rigorosamente todos os protocolos médicos tratando deste assunto. Felizmente, deixamos as clivagens ideológicas de lado,o que representou uma grande aprendizagem. Perdemos os pudores porque, se até o Moro foi acusado de comunista, imaginem o que já não disseram sobre este humilde escriba. Estamos literalmente perdidos( ou lascados, como diria o Gil do Vigor). Se Moro é comunista, precisamos urgentemente rever nossos conceitos. Vejam como essa onda de fake news contribuíram para a vulgarização de comportamentos e conceitos.
O mais importante deles foi um curso sobre marxismo e cinema,embora o cinema tenha surgido bem depois das ideias do filósofo alemão. Marx é contemporâneo da fotografia. Quem primeiro estabeleceu este nexo foi Walter Benjamin, deixando o caminho aberto para outros grandes nomes da arte cinematográfica. Nem Jean-Luc Godard escapou de seu período maoista - considerado por ele a melhor fase de sua carreira - embora Ken Loach, com sua crítica contundente ao capitalismo em suas diversas fases, tenha se transformado num grande ícone da esquerda. Salvo melhor juízo, contemporâneo de Vladimir Herzog, num período em que ambos passaram pela BBC.
Fizemos essa introdução para refletirmos sobre um texto bastante interessante, escrito durante aqueles períodos turbulentos que antecederam à Revolução Russa, Que fazer?, de autoria de Vladimir Lenin, um dos trabalhos mais amadurecidos do líder russo sobre os caminhos e alinças que os operários deveriam seguir para lograrem êxito no projeto revolucionário. Independentemente de conotações ideológicas, o título do texto de Lenin tornou-se uma referência quando tratamos de alguma situação complicada, de difícil solução. Lenin era uma pessoa bastante aplicada nos estudos e não dava um passo sem antes analisar, com bastante acuidade, a melhor estratégia a ser adotada. Aqui, a referência é unicamente em relação ao título, antes que façam alguma confusão.
À medida em que novas pesquisas de intenção de voto são divulgadas, o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro(Podemos), consolida sua posição de 3º lugar na disputa das eleições presidenciais de 2022. Ele crava 11% das intenções de voto, com pequenas variações entre os institutos, aparecendo à frente de nomes como Ciro Gomes(PDT-CE), que tem um eleitorado consolidado nas três eleições presidenciais que disputou até este momento. Nos últimos dias, fazia um esforço tremendo para conquistar parte desse eleitorado da chamada terceira via, que soma algo em torno de 30% dos votantes.
Investiu, sobretudo, em novas estratégias de comunicação, mas sem muito sucesso. A rigor, Ciro foi quem mais perdeu com a entrada de Sérgio Moro na disputa. Difícil afirmar que, sem Sérgio Moro na parada, ele conseguiria a proeza de conquistar o eleitorado Nem, Nem, sobretudo em relação ao fato de tratar-se de um candidato que tem um longo passado de disputas presidenciais, sempre comendo o mingau quente pelas beiradas, mas sem ampliar de forma significativa o seu eleitorado, tornando-se mais competitivo.Pode-se concluir que ele não atende às expectativas desse eleitorado.
Pesquisas qualitativas poderiam ajudar na finalidade de entender, de fato, essas motivações de resistência desse eleitorado ao nome do senhor Ciro Gomes. Há quem diga que o seu passado petista, de alguma forma, também o prejudicaria, enfim... É o seu staff de campanha quem precisa descobrir as motivações dessa rejeição ao seu nome. João Santana vem promovendo várias mudanças em sua estratégia de comunicação, ainda sem muitos resultados. Essa coisa de comunicação é algo muito sério. Isso faz lembrar as primeiras campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), onde ele relatava - durante suas falas no guia - a sua trajetória de vida, adversidade enfrentadas, como um operário que passou fome e perdeu um dedo durante jornada de trabalho como torneiro mecânico. Um brasileiro igualzinho a você. Somente com a entrada de Duda Mendonça na campanha é que ele percebeu que o imaginário do pobre não se identifica com outro pobre.
Tal identidade só seria construída depois que ele passou a usar terno italiano e cortar o cabelo no mesmo cabeleireiro de Sílvio Santos. Ciro tem uma interdição - qualquer que seja - que ainda não foi devidamente diagnosticada. Pelo andar da carruagem política, com a entrada do juiz Sérgio Moro na disputa, tal problema parece agravar-se. Se ele já estava batendo forte em Lula e em Bolsonaro, suas baterias agora estão direcionadas para o ex-juiz da Lava Jato, a quem já andou desafiando através de um programa de televisão.
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