A invasão policial do campus universitário da UFPE, em represália às
manobras privatizantes do atual reitor deflagrou uma verdadeira guerra
de e-mails dos professores do CFCH. Ora, aparece a expressão "vandalismo
na reitoria da UFPE", ora "crise da UFPE". O fato é que os docentes (e
aqueles que detêm cargos na instituição) se viram obrigados a se
manifestar sobre os acontecimentos policiais recentes, bem perto de si.
Mas há ou não há uma crise na UFPE?
Ao meu ver, há sim. Há uma crise de gestão e uma crise de confiança. Há
uma crise de gestão, porque o reitor eleito pela comunidade
universitária para realizar um determinado programa, vem realizando
outro. Se o programa com o qual ele foi eleito, com ajuda inclusive pelo
PC do B, era o de abrir democraticamente a universidade para os
reclamos, as demandas da sociedade; ele vem fazendo o contrário:
sensível, como tem se mostrado, aos apelos do governador do estado,
quando este pede a suspensão das aulas, para permitir que os alunos
assistam os jogos da mini-copa ou cede as instalações da UFPE para ser
estacionamento para os torcedores da Arena Pernambuco, ou sensível às
medidas "público-privadas" da Presidente Dilma Rousseff; ele parece
não ter se mostrado tão sensível assim aos apelos da própria comunidade
que o elegeu, quando se trata de cumprir os mandamentos constitucionais
da prestação pública-estatal dos serviços de saúde, sobretudo aos mais
carentes. Há indícios de que até a "formolização" dos cadáveres é
cobrada no HC!
Um gestor ou dirigente universitário não é eleito para ser um mero
"gerente" da política governamental em curso. É eleito para cumprir as
promessas de campanha e o que diz e rege o ordenamento jurídico do País.
Quando ele trai a confiança dos seus representados, passando para o
outro lado, pensando mais no cargo do que no mandato recebido,
instaura-se com razão uma grave crise de confiança e os seus
representados ficam sem saber o que vai ser daqui para frente. Quantas
vezes a polícia será convidada a reprimir manifestações estudantis, dos
funcionários ou dos próprios professores? - Até onde irão os limites à
liberdade de expressão e manifestação (críticas) dentro do campus da
UFPE? Quem define esses limites? O reitor? A corporação policial? A
própria comunidade universitária?
Houve sim uma quebra de contrato na Universidade Federal de Pernambuco.
Antes de hipotecarem automaticamente apoio a essas medidas de força e
de contenção policial às atividades legítimas, democráticas dos
estudantes e professores em prol da defesa do patrimônio público e da
assistência estatal aos mais necessitados, os apoiadores do reitor devem
pensar seriamente e essas medidas não se voltarão contra si, mais
adiante.
PS. É peciso dizer que instalou-se no campus universitário do Engenho do
Meio um verdadeiro "panopticum", uma gestão concentracionária que vem
fotografando alunos, comparando impressões digitais, impedindo os mesmos
de fazer a sua calorada etc. E o que é mais grave: a omissão de muitos
professores que ou concordam com tais medidas ou não querem se expor
publicamente, tendo seu nomes em documentos coletivos que condenam essas
ações. São os cripto-privatistas, que se escondem por trás do legalismo
e da meritocracia, para ir se dando bem nos editais de pesquisas,
publicações, bolsas etc.
Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
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