pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Editorial: Fahrenheit 451 em São Paulo
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quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Editorial: Fahrenheit 451 em São Paulo



A carreira literária de Ray Bradbury só deslanchou depois do sucesso de Fahrenheit 451, livro que o escritor americano escreveu de um fôlego só, enfurnado numa biblioteca, de onde só sairia depois do livro concluído. Bradbury concedeu uma de suas raras entrevistas a um escritor pernambucano, que, à época, trabalhava para um instituição de pesquisa federal. Não foi fácil conseguir essa entrevista, pois o pernambucano precisou atravessar a barreira dos agentes do escritor, que sempre apresentavam alguma dificuldade de agenda, mas ela acabou saindo. 

Uma das perguntas mais emblemáticas da entrevista é quando o pernambucano questiona o escritor  americano sobre se ele queimaria algum livro. Bradbury responde enfaticamente que não. Nem Main Kampf,  de Adolph Hitler. Caberia ao próprio leitor separar o joio do trigo. O livro de Bradbury é ambientado numa sociedade distópica, autocrática, onde a função dos bombeiros é queimar os livros, obrigando os resistentes a decorarem as narrativas e as transmitirem para os companheiros. Em 2016, sob o bolsonarismo, tivemos um verdadeiro apagão no Ministério da Educação, traduzido numa guerra cultural. Abriu-se um precedente perigoso. Coincidentemente ou não, sugere-se que fizemos escola por ali. Livros passaram a ser censurados, retirados da lista de paradidáticos, concursos literários consagrados acabaram por não gostar de determinadas abordagens e romperam contratos com editoras. Mesmo diante das circunstâncias de uma trôpega retomada da normalidade democrática. 

Trôpega em vários sentidos, posto que os ânimos estão acirrados. Os grupos extremados no país continuam ativos, esperando a melhor oportunidade para dar um novo bote - ou seria um golpe? - nas instituições da democracia. As ervas daninhas continuam florescendo. Agora, por ocasião de sua presença na Bienal do Livro, além de ser chamado de mito, o candidato a prefeito da maior metrópole do país, Pablo Marçal, sugeriu que tiraria das escolar aqueles livros que tratam daqueles temas indesejáveis aos grupos de extrema-direita no país. Como diria o pernambucano Gil do Vigor, estamos lascados.  

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